Burnout: Estes funcionários ficaram doentes, mas especialista mostra como ser produtivo com saúde
Profissionais relatam dor de cabeça, taquicardia e insônia; especialista diz como é possível ter produtividade sem ameaçar saúde mental de trabalhadores
Ana* (nome fictício), 56 anos, trabalha com atendimento ao público em um ambiente fechado, das 8h às 17h. Ela enfrenta um longo deslocamento diário, que inclui pegar dois metrôs e buscar a filha na escola. Há 17 anos no mesmo emprego, revela que começou a notar alguns sintomas nos últimos cinco anos: dores de cabeça, taquicardia e insônia. Além disso, o quadro de exaustão a fez desenvolver problemas estomacais, associados à dificuldade de se alimentar de forma adequada durante o dia.
Embora não tenha recebido um diagnóstico formal, pois não procurou ajuda médica, o caso da profissional não é isolado: estima-se que 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome de burnout, segundo pesquisa realizada pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt).
O especialista afirma que essa atitude gera um ciclo vicioso. Na prática, o cérebro fica sobrecarregado e recorre ao modo automático de pensar. Como resultado, o profissional tende a reduzir a capacidade de tomada de decisão e de concentração no dia a dia.
A combinação desses fatores com o ambiente acelerado impulsionado pela tecnologia aumenta a ansiedade e a sensação de sobrecarga.
Profissional foi parar no hospital após exaustão no trabalho
A empreendedora Júlia Santos, de 28 anos, decidiu pedir demissão há pouco mais de seis meses, após uma série de episódios de ansiedade. Ela conta que, mesmo cansada, não conseguia dormir mais do que cinco horas por noite e começou a ter crises frequentes antes de ir ao trabalho.
"Eu travava, não conseguia me movimentar e precisava de ajuda para me mexer", relata.
Júlia, que atuava como coordenadora de uma clínica de saúde, enfrentava cobranças além das responsabilidades exigidas pelo cargo. "Sempre entregava além do previsto, nunca fazia só o que me pediam, minha equipe também tinha um bom desempenho", desabafa.
As novas ordens envolviam aumento da carga horária sem consulta prévia e demandas extras nos fins de semana.
O estopim aconteceu após ir parar no hospital devido uma taquicardia. Logo depois, recebeu o diagnóstico de burnout e decidiu largar o emprego. A empresa deu a opção de voltar, mas ela migrou de área e abriu uma loja de roupas online.
Apesar de não estar mais no antigo ambiente de trabalho há meses, Júlia afirma que ainda precisa fazer terapia e tomar remédios para controlar a ansiedade.
Já Ana* está aposentada desde outubro do ano passado, mas segue trabalhando devido ao valor da aposentadoria não suprir suas necessidades. Formada na área da educação e com experiência em terapia familiar, planeja migrar para uma área que ofereça mais flexibilidade.
É possível ter alta performance sem chegar à exaustão?
O especialista Charles Betito afirma que é preciso adotar estratégias eficazes antes mesmo de notar sintomas de exaustão. Ele pondera que, para manter alta performance no trabalho sem chegar à exaustão ou burnout, é essencial saber identificar e gerenciar os fatores que contribuem para o estresse crônico.
No caso dos profissionais, é fundamental reduzir o excesso de estímulos, controlar o uso de redes sociais e estabelecer limites entre vida pessoal e profissional. Betito também indica:
- Focar em uma tarefa por vez e evitar distrações no trabalho
- Dormir bem (mais de sete horas por noite)
- Incorporar pequenas pausas ao longo do dia
- Definir horários para o trabalho e evitar responder mensagens fora do expediente
- Praticar atividades físicas
- Não atribuir longas jornadas de trabalho à alta performance
Já as empresas precisam desenvolver uma cultura organizacional que respeite o tempo de descanso e evite a cultura da hiperdisponibilidade, alerta o especialista.
O papel das empresas para reduzir os níveis de exaustão
Para o especialista, as empresas devem adotar medidas inclusivas que sejam capazes de evitar casos de exaustão. Ele alerta que a gestão tóxica e a falta de transparência contribuem para que os colaboradores não se sintam valorizados, pertencentes ou conectados com o propósito do trabalho.
Charles Betito ressalta que o primeiro passo para a mudança é treinar as lideranças.
O excesso de interrupções, notificações e reuniões sem propósito também potencializa a perda de foco e o esgotamento, alerta o especialista, acrescentando que ambientes mais organizados, com regras estruturadas que evitem a sobrecarga são passos para mitigar os níveis de exaustão.
Confira outras dicas recomendadas pelos especialistas para as empresas:
- Treinar lideranças: capacitar líderes para desenvolver empatia e entender o funcionamento da mente humana.
- Criar um ambiente de trabalho saudável: reduzir interrupções e distrações, como reuniões desnecessárias e excesso de notificações. Vale estabelecer regras para o uso de ferramentas de comunicação fora do horário de trabalho.
- Promover a segurança psicológica: garantir que os colaboradores se sintam pertencentes ao grupo, valorizados e respeitados. Isso inclui criar um ambiente onde as pessoas possam expressar suas opiniões sem medo de represálias.
- Implementar práticas de gestão de energia: incentivar pausas regulares durante o dia de trabalho. Exemplos: oferecer programas de bem-estar, como aulas de mindfulness, yoga ou ginástica laboral.
- Reestruturar reuniões e processos: promover reuniões com pautas claras e horários definidos para começar e terminar.
