Sistemas que incentivam andar a pé e de bicicleta criam cidades mais sustentáveis
Cicloativista Renata Falzoni explica que modelo atual de mobilidade prioriza carros e é desequilibrado
Setembro é o Mês da Mobilidade, dedicado a discutir os desafios e soluções para a mobilidade urbana. além de trazer conscientização sobre a importância de pensarmos a forma como nos locomovemos e como isso impacta diretamente a nossa qualidade de vida e o meio ambiente.
O espaço público de São Paulo (SP) é pensado e construído principalmente para carros, com pouco investimento e pouca estrutura para a locomoção de pedestres e bicicletas. Na luta por melhorias nessas áreas, está a cicloativista Renata Falzoni, que conversou com Planeta sobre o assunto. Assista ao vídeo acima.
A ativista começou a pedalar em 1976, quando cursava faculdade de Arquitetura e Urbanismo em Higienópolis e morava na Vila Madalena: "No mesmo momento em que eu comecei a andar de bicicleta como meio de transporte, eu comecei a questionar a mobilidade na cidade".
Como vinha de uma escola de arquitetura e urbanismo em uma época em que o desenho da cidade já era pensado para carros, Renata conta que se tornou uma pessoa crítica. "Hoje, a cidade de São Paulo realmente já melhorou muito nesse quesito, mas a principal mudança que precisamos é ter um olhar de gestão a partir da pessoa e não do automóvel", diz. Atualmente, tudo é pensado para os carros e o que sobra fica para as pessoas.
"[Na cidade], você favorece o automóvel e onde sobra você coloca calçada e ciclovia. Mesmo assim, essas estruturas, para saírem, é na briga, na insistência. É muito cansativo".
Renata Falzoni, cicloativista
A cicloativista reforça que quando se constrói a cidade pensando só no automóvel, tudo fica desequilibrado. "Você provoca o espraiamento. Cada carro rodando na cidade demanda quatro vagas, que diminuem o espaço no viário, reduzem o espaço das pessoas, encarecem a moradia, e as pessoas vão morar cada vez mais longe, o que acaba com a eficiência do transporte coletivo", explica.
Meio ambiente
Mobilidade sustentável é ir do ponto A ao ponto B usando uma energia que não destrói o planeta. "É você ter uma política pública das pessoas terem acesso amplo ao território da cidade sem que haja espaços segregados, porque foi priorizado um modal [o automóvel] em detrimento de outro", diz.
Para Renata, a fórmula para ter cidades em que a locomoção é mais justa é "incentivar a mobilidade ativa, criando calçadas, ciclovias e ter um gerenciamento de qualidade disso". Ela comenta que deveria existir um órgão que cuide dessas estruturas e também mais leis.
"Tem que ter calçadas e ciclovias interligadas, diretas e retas. E aí, convergindo para o transporte coletivo", explica complementando que tudo isso precisa criar trajetos agradáveis e estimular as pessoas a não saírem mais de automóvel porque serão compensadas por um sistema que funciona e está livre de congestionamento.
"As emissões de gases do efeito estufa são provenientes, na sua esmagadora maioria, nas cidades, [...] dos automóveis particulares", comenta Renata, que acredita que os carros elétricos não são uma solução viável sem que esse sistema de cidade comentado acima seja viabilizado.
Com a infraestrutura adequada, a cicloativista defende a bicicleta como um meio de transporte "fantástico", segundo suas próprias palavras. "Você vai mais rápido, acessa mais rápido, tem mais saúde para o físico e para o mental. Além de você fazer da mobilidade um lazer, um prazer".