Superdotação: o que é e quais são suas características?
Condição do neurodesenvolvimento marcada por curiosidade, sensibilidade e pensamento acelerado ainda enfrenta falta de apoio e reconhecimento no país; entenda
Quando se fala em superdotação, também chamada de altas habilidades, é comum que a primeira associação seja à genialidade. Porém, especialistas lembram que essa visão é fantasiosa. Na prática, famílias e pessoas superdotadas enfrentam um cenário marcado pela incompreensão e pela falta de apoio, especialmente no ambiente escolar.
De acordo com o Modelo Castelló-de Batlle, a superdotação ocorre quando uma pessoa se destaca em todas as áreas do talento: verbal, matemática, espacial, criativa, lógica, entre outras. Já as chamadas altas habilidades referem-se mais a um potencial - que pode ou não desenvolver-se - e não necessariamente em todas as áreas.
Em entrevista ao g1, a neuropsicopedagoga Olzeni Ribeiro explica: "A superdotação é uma condição do neurodesenvolvimento. Tem o fator inteligência envolvido, mas principalmente uma facilidade de aprender. Um dos mitos que a gente tem aqui no Brasil é definir a superdotação pelo QI [Quociente de Inteligência]".
Como identificar a superdotação
A principal característica é a atividade metabólica intensa do cérebro. Isso significa que o processamento de informações ocorre de forma muito rápida, exigindo mais energia do organismo. Para se ter uma ideia, pessoas superdotadas metabolizam a glicose mais rapidamente para fornecer energia ao cérebro.
De acordo com a OMS, cerca de 4% da população mundial é superdotada, mas, no Brasil, apenas 2.621 pessoas foram oficialmente identificadas. Isso revela que muitos brasileiros podem ter essa condição sem sequer saber.
Sinais comuns da superdotação
Especialistas apontam uma série de características que ajudam a identificar pessoas com altas habilidades:
- Diálogo interno constante: isso os ajuda a refinar ideias, testar hipóteses e analisar diferentes pontos de vista antes de chegar a conclusões;
- Curiosidade intensa: estimula perguntas, investigação e persistência;
- Paixão por aprender: o impulso insaciável por conhecimento acompanha muitos superdotados ao longo da vida;
- Sensibilidade e intensidade: algumas questões relacionadas à sensibilidade ao som, por exemplo, são frequentemente observadas. Além disso, a intensidade nas emoções também é bastante presente.
- Empatia: altamente empáticas, as pessoas superdotadas conseguem conectar-se com emoções alheias;
- Dificuldades sociais: o superdotado, muitas vezes, é visto como uma pessoa mais tímida e observadora, principalmente em ambientes sociais. Estudos mostram, inclusive, que pessoas com alta inteligência não temem a solidão. Muitas vezes, ela é vista como espaço para reflexão, criatividade e regulação emocional.
Um desafio coletivo
O Censo Escolar de 2022 registrou 26.815 alunos identificados com altas habilidades no Brasil. No Distrito Federal, são 756 estudantes. Ainda assim, famílias relatam dificuldades em encontrar ambientes adequados para o desenvolvimento dos filhos.
A inclusão das altas habilidades/superdotação na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) só aconteceu em 2013, com a lei nº 12.796, que garantiu atendimento educacional especializado gratuito a esses estudantes. Em 2015, a lei nº 13.234 tornou obrigatório identificar, cadastrar e atender alunos superdotados. Apesar dos avanços, muitas famílias relatam dificuldades no cumprimento da lei em diferentes regiões do país, mostrando que ainda há um longo caminho pela frente.
A superdotação é, antes de tudo, uma condição do neurodesenvolvimento marcada por curiosidade, intensidade, sensibilidade e rapidez de raciocínio. Mais do que genialidade, trata-se de compreender um modo singular de existir no mundo - que merece ser reconhecido, apoiado e respeitado.