Revolucionário! Primeiro transplante de córnea impressa em 3D é realizado em Israel
Procedimento inédito realizado em Israel usa células humanas e impressão 3D para criar uma córnea funcional, abrindo caminho para reduzir filas e ampliar o acesso ao transplante
Um avanço inédito na medicina regenerativa acaba de abrir novas perspectivas para milhões de pessoas que aguardam por um transplante de córnea. Médicos do Centro Médico Rambam, em Haifa, Israel, realizaram o primeiro implante bem-sucedido de uma córnea totalmente biofabricada por impressão 3D. A paciente, uma mulher de 70 anos que havia perdido a visão de um dos olhos, voltou a enxergar após o procedimento.
Batizado de PB-001, o implante marca um momento histórico na oftalmologia e surge como uma possível resposta a um dos maiores desafios da área: a escassez global de córneas doadas.
Um problema mundial: falta de tecido para transplante
Atualmente, o transplante de córnea depende quase exclusivamente da doação humana, e a oferta está longe de atender à demanda. Estimativas internacionais apontam que, para cada 70 pessoas que precisam da cirurgia, apenas uma córnea está disponível. No Brasil, mais de 33 mil pacientes aguardam na fila pelo procedimento.
Em muitos países, a ausência de bancos de olhos estruturados e políticas eficientes de doação torna o acesso ainda mais limitado, deixando milhares de pessoas convivendo com a perda visual evitável.
Como funciona a córnea bioimpressa em 3D
Diferentemente de modelos experimentais anteriores, que utilizavam materiais sintéticos, a córnea implantada em Israel produziu-se exclusivamente a partir de células humanas vivas, organizadas camada por camada com o auxílio de uma impressora 3D.
O processo começa com uma única córnea saudável de um doador falecido. Em laboratório, suas células cultivam-se e combinam-se com biomateriais que garantem sustentação e transparência ao tecido. O resultado é uma estrutura que imita, de forma muito próxima, as características de uma córnea natural - e que pode se replicar. Uma única córnea pode originar centenas de implantes.
Resultados iniciais e cautela científica
O procedimento faz parte de um estudo clínico de fase 1, cujo principal objetivo é avaliar a segurança do implante, sua transparência, a integração com o olho do paciente e a real melhora da visão. Até o momento, apenas uma paciente foi submetida à cirurgia, e a previsão é incluir entre 10 e 15 participantes nesta etapa inicial.
Ainda não se sabe, por exemplo, como a córnea bioimpressa se comporta ao longo dos anos. Enquanto uma córnea doada costuma durar cerca de 30 anos, a longevidade do implante PB-001 ainda precisa de avaliação com acompanhamento prolongado.
Outro ponto de atenção é a resposta do organismo. Mesmo sendo formada por células humanas, o tecido possui características próprias, o que pode exigir ajustes nos medicamentos usados para prevenir rejeição. Mas esse tipo de decisão ainda depende de dados mais robustos, que só virão nas próximas fases da pesquisa.
Um marco histórico na oftalmologia
Para o professor Michael Mimouni, diretor da Unidade de Córnea do Rambam e líder da equipe cirúrgica, o momento representa uma virada de chave na história da medicina ocular. "Pela primeira vez na história, testemunhamos uma córnea criada em laboratório, a partir de células humanas vivas, devolver a visão a um ser humano. Foi um momento inesquecível - um vislumbre de um futuro onde ninguém precisará viver na escuridão por falta de tecido para transplante. Isso muda tudo", afirmou.
Os primeiros dados consolidados sobre eficácia e segurança do implante PB-001 devem ser divulgados no segundo semestre de 2026. Até lá, a paciente seguirá em acompanhamento, e os pesquisadores reforçam que ainda é cedo para a aplicação em larga escala. Mesmo em fase inicial, o feito já aponta para um futuro em que a falta de tecido não será mais uma sentença de escuridão - e em que a ciência poderá, literalmente, devolver a visão a quem espera por ela.