Brasil quer que a COP do Clima em Belém 'ataque o mal pela raiz', diz Marina Silva
O primeiro dia da COP30 em Belém trouxe sinalizações positivas para o início oficial das negociações. A agenda dos temas a serem tratados foi aprovada pelos países, e o número de compromissos climáticos entregues pelos governos cresceu para 111, de um total de 195 participantes das negociações.
O primeiro dia da COP30 em Belém trouxe sinalizações positivas para o início oficial das negociações. A agenda dos temas a serem tratados foi aprovada pelos países, e o número de compromissos climáticos entregues pelos governos cresceu para 111, de um total de 195 participantes das negociações.
Lúcia Müzell, enviada especial da RFI a Belém
A aprovação da agenda serve de termômetro sobre os bloqueios que podem paralisar as COPs já no começo. Entre os temas que serão discutidos estão financiamento climático, transição justa e a adoção de metas globais de adaptação dos países às mudanças do clima. Oito subtópicos ainda poderão ser incluídos na pauta, na quarta-feira.
André Corrêa do Lago, presidente da COP30, celebrou um dia "muito positivo". "Parece uma coisa óbvia, mas não é porque a agenda precisa ser aprovada por consenso. Então, já podemos começar a trabalhar e mostrar resultados nesses primeiros dias", disse ele à RFI.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, celebrou que o tema do afastamento dos países dos combustíveis fósseis esteja sobre a mesa, trazido pela presidência brasileira. "A abertura foi um sucesso, com o presidente Lula reiterando, mais uma vez, a necessidade de um mapa do caminho para que a gente possa sair da dependência dos combustíveis fósseis e fazer os esforços de ter uma agenda que ataca o mal pela raiz", comentou Marina à reportagem.
Transição deve ser tratada de maneira 'racional'
A expectativa é que a conferência comece a abordar como os países deverão planejar a transição energética, diminuindo a participação do petróleo e do carvão, cujas emissões são as maiores responsáveis pelo aquecimento global. Algumas economias já assumiram o compromisso de reduzir ou acabar com o uso do carvão, mas até hoje nenhuma esclareceu os planos sobre o petróleo.
Questionado se os participantes mostraram disposição para avançar neste assunto, Corrêa do Lago comentou que "é um tema de grande complexidade que tem que ser tratado de maneira não emocional, mas sim racional".
"O presidente Lula demonstrou que o Brasil, nesse governo, tem consciência do quanto esse tema é complexo, mas é importante", acrescentou.
'Pororoca da implementação'
Até o momento, mais de uma centena de atualizações de NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas, na sigla em inglês) foram submetidas à ONU, uma etapa fundamental para o mundo encaminhar a redução das emissões globais no horizonte de 2035. Marina Silva salienta, entretanto, que hoje a implementação dos compromissos não está à altura dos desafios. Entre os objetivos da COP em Belém estão impulsionar o cumprimento das promessas.
"O presidente Lula disse que essa é a COP da verdade. E a verdade é que precisamos fazer mais. Que a gente possa fazer agora a pororoca da implementação", afirmou a ministra, ao concluir a cerimônia de abertura do pavilhão do Brasil no evento.
Apesar de todos os problemas para a organização da conferência no Pará, incluindo preços abusivos de hospedagem, os representantes de 194 países estão presentes, além da União Europeia, que tem um assento específico à mesa. No total, a COP30 tem mais de 47 mil participantes registrados.
Recorde de indígenas
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, comemorou que "esta é a COP mais diversa da história", com o credenciamento de 400 participantes indígenas na zona restrita da conferência - um número inédito. Na cidade, 3 milindígenas estão acampados para participar das discussões e eventos paralelos à COP.
"A gente garantiu que essa COP tem a maior e melhor participação e protagonismo indígena, tanto em quantidade quanto em incidência. Queremos que haja esse reconhecimento dos territórios indígenas como uma política climática", indicou a ministra à RFI, lembrando que, nos lugares onde habitam essas populações, as florestas e rios são preservados.
O Acordo de Paris sobre o clima reconheceu, pela primeira vez, o conhecimento científico dos povos originários. "O mundo sempre falou pela Amazônia, mas agora é a hora da Amazônia falar para o mundo. E aqui estamos, com muitos desafios, com muitas tentativas de boicotes para que esta COP não desse certo", frisou Guajajara, no pavilhão Brasil. "Precisamos enfrentar o negacionismo climático da extrema direita. A gente está aqui para mostrar que isso é real: as pessoas já estão vivendo as mudanças do clima nos seus territórios."
Nesta terça-feira, o foco temático da conferência continuará sendo a adaptação.