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Roleta russa: Mazepin, uma situação inconveniente na Haas

O russo hoje está nas manchetes do dia, mas de maneira controversa. Há ainda esperança de mudança ou é um caso perdido?

12 mai 2021 - 14h59
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Nikita Mazepin, piloto da Haas.
Nikita Mazepin, piloto da Haas.
Foto: Haas

Certas vezes, é preciso fazer o exercício de deixar visões de lado e tentar novas abordagens. Analisar friamente não quer dizer aceitar. Isto posto, vejamos o caso de Nikita Dmitryevich Mazepin. Ou simplesmente Nikita Mazepin.

São baixas as chances de que ele venha a ser o primeiro campeão vindo do norte da Eurásia. Muita gente de menor gabarito já passou pela categoria. Só que a fama que conseguiu antes de chegar na Fórmula 1, junto com o clima ruim criado, formam uma verdadeira tempestade perfeita.

Ele não é o único que está na Fórmula 1 mais pelo dinheiro do que pelo talento. Por mais que os puristas gritem que é um absurdo, a compra de lugar no esporte a motor é mais antiga do que andar para a frente. Talvez até na época da corrida de bigas no Império Romano acontecesse o mesmo.

Antes fosse só isso. O caso do vídeo vazado de assédio no ano passado foi o mais pesado em uma sequência de controvérsias. Além de ser conhecido pela carteira cheia vinda do pai, Dmitry, acionista principal e comandante da gigante petroquímica Uralchem, o comportamento impulsivo e até mesmo bruto dentro e fora das pistas o marcou: Chegou a ser banido por uma corrida na GP3 em 2016 por ter agredido Callum Ilott após ter sido bloqueado na pista. Ano passado, algumas de suas manobras na F2 foram bem controversas (Yuki Tsunoda levou uma empurrada na Bélgica; Felipe Drugovich que o diga no Bahrein).

O conjunto da obra fez a carga da dita opinião pública cair em seus ombros em uma escala monumental. O acordo com a Haas foi questionado e a campanha #wesaynotomazepin (Nós dizemos não para Mazepin) tomou conta das redes. Embora a equipe tenha feito um trabalho de relações públicas e o piloto tenha sumido, a rachadura foi feita no cristal.

A entrada pela Haas não parecia ser uma má escolha. Após um início fulgurante, os americanos tiveram duas temporadas onde enfrentaram crise técnica, calote de patrocinador e uma dupla de pilotos temperamental. Visando 2022, o time optou por fazer mais um ano de transição e preparar uma retomada diante da oportunidade do novo regulamento. Em um quadro em que Gene Haas questiona a continuidade na categoria, a vinda de um patrocinador cheio de dinheiro para gastar é interessante. Motivou inclusive uma visão que seria impensável décadas atrás: uma equipe estadunidense resplandecendo a bandeira tricolor da Federação Russa...

Em condições normais, não seria algo ruim: uma equipe com baixas expectativas, o que permitiria aprender o que é a Fórmula 1 sem grandes pressões, embora já tivesse testado pela Force India entre 2016 e 2018 e até mesmo sido mais rápido pela Mercedes no teste de jovens pilotos em Barcelona em 2019. Seria ótimo para estar em condições de competir junto com os grandes com um regulamento todo novo. Mas a vida não é sempre como o planejamento espera...

Junte um piloto novato, com toda a carga negativa do mundo sob si e um carro com a aerodinâmica e a estabilidade de um tijolo, sem perspectiva de melhoria. Este é Nikita Mazepin e o Haas/Ferrari VF21 na temporada 2021. Os três dias de testes no Bahrein mostraram que a situação era tensa. Mas nada é tão ruim que não possa piorar....

Na abertura da temporada, no GP do Bahrein, o russo conseguiu rodar em todas as sessões de treino. A chave de ouro foi ter perdido o controle sozinho após três curvas após a largada. Não à toa, foi merecedor do apelido Mazespin (Spin em inglês significa rodar...)

Não bastando isso, seu companheiro Mick Schumacher, embora sofresse com o mesmo carro, se mostrou mais rápido e conseguiu terminar a prova. No GP seguinte, em Imola, o quadro foi o mesmo. Mas desta vez, conseguiu chegar ao final da prova, mesmo sendo recolhido por Latifi quando este saiu da pista.

Aqui, Mazepin mostrou mais uma faceta: o questionamento às convenções. No Bahrein, já havia ultrapassado a todos quando na última volta do treino. Na Emilia Romagna, atrapalhou a volta rápida de Antonio Giovinazzi, basicamente quando já havia marcado a sua e começou uma desnecessária disputa de posição. E em Portugal conseguiu o seu primeiro ponto na Fórmula 1. Só que não da maneira que esperava: foi de punição.

O que fazer em um momento como este, quando há uma desconfiança reinante por seus pares, uma perda patente de confiança, seu companheiro é consistentemente melhor e uma pressão tremenda do público? Talvez sair dos holofotes. Até mesmo se afastar por algumas provas, fazer um trabalho técnico, com testes privados e, especialmente, um trabalho de reconstrução psicológica. Afinal de contas, não estamos falando de um piloto desqualificado.

Entretanto, este seria um mundo ideal. Mas Mazepin já deu mostras de ser um daqueles típicos filhinhos de papai, onde ele é o único certo e o resto que se exploda. Humildade parece passar longe deste moscovita e auto-crítica não faz parte do seu dicionário, tanto em inglês como no alfabeto cirílico.

Glasnost e Perestroika. Transparência e Reestruturação. Estes são os nomes das principais políticas desenhadas por Mikhail Gorbachev, o último mandatário da União Soviética. Talvez seja a hora de Nikita Mazepin assumir a vanguarda revolucionária e se inspirar nestas linhas de ação para garantir um futuro na Fórmula 1 sem ter que usar somente o poder dos rublos de seu pai. Pelo menos, ser uma pessoa melhor, o que é muito mais saudável e construtivo.

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