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Antiviral remdesivir não deve ser usado no tratamento da covid-19, diz OMS

Painel de especialistas da organização afirma que remédio não teve efeito significativo na melhora dos pacientes

20 nov 2020 - 14h27
(atualizado às 19h08)
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SÃO PAULO - A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou nota nesta quinta-feira, 19, em que se posiciona contra o uso do antiviral remdesivir no tratamento de pacientes hospitalizados com covid-19. O remédio era visto como um dos mais promissores tratamentos contra a doença no início da pandemia, mas até agora não demonstrou resultados robustos em estudos clínicos.

Em um artigo publicado no British Medical Journal, um painel de especialistas da organização afirma que o uso do remédio não é recomendado pois não há evidência de que ele aumente a chance de sobrevivência ou diminua o risco de ventilação mecânica.

"O remdesivir tem recebido atenção mundial como um tratamento potencialmente eficaz para casos graves de covid-19 e é cada vez mais usado para tratar pacientes hospitalizados. Mas seu papel na prática clínica permanece incerto", disse a organização.

Em outubro, o estudo Solidarity, realizado com o apoio da OMS e desenvolvido para testar potenciais drogas contra a doença, já havia concluído que o remdesivir, a hidroxicloroquina e outros dois antivirais tiveram pouco ou quase nenhum efeito sobre os tempos de internação ou chances de sobrevivência de pacientes da covid-19.

No mesmo mês, a agência que regula drogas e medicamentos nos Estados Unidos (FDA) concedeu o registro para o medicamento, autorizando, assim, seu uso em pacientes hospitalizados com coronavírus.

De acordo com a OMS, a posição atual de desaconselhar o uso do medicamento é amparada em uma nova revisão de evidências que avaliou o uso de diversos possíveis tratamentos para a covid em quatro estudos clínicos randomizados internacionais que, juntos, envolveram mais de 7 mil pacientes internados.

"Depois de revisar minuciosamente essas evidências, o painel de especialistas da OMS, que inclui especialistas de todo o mundo, incluindo quatro pacientes que tiveram covid-19, concluiu que o remdesivir não tem efeito significativo na mortalidade ou em outros resultados importantes para os pacientes, como a necessidade de ventilação mecânica ou o tempo de melhora clínica", afirmou a organização.

A OMS ressalta que embora não haja, até o momento, evidência da eficácia do remédio, isso não significa que ele não possa ter benefício para alguns pacientes. No entanto, diante da falta de evidências, dos possíveis riscos associados ao uso do remédio e do seu alto custo, o painel de especialistas julgou adequado recomendar que ele não seja utilizado no momento. Mas apoiou a realização de mais estudos clínicos sobre o tema.

Fabricante do remédio questiona posicionamento da OMS

Após a publicação da recomendação pela OMS, a Gilead Sciences, biofarmacêutica fabricante do remédio, divulgou nota em que refuta o posicionamento da OMS e afirma que o uso do remédio em pacientes hospitalizados se baseia nas evidências robustas de múltiplos estudos randomizados e controlados publicadas em periódicos revisados por pares que demonstram os benefícios clínicos de Veklury (nome comercial do remdesivir), como uma recuperação significativamente mais rápida, que pode liberar recursos hospitalares limitados".

A empresa ressaltou ainda que a utilização do remédio está nas diretrizes de organizações confiáveis, como Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e a Sociedade de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, Japão, Reino Unido e Alemanha e que já conta com aprovações ou autorizações em aproximadamente 50 países.

De acordo com a Gilead, os benefícios do remédio foram demonstrados em três estudos clínicos randomizados e controlados, incluindo um estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, o padrão ouro para avaliar a eficácia e a segurança de medicamentos experimentais. "O estudo ACTT-1 do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) mostrou que Veklury leva a uma recuperação cinco dias mais rápida em pacientes hospitalizados em geral, e a uma recuperação sete dias mais rápida em pessoas com necessidade de suporte com oxigênio no período basal, em comparação com placebo".

Por fim, a companhia reclamou que o estudo Solidarity, conduzido pela OMS para avaliar essa e outras drogas no tratamento da covid-19, não tiveram todos os resultados disponibilizados nem foram revisados por pares.

Estadão
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