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'Emoção não é coisa mística, é biológica', diz médico sobre a importância dos cuidados paliativos

Para Daniel Neves Forte, além dos sinais físicos, o medo e o sofrimento de pacientes com doenças que ameaçam a vida também merecem cuidado

21 out 2025 - 13h20
(atualizado às 16h36)
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Os cuidados paliativos são uma competência baseada em evidências para cuidar do sofrimento de pacientes com doenças que ameaçam a vida, disse Daniel Neves Forte, médico intensivista e paliativista, durante entrevista no Summit Saúde e Bem-Estar - Os desafios de viver mais, promovido pelo Estadão nesta terça-feira, 21, em São Paulo.

"Tratar da doença é uma coisa, cuidar do sofrimento é outra", diferenciou o especialista, livre-docente em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e ex-presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP).

A repórter especial Fabiana Cambricoli entrevista o paliativista Daniel Neves Forte no Summit Saúde e Bem-Estar
A repórter especial Fabiana Cambricoli entrevista o paliativista Daniel Neves Forte no Summit Saúde e Bem-Estar
Foto: Divulgação/Estadão / Estadão

"A emoção não é uma coisa mística, é biológica", acrescentou o médico, ressaltando que os pacientes que tratam não apenas a doença, mas têm também as emoções e o sofrimento cuidados tendem a ter mais anos de vida — desde que a atenção a esses aspectos seja dada desde o início do tratamento.

"Se esse cuidado começa lá no fim, (o paciente) não consegue colher beneficio. Se começa junto com o diagnóstico e consegue cuidar do medo, da dor, da família, ele tem todos os benefícios, inclusive de sobrevida", destacou Forte.

Nesse sentido, além de controlar os sintomas físicos e a dor, é importante a equipe atuar em prol do controle dos fatores emocionais, como o medo, e incentivar a esperança.

"Eu cansei de ver pessoas que estão morrendo e dizem 'acho que vou ficar bem', 'tenho esperança num milagre'. Às vezes, todo mundo fica desesperado, achando que a pessoa não entendeu nada (sobre sua situação), mas não. Isso é esperança. É legítimo, é humano, não tem nada de errado. Em vez de reagir com medo à esperança, temos que aprender a nos conectar com ela", defendeu.

Para todos os profissionais de saúde

Para Forte, o cuidado paliativo não deve ser feito somente pelo paliativista, mas por todos os profissionais de saúde, que devem incorporar conhecimentos da área na sua prática.

"O grande impacto será quando todos os profissionais de saúde aplicarem isso no seu dia a dia", disse.

A competência se tornou obrigatória no ensino de medicina, medida que ele avaliou como um ponto de partida para ampliar o cuidado paliativo em outras áreas, mas ainda há entraves. "Nem todas as escolas médicas estão de acordo e mesmo aquelas que estão nem sempre têm profissional qualificado (para o ensino do cuidado paliativo)", comentou.

Crescimento dos cuidados paliativos

Outra medida para aumentar a aplicação da abordagem foi a aprovação, em 2024, da Política Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP). Porém ela ainda não virou realidade para a maioria dos pacientes e seus familiares, conforme mostrou o Estadão.

Apesar do ritmo em que as ações previstas na PNCP vêm sendo implantadas, Forte afirmou que o País, que até pouco tempo estava atrás de vizinhos latino-americanos, caminha para se tornar um exemplo. "Nos últimos 15, 20 anos, (os cuidados paliativos) têm crescido exponencialmente. Estamos virando referência para outros países do mundo."

Eutanásia: 'Brasil não está pronto'

Na entrevista à repórter especial Fabiana Cambricoli, o médico também falou sobre a eutanásia na última semana, o Uruguai passou a fazer parte da lista de países que permitem o procedimento.

"Do ponto de vista da ideia, eu sou completamente a favor. É um direito individual, uma liberdade de autonomia que pode ser garantida, mas precisa ter contexto", disse Forte.

Para ele, antes da adoção da prática, é preciso que os pacientes tenham acesso a um cuidado paliativo de qualidade, com o controle da dor em todos os seus aspectos. "A pessoa que está com dor está desesperada, ela pede a eutanásia. Se a gente não tiver um bom controle da dor física e emocional, não dá para falar em eutanásia", declarou.

A garantia da recusa do tratamento é outra premissa fundamental para que um país adote a prática.

"Uma pessoa competente, livre e esclarecida deveria ter — e não tem no Brasil — o direito de recusar qualquer tratamento. Se ela está completamente livre, esclarecida, informada, sabe o risco-benefício e fala 'eu não quero', ela não deveria ser obrigada (a ser submetida ao tratamento) quando perde a capacidade de decisão, que é o que se recomenda hoje", acrescentou.

Estadão
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