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Fernando Alonso tenta o "impossível" ao voltar para a F1

Há oito temporadas sem vencer um GP e a cinco meses de fazer 40 anos, Fernando Alonso é "velho" para sonhar com o título da F1

3 mar 2021 - 07h38
(atualizado em 9/3/2021 às 11h06)
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Fernando Alonso, 39 anos, piloto da Alpine: chance estatística de 0,01% de vencer um GP, considerando sua idade.
Fernando Alonso, 39 anos, piloto da Alpine: chance estatística de 0,01% de vencer um GP, considerando sua idade.
Foto: Renault / Divulgação

Há apenas um ano e meio, em junho de 2019, Fernando Alonso declarou: “Se decidir voltar à F1, vai ser somente se houver uma possibilidade real de vencer o título. Não me interessam projetos que começam do zero. Quero um carro vencedor logo de cara”. Bem, Fernando está de volta à Fórmula 1. Ainda não sabemos se num carro vencedor, mas certamente num campeão da passarela. O Alpine A521 é lindo.

Se Fernando Alonso ainda acalenta o sonho de ser campeão mundial, glória que já conquistou duas vezes, então terá que vencer não apenas seus adversários na pista, mas também a idade. Não existe na história da Fórmula 1 qualquer indício de que Fernando, que foi o mais jovem campeão do mundo em seu tempo, aos 24 anos (e bi aos 25), possa repetir o feito aos 40, aos 41 ou aos 42 anos.

Embora seja um dos maiores vencedores da Fórmula 1, com 32 vitórias no currículo, Fernando Alonso subiu ao topo do pódio de um Grande Prêmio pela última vez há oito anos, quando tinha apenas 31 anos. Foi no GP da Espanha de 2013, pilotando um Ferrari com motor V8. Na temporada seguinte, quando a F1 adotou motores híbridos, começou a via-crucis de Fernando. 

Em 2014, pela Ferrari, ainda conseguiu dois pódios. Depois, na decadente McLaren, o máximo que Fernando conseguiu foram três quintos lugares. Não foi culpa dele, claro. Mas o tempo passa. Inclusive para quem já foi o mais jovem campeão do mundo. A verdade é que Fernando Alonso só ganhou corridas de Fórmula 1 pilotando carros com motor a combustão -- 8 vezes com V10, 24 vezes com V8.

Fernando Alonso ficou duas temporadas ausente, mas está há 110 GPs sem ganhar uma corrida de F1 (contando só os que participou). Nesse meio tempo, provando ser um piloto excepcional, venceu duas vezes as 24 Horas de Le Mans -- uma corrida de resistência e não de velocidade, pilotando um carro que só tinha adversários dentro da própria equipe Toyota. Em Le Mans, ao contrário da F1, o cockpit é dividido com mais dois pilotos.

Fernando Alonso é um atleta muito bem preparado. Por isso, sente menos o peso da idade do que as pessoas comuns. Entretanto, desde os anos 1950, a Fórmula 1 vem sendo dominada, a cada década, por pilotos mais jovens. Em 1.035 GPs disputados, somente 13 vezes a vitória ficou com um piloto com 39 anos ou mais. Estatisticamente, estamos falando em 0,01% de aproveitamento.

O piloto espanhol da equipe Alpine pode se inspirar na façanha de Kimi Raikkonen, que foi um dos 13 a conseguir vencer um GP com 39 anos. Foi em 2018, nos EUA, pela Ferrari. Kimi provou que é possível. Mas esta foi a única vez que isso aconteceu nos últimos 27 anos. Antes dele, foi Nigel Mansell, em 1994. Recuando no tempo, vimos a façanha acontecer somente uma vez nos anos 80, duas vezes nos anos 70, uma vez nos anos 60 e sete vezes nos anos 50.

Para Fernando Alonso voltar a ser campeão do mundo, a Fórmula 1 precisa voltar às estatísticas dos anos 50, sua primeira década. Como faz aniversário no dia 29 de julho, Fernando só seria campeão com 40 anos. Apenas sete vezes na história pilotos com 40 anos ou mais foram campeões mundiais: todas nos anos 50 (quando praticamente o grid inteiro tinha essa faixa de idade). Mesmo com 39 anos, a última vez foi há três décadas (Nigel Mansell, em 1992).

Fernando Alonso aos 24 anos em 2005: o mais jovem campeão da Fórmula 1 em seu tempo.
Fernando Alonso aos 24 anos em 2005: o mais jovem campeão da Fórmula 1 em seu tempo.
Foto: Renault / Divulgação

Hoje em dia, o carro de Fórmula 1 exige muito mais da parte física para ser pilotado. Na época de Ayrton Senna -- um exemplo de piloto-atleta -- era possível administrar a corrida. No final dos anos 90 e nos anos 2000, Michael Schumacher introduziu a estratégia de fazer várias voltas seguidas em ritmo de classificação para obter a ultrapassagem nos boxes. Atualmente, praticamente todas as voltas de uma corrida são feitas em ritmo de classificação. As forças-g são brutais nas frenagens e nas curvas. O corpo do piloto é esmagado devido à velocidade do carro e à aderência dos pneus. Quando os pneus desgastam, é preciso segurar o carro “no braço”. Não há refresco. Os adversários são jovens no auge do vigor físico.

A pressão física, psicológica e emocional é terrível. Fernando Alonso é suficientemente experiente para suportar diferentes tipos de pressão. Mas, com a idade, alguns reflexos ficam mais lentos. O olhar já não é tão aguçado. Já não se tem mais uma vida inteira pela frente, mas sim uma vida inteira para trás. No caso de Fernando Alonso, uma vida cheia de vitórias.

Fernando, por certo, sente-se frustrado por não ter conseguido mais títulos mundiais. Afinal, Lewis Hamilton conseguiu sete, Sebastian Vettel conseguiu quatro. Tendo pilotado carros competitivos da McLaren e da Ferrari, poderia ter conquistado mais um ou dois títulos, no período de 2007 a 2013. Mas ficou mesmo nos dois. Com as mesmas regras de 2020, dificilmente o belíssimo Alpine-Renault será mais rápido do que os carros da Mercedes e da Red Bull em 2021. Sem contar que os carros da McLaren e da Aston Martin devem estar, no mínimo, no mesmo nível do Alpine A521.

Em 2022, com novas regras, as chances serão melhores, mas Fernando estará também um pouco mais velho. Tudo pode mudar e o carro da Alpine talvez seja mais competitivo do que todos. Nessa ocasião, Fernando Alonso terá 41 anos no meio da temporada. Só Giuseppe Farina (na primeira temporada da F1) e o mito Juan Manuel Fangio conseguiram ser campeões acima dessa idade. Se Fernando Alonso conseguir o que parece ser impossível, será uma das maiores façanhas esportivas de todos os tempos.

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