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A Fórmula 1, a inflação e o teto de gastos

Stefano Domenicali diz que inflação era impossível de prever quando foi elaborado o teto de gastos. Ela chegou. E agora, teremos mudanças?

29 mar 2022 - 20h17
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Inflação pode impactar no teto de gastos da F1?
Inflação pode impactar no teto de gastos da F1?
Foto: F1 / Twitter

O teto de gastos tem se tornado tema recorrente nas equipes da Fórmula 1, especialmente entre as maiores. O limite estipulado pela categoria, de 140 milhões de dólares em 2022, é um desafio a mais no desenvolvimento dos carros – algo fundamental para quem quer buscar um título. Equipes como Mercedes, Ferrari e Red Bull estavam habituadas a trabalhar com orçamentos muito superiores ao atual limite e estão fazendo esforços para se enquadrar na regra. 

Não demorou para a discórdia se fazer presente no assunto. Como abordado nesse artigo do Sergio Milani aqui no Parabólica, já há equipes de olho no bom desempenho da Haas, prontas para levantar suspeitas de que a Ferrari poderia estar usando a parceria com a equipe americana para, de alguma forma, burlar o limite de gastos. 

Alheio a isso, Mattia Binotto, chefe da própria Ferrari, também levantou uma preocupação sobre o teto: como garantir que tudo está sendo cumprido por todos os times? Em um campeonato que se desenha bastante parelho entre a Scuderia e a Red Bull, qualquer evolução a mais nos carros pode fazer a diferença. 

“Isso [o teto de gastos] vai influenciar no grau de desenvolvimento dos carros”, disse Binotto ao portal Autosport. “Acho que isso é um elemento chave, e minha preocupação é que precisamos nos assegurar de que temos as formas certas de controle, porque isso pode ser, digamos, algo que muda o jogo na luta por desenvolvimento.” 

A preocupação do chefe da equipe italiana é compartilhada com o CEO da Fórmula 1, Stefano Domenicali. Para o mandatário, qualquer falha na fiscalização das equipes seria devastadora para o modelo: “Minha primeira preocupação é com o controle, porque se aqueles responsáveis por regular deixarem passar algo, todo o sistema colapsa.” 

E seguiu, trazendo outro ponto: “A segunda preocupação diz respeito a algumas variáveis difíceis de prever no momento do lançamento desse regulamento financeiro. A inflação está subindo em uma direção imprevisível e os custos de transporte também aumentaram em semanas de uma forma uma difícil de prever.” 

Stafano Domenicali, o CEO da Fórmula 1
Stafano Domenicali, o CEO da Fórmula 1
Foto: F1.com

O quanto a inflação “comeu” do teto orçamentário?

O teto só foi aprovado oficialmente em 2019, já sob comando da Liberty Media. A ideia inicial seria um limite de 175 milhões de dólares por ano para cada equipe a partir de 2021, mas o valor foi ajustado em 2020 em razão da pandemia, que apertou as coisas para diversas equipes. Ficou acertado um teto de 145 milhões para 2021, 140 milhões em 2022 e 135 milhões em 2023. 

As equipes da F1 se concentram no Reino Unido e na União Europeia. Se, sobre o valor de 140 milhões, definido em 2020, fosse aplicada a inflação média dessas regiões, o valor estaria em cerca de 148 milhões. Aumento médio de 6%. Já se levarmos em conta a desvalorização do dólar no mesmo período, a moeda referência para o regulamento, o valor deveria estar na casa de 153 milhões, ou 9% a mais. 

Acontece que a inflação tem apresentado tendência de alta na Europa. A inflação acumulada tem batido sucessivos recordes no Velho Continente, o que deve se agravar com a guerra na Ucrânia. Para as equipes da F1, isso significa que os recursos e despesas para investir em melhorias do carro estão mais caros, mas o limite orçamentário segue sendo o mesmo. Na prática, o dinheiro vale menos.

Zak Brown, mandatário da McLaren, já expôs que as equipes maiores estão tentando se valer de brechas para poder empenhar mais recursos, como tentaram no caso do impasse das corridas sprint (confira aqui e aqui). Agora, surge uma nova variável na mesa de negociação. 

Equipes como Ferrari, Mercedes e Red Bull têm caixa de sobra para aumentar os gastos, se assim forem autorizadas pela F1 (isso se não o fazem às escondidas...). A inflação pode ser um argumento para que esses times solicitem uma subida do teto. Já as esquadras menores, que trabalham mais abaixo do limite, podem ter dificuldades para empenhar mais recursos caso haja mudanças. Um eventual aumento do teto pode significar abrir novamente uma distância financeira importante entre os times se só alguns puderem acompanhá-lo. 

Domenicali sabe que vai haver gente batendo em sua porta para tratar sobre a questão muito em breve. Por enquanto, o tom conciliador impera: “Haverá discussões para encontrar as melhores soluções, mas sempre mantendo no centro o princípio de que devemos garantir a todos as mesmas possibilidades”, diz o italiano. 

Em breve, poderemos ver equipes puxando a corda para lados opostos nesse particular. E ficaremos de olho para ver quem tem mais força nesse possível cabo de guerra.

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