Burnout corporativo segue em alta em 2025
Alta nos afastamentos por transtornos mentais pressiona empresas a rever metas, gestão emocional e cultura de trabalho no fim do ano
Mesmo após o pico observado no período pós-pandemia, o burnout corporativo continua entre os principais desafios das empresas brasileiras em 2025, com dezembro se consolidando como um mês crítico para o adoecimento emocional no trabalho.
Dados mais recentes do Ministério da Previdência Social, consolidados ao longo de 2025 com base nos registros de 2024, mostram que mais de 440 mil trabalhadores foram afastados por transtornos mentais e comportamentais, um aumento de 67% em relação a 2023.
Os meses finais do ano concentram parte expressiva desses afastamentos, impulsionados por sobrecarga, pressão por metas e acúmulo de funções.
Dezembro funciona como gatilho para o esgotamento emocional
Para Danilo Suassuna, doutor em Psicologia e diretor do Instituto Suassuna, o fim do ano segue atuando como um gatilho estrutural dentro das organizações.
"Dezembro reúne fechamento de metas, avaliações de desempenho, incertezas econômicas e redução de equipes por férias. Em 2025, com empresas mais enxutas e cobrança elevada por eficiência, esse cenário ficou ainda mais delicado", afirma.
Segundo ele, o burnout não surge de forma repentina. O mês apenas expõe um desgaste acumulado ao longo do ano, especialmente em ambientes que normalizam jornadas extensas e disponibilidade permanente.
Burnout é reconhecido como síndrome ocupacional
Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma síndrome relacionada ao trabalho, o burnout é caracterizado por exaustão emocional, distanciamento mental das atividades profissionais e queda significativa de desempenho.
A OMS estima que depressão e ansiedade gerem perdas globais superiores a US$1 trilhão por ano em produtividade. No Brasil, dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho indicam que os transtornos mentais já disputam o topo das causas de concessão de auxílio-doença, superando problemas osteomusculares em diversos setores.
O problema não é sazonal, mas estrutural
De acordo com Suassuna, tratar o burnout como algo restrito a dezembro é um erro recorrente.
"O fim do ano não cria o burnout, ele apenas revela um colapso previsível quando a cultura organizacional ignora limites humanos. Quando o desgaste é constante, o corpo e a mente acabam cedendo", explica.
Em 2025, cresce a diferença entre empresas que tratam saúde mental como estratégia e aquelas que ainda apostam em ações pontuais, sem continuidade.
Empresas que cuidam da saúde mental têm melhores resultados
Relatório atualizado do Great Place to Work, divulgado neste ano, mostra que organizações com políticas consistentes de bem-estar emocional registram até 34% menos rotatividade e ganhos de produtividade que podem chegar a 25%, além de menor incidência de afastamentos prolongados.
Entre as medidas consideradas prioritárias estão:
-
revisão realista de metas de fim de ano;
-
comunicação clara sobre prioridades;
-
respeito efetivo a férias e horários de descanso;
-
capacitação de lideranças para identificar sinais precoces de sofrimento psíquico.
"O gestor não precisa diagnosticar, mas precisa perceber quando alguém não está bem e agir antes que o adoecimento se instale", destaca o psicólogo.
Hiperconectividade agrava quadros de ansiedade e burnout
Outro fator crítico é acultura da hiperconectividade, intensificada pelo trabalho híbrido. Segundo Suassuna, muitos profissionais seguem sem limites claros entre vida pessoal e trabalho.
"Quando essa lógica se estende a dezembro, o corpo entra em estado contínuo de alerta, favorecendo quadros de ansiedade, insônia e burnout", explica.
Cuidar da saúde mental é também estratégia de negócio
Além do impacto individual, o adoecimento mental afeta diretamente os resultados das empresas. A OMS estima que cada dólar investido em programas de promoção da saúde mental gera retorno médio de quatro dólares, considerando produtividade e redução de custos indiretos.
"Não se trata apenas de cuidado humano, mas de sustentabilidade do negócio", avalia Suassuna.
Para o especialista, o fechamento de 2025 coloca as empresas diante de uma escolha clara: repetir o ciclo de exaustão no fim do ano ou usar dezembro como momento de ajuste, revisão de práticas e preparação de um novo ciclo mais saudável.
"Ignorar a saúde mental hoje é assumir um risco operacional relevante", conclui.