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Estado do Rio de Janeiro tem dez casos confirmados de febre oropouche

No Brasil, o número de casos já é quatro vezes maior do que o registrado em todo o ano de 2023; sintomas são similares aos da dengue, o que dificulta o diagnóstico

30 abr 2024 - 13h41
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Os casos de febre oropouche têm aumentado no Estado do Rio de Janeiro. Na última segunda-feira, 29, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) confirmou a ocorrência de quatro novos casos na região. Até o dia 18 deste mês, o Estado havia registrado seis casos, totalizando, agora, dez casos confirmados.

Os novos casos foram registrados nos municípios de Japeri, Valença, Piraí e Rio de Janeiro e seguem para investigação, a fim de verificar se são autóctones (transmissão local) ou importados (quando a transmissão ocorre em outro território).

De acordo com informações da SES-RJ ao Estadão, os casos confirmados anteriormente sugerem que a região Amazônica foi o local de infecção.

O primeiro caso registrado pelo Estado do Rio foi no final de fevereiro. O paciente se tratava de um homem de 42 anos, residente do bairro de Humaitá, na zona sul da capital. Segundo a SES, o paciente tinha histórico de viagem para o Amazonas e, portanto, o caso foi considerado como importado.

A doença é causada pelo vírus oropouche (OROV). Trata-se de um arbovírus, ou seja, ele é transmitido por artrópodes, especialmente por mosquitos. No caso, o principal vetor da doença é o Culicoides paraense, conhecido como maruim. Apesar disso, o Culex, uma das espécies de pernilongo, também pode transmitir a doença. A doença tem como uma de suas principais características o fato de ter sintomas semelhantes aos da dengue, o que pode dificultar o diagnóstico.

Casos no Brasil

No Brasil, o número de casos de febre oropouche quadruplicou. Enquanto em 2023 foram registrados 832 casos da doença, o Ministério da Saúde (MS) contabilizou 3.354 apenas nas quinze primeiras semanas de 2024.

Do total deste ano, a maioria dos casos são em residentes dos Amazonas, seguidos por Rondônia, Acre, Pará e Roraima. Fora da região Norte, Bahia, Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro foram os Estados com maior número de registros da doença.

De acordo com o MS, a descentralização do diagnóstico laboratorial para detecção do vírus nos Estados da região amazônica, onde a febre é considerada endêmica, é o principal motivo por trás do aumento no número de casos.

A situação, contudo, é mais complexa. Enquanto locais da Amazônia têm maior disponibilidade de exames, há outras regiões do Brasil sem possibilidade de detecção, o que sugere que o número de casos de febre oropouche seja muito superior ao registrado.

Além disso, outro fator que colabora com a subnotificação é a semelhança entre os sintomas da oropouche com a dengue. Além de serem arboviroses - grupo de doenças virais transmitidas principalmente por artrópodes, como mosquitos e carrapatos -, os dois quadros costumam causar dor de cabeça, nos músculos e articulações, além de náusea e diarreia.

Na análise da infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Emy Gouveia, o ritmo atípico da febre oropouche, assim como de dengue, também pode ser associado ao fenômeno El Niño e às mudanças climáticas, que resultam em temperaturas elevadas e chuvas irregulares, condições ideais para a reprodução dos mosquitos transmissores e, consequentemente, disseminação da doença.

Como ocorre a transmissão?

Segundo Emy, a transmissão ocorre quando um mosquito pica primeiro uma pessoa ou animal infectado e, em seguida, pica uma pessoa saudável, passando a doença para ela.

Existem dois tipos de ciclos de transmissão da doença:

  • Ciclo silvestre: nesse ciclo, os animais como bichos-preguiça e macacos são os hospedeiros do vírus. Alguns tipos de mosquitos, como o Coquilletti diavenezuelensis e o Aedes serratus, também podem carregar o vírus. O mosquito Culicoides paraenses, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, é considerado o principal transmissor nesse ciclo.
  • Ciclo urbano: nesse ciclo, os humanos são os principais hospedeiros do vírus. O mosquito Culicoides paraenses também é o vetor principal. O mosquito Culex quinquefasciatus, comumente encontrado em ambientes urbanos, pode ocasionalmente transmitir o vírus também.

"A diversidade de mosquitos que podem transmitir a doença é uma das preocupações mais sérias em relação ao aumento de casos no Brasil, especialmente em regiões além da Amazônia, uma vez que a disseminação pode ocorrer de maneira mais rápida, considerando que as pessoas também são hospedeiras", afirma Emy.

Como diferenciar a febre oropouche da dengue?

Além da diferença entre os mosquitos vetores, que, no caso da dengue, é o Aedes aegypti, as doenças se diferenciam pela evolução do quadro clínico.

Enquanto os pacientes diagnosticados com dengue podem desenvolver dores abdominais intensas e, nos casos mais graves, hemorragias internas, tais sintomas não são observados na febre oropouche. No caso da oropouche, especificamente, os quadros mais severos podem envolver o comprometimento do sistema nervoso central, ocasionando meningite asséptica e meningoencefalite, sobretudo em pacientes imunocomprometidos.

É importante destacar que, embora possa haver complicações graves, não há registros de mortalidade pela febre oropouche. Vale ressaltar também que, diferente da dengue, ainda não há imunizantes específicos para essa doença.

Como é o tratamento?

De acordo com a especialista, ainda não há um medicamento específico para tratar a febre oropouche. Por isso, o tratamento é de suporte. Ou seja, costumam ser administradas medicações para dor, náuseas e febre, além da indicação de hidratação e repouso.

Outra diferença em relação à dengue é que a febre oropouche não possui contraindicação de medicamentos. Então, a administração de anti-inflamatórios é liberada. Mas, para isso, é essencial que exista uma diferenciação do quadro clínico, já que a administração de certos medicamentos durante a dengue pode agravar a situação do paciente, ocasionando inclusive quadros hemorrágicos.

Como prevenir?

De acordo com o Ministério da Saúde, as formas de prevenção incluem:

  • Evitar áreas onde há muitos mosquitos, se possível;
  • Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplique repelente nas áreas expostas da pele, especialmente nas regiões com maior número de casos;
  • Manter a casa limpa, removendo possíveis criadouros de mosquitos, como água parada e folhas acumuladas;
  • Se houver casos confirmados na sua região, é recomendado seguir as orientações das autoridades de saúde local para reduzir o risco de transmissão, como medidas específicas de controle de mosquitos.
Estadão
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