Hospital em SP usa furadeira doméstica em cirurgias; prática é proibida pela Anvisa
Unidade afirma que segue a legislação e utiliza equipamentos próprios para o ambiente hospitalar
Profissionais de saúde do Hospital Nossa Senhora do Pari, localizado no bairro do Canindé, em São Paulo, foram flagrados utilizando furadeiras domésticas para operar pacientes, segundo imagens obtidas pela TV Globo e divulgadas nesta quarta-feira, 5. O uso da ferramenta em procedimentos cirúrgicos é proibido desde 2008 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Os vídeos mostram a utilização de furadeiras comuns no centro cirúrgico. Algumas apresentam marcas de sangue e ao menos uma tem fios desencapados.
O hospital emitiu um comunicado sobre o assunto na manhã desta sexta-feira, 7. "A Associação Beneficente Nossa Senhora do Pari (HPARI) cumpre rigorosamente todas as exigências da Anvisa, bem como a legislação vigente. Os equipamentos utilizados no centro cirúrgico são próprios para uso hospitalar e possuem registro no órgão regulador, conforme vistoria realizada pela Vigilância Sanitária na data de 06/02/2025?, diz o texto.
A entidade acrescenta que é hospital de referência em ortopedia e traumatologia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), "adotando as melhores práticas para garantir a saúde e o bem-estar de seus pacientes", e que possui uma taxa de infecção de 1,3%. Por fim, afirma que "permanece à disposição das autoridades, reforçando sua postura de total transparência e responsabilidade".
O que diz o governo
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo afirmou que a fiscalização sanitária do hospital é de responsabilidade do Governo do Estado, por meio do Grupo Estadual de Vigilância Sanitária, vinculado à Secretaria Estadual de Saúde (SES), que também emite o alvará sanitário de funcionamento. No caso do Hospital Nossa Senhora do Pari, a licença está vigente até abril de 2025, segundo a pasta.
A SES informou que o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) realizou inspeção no Hospital do Pari na quinta-feira, 6. "Durante a fiscalização, foram encontrados equipamentos e materiais esterilizantes regulares, incluindo furadeiras cirúrgicas", disse em nota. A pasta acrescentou que a unidade foi notificada para apresentar documentos complementares solicitados pela autoridade sanitária e ressaltou que o CVS realiza fiscalizações periódicas em unidades de todo o Estado.
Proibidas pela Anvisa
De acordo com a nota técnica Nº 40/2017 da Anvisa, as furadeiras domésticas não apresentam controle de rotação, não podem ser esterilizadas e não estão protegidas do risco de descarga elétrica. Além disso, elas podem superaquecer ossos e tecidos, e sua lubrificação a óleo pode contaminar o campo cirúrgico.
"(...) A utilização de 'furadeiras domésticas' em cirurgias constitui infração sanitária, sendo passível de apuração por meio de processo administrativo sanitário, sem prejuízo da responsabilização civil e criminal cabível aos infratores, mediante legislação vigente", diz a norma.
