Desmatamento cai 11% na Amazônia e no Cerrado
Desmate caiu pela segunda vez consecutiva e confirma tendência de redução
BRASÍLIA- O desmatamento na Amazônia e no Cerrado registrou queda pelo segundo ano consecutivo. Dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) mostram uma redução de cerca de 11% em ambos os biomas.
Apesar de as estatísticas confirmarem a tendência de queda observada no ano passado, o ritmo da redução do desmate desacelerou, sobretudo devido a uma alta atípica de incêndios florestais no ano passado.
De acordo com o Prodes, 5.796 km² foram desmatados na Amazônia entre agosto de 2024 e julho de 2025, a menor área suprimida na última década e a terceira menor da história. A área representa uma queda de 11,08% em relação ao ciclo anterior, quando o desmate tinha sido de 6.518 km².
Considerando a série histórica do Prodes, que começa em 1988, somente os anos de 2012 e 2014 registraram uma área desmatada menor, com 4,6 mil km² e 5 mil km², respectivamente.
Já no Cerrado foram registrados 7.235,27 km² desmatados entre agosto de 2024 e julho de 2025, o número é 11,49% menor do que os 8.174 km² suprimidos entre 2023 e 2024.
Entre 2022 e 2025, foi evitado o desmatamento de 1,3 milhão de hectares na Amazônia e 564,3 mil hectares no Cerrado. Com isso, o Brasil deixou de emitir 733,9 milhões de toneladas de CO2 no período. A quantidade corresponde ao total de emissões da França e da Espanha no ano de 2022.
"Faltando dez dias para COP-30 e sete dias para a Cúpula de Líderes a informação que temos sobre desmatamento da Amazônia é essa", disse a ministra Marina Silva. "Nem nos melhores planos eu imaginaria que chegaríamos nesse momento com redução de 50% na Amazônia em comparação com 2022."
Compromisso até 2030
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o compromisso de zerar o desmatamento até 2030. Nas próximas semanas, o Brasil recebe a 30ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança Climática (COP-30), em Belém, no Pará.
"Esse é um anúncio importante nas vésperas da COP-30, revelando que estamos procurando fazer nosso dever de casa. Isso nos inspira e nos dá autoridade para que a gente cobre dos diversos países do mundo as suas iniciativas para o bem do planeta", reforçou a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.
Considerando os dois biomas juntos, o Brasil registrou uma redução de 11,3% no desmatamento. Os dados compõem o principal trunfo do Brasil nas negociações climáticas em Belém.
O secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, André Lima, explicou que houve uma desaceleração no ritmo de queda do desmatamento devido aos incêndios que atingiram o país no ano passado, fruto de condições climáticas adversas e ações criminosas.
"Mesmo que esteja ficando cada vez mais difícil (combater o desmatamento), não fossem os incêndios do ano passado, que foram totalmente fora da curva, a gente teria tido uma queda do desmatamento desse ano superior a 30%. Estaríamos numa trajetória muito forte de queda ainda mais expressiva", disse Lima.
Os dados do Prodes evidenciam o impacto dos incêndios no último ano. A chamada "degradação progressiva", que inclui desmate por queimadas, aumentou 11 pontos porcentuais no último ano, passando de 27% do total para 38%.
Dos nove Estados da Amazônia Legal, apenas o Mato Grosso não registrou queda nos índices de desmatamento, com um aumento de 25% no desmate.
A maior redução de desmatamento na Amazônia Legal no período ocorreu no Tocantins, com uma queda de 62,5%. Em seguida, aparece o Amapá, com queda de 48,1% e Roraima com baixa de 37,3%. Sede da COP-30, o Pará registrou uma redução de 12,4% no desmate, mas segue como maior desmatador do bioma.
No Cerrado, o Estado mais desmatado foi o Maranhão, com uma área de 2.006 km² suprimida.
Ações de controle e investimentos
Para chegar à redução dos índices, o governo implementou uma série de medidas de fiscalização e incentivo aos municípios que reduzissem suas taxas. As iniciativas ocorrem no âmbito do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), que foi criado em 2004 e retomado em 2023 após ser descontinuado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
De 2023 até agora, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) realizou 25.226 ações de fiscalização na Amazônia, o número é 80% maior do que a quantidade realizada entre 2020 e 2022. Nos últimos três anos foram embargados 16,8 mil hectares fruto de desmatamento ilegal.
Além da fiscalização, o governo investiu no programa "União com Municípios", que prevê o investimento de R$ 800 milhões nas cidades prioritárias para o combate ao desmatamento. Até o momento, os municípios apoiados pelo programa já reduziram 65,5% entre 2022 e 2025.
A ministra Marina Silva explicou que a partir de agora a tarefa de combater o desmate se torna mais desafiadora. Segundo ela, a próxima estratégia será focar na redução do desmatamento legal.
"Vai ficando mais difícil porque você vai para disputar com o desmatamento legal. Para disputar com o desmatamento legal tem que ter alternativas para que seja duplamente vantajoso a floresta ser mantida em pé", avaliou a ministra.
Marina afirmou que é preciso desenvolver uma economia que leve em consideração a preservação da floresta e afirmou que os dados mostram que é possível: "O desmatamento caiu 50% o agronegócio continuou crescendo em mais de 15%, a renda per capita do país em 11%", disse.
Líder mudanças climáticas do WWF-Brasil, Alexandre Prado, elogiou a redução dos índices e afirmou que é preciso engajar o setor privado.
"É importante que o setor privado acompanhe esse movimento, avançando na implementação de compromissos reais de desmatamento zero em suas cadeias produtivas", disse.