Como brasileira entregou presente inusitado ao príncipe William e transmitiu forte mensagem ambiental
Fundadora do Instituto CoJovem, Karla Braga deu ao herdeiro do trono britânico um frasco que levantou curiosidade nas redes sociais
Durante uma visita ao Museu Goeldi, em Belém, o príncipe William recebeu um frasco de banho de cheiro da fundadora do Instituto COJOVEM, Karla Braga, que aproveitou a oportunidade para destacar a necessidade de investimentos nas juventudes da Amazônia e seu papel crucial no enfrentamento da crise climática.
Durante visita ao Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, na semana passada, o príncipe William recebeu um presente curioso: um frasco do tradicional banho de cheiro paraense, preparado com ervas e essências típicas da região. O item foi entregue por representantes do Instituto CoJovem, organização que atua com juventudes amazônicas e questões climáticas, em um encontro que rapidamente chamou a atenção nas redes sociais.
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O momento descontraído viralizou e gerou rumores de que o item seria um “perfume afrodisíaco” associado a rituais de sedução, o que não corresponde à realidade. Quem entregou o presente foi Karla Braga, fundadora e diretora executiva da entidade, que conversou com a reportagem no Free Zone Cultural Action de Belém, nesta quarta-feira, 12.
DERAM ÓLEO DE ATRAÇÃO AFRODISÍACO DO BOTO COR-DE-ROSA PARA O PRÍNCIPE WILLIAM!!!!!
O “óleo da bota” é usado como lubrificante para atos sexuais ou em rituais de magia. pic.twitter.com/Bl81frvxsd
— Nanda Xie (@nandaxxie) November 7, 2025
Ao Terra, Karla explicou o contexto da entrega do frasco. “O British Council é um dos financiadores da CoJovem. Então quando a gente foi convidado para ir para essa reunião no museu, eu pensei que eu iria simplesmente para uma reunião com financiadores. Mas chegando recebi a notícia que o príncipe William iria estar lá. E aí a gente ficou assim: ‘Boa, vamos conversar com tomador de decisão'", contou.
De acordo com ela, o encontro foi uma oportunidade de levar a voz das juventudes amazônicas diretamente a um líder internacional. “Sempre nessas ocasiões a gente aproveita para levar a palavra das juventudes, e, sobretudo, de que investir nas juventudes amazônicas é conservar o futuro do planeta.”
O “cheirinho” e a mensagem por trás do presente
O frasco entregue ao príncipe continha o que Karla chama de “cheirinhos” com mensagens simbólicas. “Um dele é o famoso 'atrai financiamento, orçamento para as juventudes', e foi esse que eu dei para o príncipe", contou. "Estava falando para ele da situação que nós, juventude no estado do Pará, vivenciamos, que o investimento em políticas públicas aqui é de menos de 1 centavo por jovem no ano de 2025", acrescentou.
Ela conta que o momento teve caráter lúdico e descontraído. “Ele [princípe] foi muito descontraído, riu bastante com a gente, e a intenção dos cheirinhos é justamente essa: quebrar esse clima pesado em que as juventudes amazônicas estão inseridas. Para a gente conversar com tomadores de decisão, a gente faz questão também de quebrar esse clima e de falar de uma maneira lúdica, descomplicada, artística, cultural, como é o caso que o Instituto CoJovem faz.”
Juventudes amazônicas em foco
Karla fundou o Instituto CoJovem em 2020, junto a outros jovens embaixadores da ONU. “O nosso sonho era reduzir as desigualdades entre as juventudes aqui na Amazônia Legal, se comparadas com outro eixo do Brasil, como o eixo Centro-Sul. A gente aqui tem muita dificuldade de ter políticas públicas que fortaleçam os nossos direitos, então a gente vive uma situação de precariedade”, destacou.
Hoje, a instituição atua do regional ao internacional, com foco no fortalecimento de direitos socioambientais de juventudes na Amazônia Legal, através de pesquisa, advocacy e formação de base. Karla também destacou a importância da COP para a causa da organização: “Esta é a nossa quarta COP. A COP é uma oportunidade para dar visibilidade à nossa causa, para mostrar aos negociadores e tomadores de decisão a realidade amazônica do Sul Global. Muito se fala sobre a Amazônia na perspectiva internacional, mas pouco se vive a Amazônia."
Protagonismo jovem frente à crise climática
Para Karla, os jovens devem estar no centro das decisões sobre o futuro do planeta. “Os jovens, assim como as crianças, vão vivenciar os impactos da crise climática por mais tempo. Nós somos os herdeiros das decisões que estão sendo tomadas agora, e das que não estão sendo tomadas também", argumentou.
Para reforçar a importância do protagonismo jovem, o CoJovem divulgou na quarta-feira o resultado da Pesquisa Amazônia Jovem 2025, que mapeia percepções e desafios das juventudes amazônicas diante da crise climática. O estudo ouviu 667 jovens dos nove estados da Amazônia Legal, traçando um panorama sobre vulnerabilidade, identidade e pertencimento.
Coordenada pelo pesquisador Pedro Mota, doutorando em Geografia, a investigação utilizou metodologias online e presenciais, superando barreiras de conectividade digital na região. O estudo adota uma definição ampliada de juventude, entre 18 e 35 anos, chamada de “juventude tardia”, marcada por responsabilidades precoces e oportunidades adiadas. Um dado positivo é o aumento do sentimento de pertencimento: em dois anos, o número de jovens que se reconhecem como amazônidas subiu de 50% para 80%
No entanto, os resultados mostram que 78% dos jovens vivem em contextos de conflito territorial, marcados por disputas de terra, desmatamento e violência, e 80% relatam sintomas de ansiedade quanto ao futuro de seus territórios. O desmatamento é apontado como o impacto ambiental mais citado, reforçando que a crise climática amplia desigualdades históricas.
"Para mudar essa realidade, precisamos incluir o jovem no lugar de tomada de decisão. O nosso ponto de vista é diferente da herança que as gerações passadas deixaram para a gente. Vivemos um cenário extremamente calamitoso na perspectiva climática, mas não fomos nós que construímos isso. Para construir outras perspectivas de mudança para um futuro possível, precisamos ter a juventude não só no menu, mas sentada à mesa e tomando decisões também", destacou Karla ao Terra.
*A repórter viajou a convite da Motiva, idealizadora da Coalizão pela Descarbonização dos Transportes.
