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Ainda é cedo para dizer que Vettel acabou para a Fórmula 1

O tetracampeão Sebastian Vettel teve um desempenho lamentável no GP do Bahrein, mas é injusto já partir para o cancelamento do alemão

3 abr 2021 - 08h00
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Vettel reclamou da trajetória de Ocon: sem razão.
Vettel reclamou da trajetória de Ocon: sem razão.
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Classificou em 18º, largou em 20º por conta de uma punição, terminou em 15º. O desempenho de Sebastian Vettel, estreando pela Aston Martin no GP do Bahrein, parecia mais o de um novato do que o de um tetracampeão de Fórmula 1. Não é de hoje que Vettel tem corrido mais com o nome do que com talento, mas é preciso analisar mais a fundo o que aconteceu com o alemão na pista de Sakhir.

Desde a pré-temporada, ficou claro que o carro da Aston Martin, como o da Mercedes, havia sofrido com as poucas, mas importantes, mudanças de regulamento para 2021. A história é conhecida: a Aston Martin, que na vida passada se chamava Racing Point, atravessou 2020 respondendo por acusações de plágio do carro da Mercedes, a ponto de ser chamada de Mercedes cor de rosa. Começa um novo ano, com um novo regulamento técnico, e as duas equipes parecem andar para trás, afetadas pelas mudanças impostas principalmente no assoalho dos carros.

Vettel andou pouco na curtíssima pré-temporada, justamente porque o carro se mostrou problemático. O tempo entre os testes e a primeira corrida foi curto. Alguns dirão que a Mercedes conseguiu recuperar parte do prejuízo na aerodinâmica, a ponto de levar Lewis Hamilton a vencer a primeira corrida. 

Mas também é fato que a vitória de Hamilton se deu muito mais pela ousadia na estratégia e por uma questão no mínimo polêmica sobre a ultrapassagem de Max Verstappen pelo inglês na curva 4. Fato é que a Mercedes ainda parece um carro pior que a Red Bull. E se a Mercedes ainda não resolveu seus BOs, a Aston Martin, em que pese a grana alta do bilionário Lawrence Stroll, também ainda se debate com um carro cujo tamanho parece ser, no máximo, para chegar entre os pontos, o que de fato aconteceu com o companheiro de Vettel, Lance Stroll.

Na abertura da temporada, a equipe optou por uma estratégia ousada, com uma parada só para o alemão.
Na abertura da temporada, a equipe optou por uma estratégia ousada, com uma parada só para o alemão.
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Se o carro da Aston Martin é um problema, vários fatores ajudam a explicar por que Vettel largou tão mal e terminou apenas em 15º. Nos treinos livres, na sexta, Vettel chegou a marcar o 14º tempo, o que seria suficiente para ele pelo menos passar para o Q2 na Classificação. E tudo apontava para isso, até que o alemão saiu para tentar sua volta rápida em um momento de intenso tráfego no final do Q1. Com pouco tempo, não aqueceu os pneus suficientemente e ainda encontrou duas bandeiras amarelas no caminho. Uma delas, causada por uma das incontáveis rodadas de Nikita Mazepin, foi desrespeitada pelo alemão, que acabou punido.

Vettel largou na 20ª posição e teve um desempenho destacado na primeira volta, passando para o 14º lugar e ali se mantendo durante boa parte da corrida. Perdido por 1, perdido por 10: diante de todas as mazelas já enfrentadas pelo alemão no final de semana, a equipe optou por uma estratégia ousada, parando-o apenas uma vez para trocar pneus. Com essa escolha, Vettel chegou a andar em sétimo, mas o piso abrasivo de Sakhir encarregou-se de desgastar os pneus da Aston Martin. O alemão virou pia de água benta, com vários pilotos passando por ele.

Até aí, ok, estamos falando de alguns infortúnios que podem ser atribuídos ao conjunto piloto-equipe. No final da prova, no entanto, Vettel bateu na traseira da Alpine de Esteban Ocon, na ultrapassagem do francês sobre o alemão. Os dois rodaram, mas terminaram a prova. Ocon em 13º, Vettel, em 15º. A batida rendeu outra punição a Vettel, que teve 10 segundos acrescentados ao seu tempo e levou 5 pontos na carteira. O tetracampeão ainda tentou justificar a colisão, como se Ocon tivesse mudado a trajetória. Não colou. Foi imperícia de Vettel mesmo.

O histórico do alemão dos últimos anos mostra uma sequência de erros e avaliações equivocadas. Vettel rodou tantas vezes com a Ferrari que a inscrição Mission Winnow dos carros da Ferrari passou a ser chamada de Mission Spinow (de spin, rodar) pelos detratores. À época, Vettel registrava mal-estar com o carro da equipe italiana, que era do tipo que sai muito de traseira. Com o futuro fora da equipe já selado, Vettel não tinha voz para influenciar nada, muito menos o projeto do carro.

Sebastian Vettel, estreando pela Aston Martin: péssimo começo na temporada.
Sebastian Vettel, estreando pela Aston Martin: péssimo começo na temporada.
Foto: Aston Martin / Divulgação

Aliás, quem assistiu à série “Drive to Survive”, da Netflix, percebeu a postura de total desprezo e deboche do alemão nos compromissos com a Ferrari, em 2020. Parecia aquele casal que já se separou mas continua morando na mesma casa. A desculpa de um carro inadequado ao seu estilo de pilotagem parecia plausível, como também parecia possível que uma nova equipe concebesse um carro moldado para ele.

Mas eis que Vettel topa com uma Aston Martin de traseira totalmente débil, fruto do método copia-e-cola do ano passado. Agora, no entanto, ele não tem a justificativa de estar de saída e, por isso, não ter influência sobre a equipe. Se conseguir influenciar positivamente no desenvolvimento desse carro da Aston Martin, e se sentir confortável a ponto de cometer menos imperícias na pista, aí Vettel poderá olhar para trás e dizer que calou seus críticos.

No entanto, há trabalho a fazer. Rema, Vettel, rema.

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