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O bom desempenho da Haas incomoda muita gente na F1

Foi só a Haas colocar seus carros no grupo da frente que Alpine e McLaren já se incomodaram...

21 mar 2022 - 14h19
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Haas comemora o 5º lugar de Magnussen. O sucesso incomoda...
Haas comemora o 5º lugar de Magnussen. O sucesso incomoda...
Foto: Haas / Divulgação

Já disse um velho militar que a guerra é uma outra forma de fazer política. E este escriba por várias vezes já escreveu que corrida não se vence só na pista. Mais uma vez, vemos isso tudo se repetir e novamente com a Haas...

Após o desempenho nos testes de pré-temporada no Bahrein, muitas vozes começaram a se levantar dizendo que o VF-22 nada mais era do que uma “Ferrari Branca”. E agora com os resultados do GP do Bahrein, a imprensa europeia dá conta de que Alpine e McLaren estariam consultando a FIA a respeito do relacionamento Haas x Ferrari.

Ambos estão ligados intimamente desde o início das operações do time americano. Gene Haas optou por fazer uma estrutura muito enxuta e viu uma oportunidade no regulamento para reduzir gastos. As regras preveem que construtor é aquele quem tem os direitos intelectuais sobre os projetos e produzem algumas partes que caracterizam o carro. E abriu-se a brecha para que várias partes do carro fossem compradas junto a outros fabricantes. 

Desta forma, Gene Haas fechou um acordo com a Dallara, localizada na Itália. E para fornecimento de motor, câmbio, suspensões e direção, contratou a Ferrari. Sua estrutura ficou da seguinte forma: área técnica na Itália, operacional na Inglaterra (antiga fábrica da Manor) e administrativa nos Estados Unidos.

Desde o início, esta formatação levantou suspeitas de que a Haas nada mais era do que uma Ferrari disfarçada. De fato, várias soluções eram inspiradas nos carros italianos, até porque se viam amarrados aos conceitos desenvolvidos em Maranello. Enquanto andava atrás, não houve problema. 

Só que em 2018, Grosjean e Magnussen foram figurinhas constantes no meio do pelotão. E isso incomodava equipes como McLaren e Renault, que tinham orçamentos bem mais polpudos e tinham desempenhos piores. Tanto se fez que, nesta temporada, conseguiram comprovar que a Haas estava com um assoalho fora do regulamento e perdeu alguns pontos obtidos. Mesmo assim, ficou em 5º lugar nos Construtores daquele ano.

Coincidentemente, à medida que a equipe ia caindo na tabela de classificação, as acusações iam caindo. E nos últimos anos, não se ouviu mais falar em “copiadora”. A Haas era simplesmente mais uma equipe cliente da Ferrari e ia celeremente para o fim do pelotão.

Mas com o novo regulamento técnico e – especialmente - o teto orçamentário, as coisas mudaram. A Ferrari historicamente tinha um dos maiores orçamentos da F1. Em 2019, estimou-se que a operação ficou em US$ 400 milhões (já incluindo os motores). Com o estabelecimento do limite, a equipe foi obrigada a um emagrecimento radical. Embora a F1 tenha dado um prazo adicional aos times principais para adequação, era um grande trabalho.

O que eles fizeram? A Haas incorporou parte do pessoal que seria despedido, o que não impactaria em seu orçamento, incluindo o Diretor Técnico Simone Resta (as alterações que resultaram no SF21 são atribuídas a ele). Em paralelo, a Ferrari criou uma divisão especial de competições, que prestaria serviços para terceiros. E quem foi o cliente? A Haas. Uma área foi criada nos escritórios em Maranello para acomodar a nova equipe técnica do time americano.

Além disso, o acordo para fornecimento de peças foi ainda mais estendido. Não é absurdo dizer que o Haas VF-22 é um americano que fala inglês com sotaque do sul dos Estados Unidos.

Se o carro não andasse bem, certamente não haveria chiadeira. Mas como houve a surpresa e o dinheiro grosso da premiação vem do Campeonato de Construtores, começou a reclamação em torno desta relação tão próxima entre Ferrari e Haas. 

Por um lado, a preocupação até procede: afinal de contas, em um contexto em que há uma restrição tão grande de recursos para desenvolvimento, ter um segundo time dentro de casa daria uma vantagem à Ferrari. Quem garante que não há troca de dados? Quem garante que não está se burlando o teto de gastos? Para a Alpine, isso não deixa de soar como inveja pois ela é a única fornecedora que não tem nenhuma equipe parceira, o que restringe o desenvolvimento. 

Já para a McLaren, é uma forma de defesa de seu faturamento. Embora tenha sido agressiva em sua estratégia comercial (falamos disso aqui), um bom desempenho na pista é primordial e garantir o fluxo de caixa também. Como o início de temporada parece ser problemático, lançar esta pedra acaba por ser uma maneira de restringir a competição.

A FIA deve receber esta reclamação, embora ainda não tenha sido formalizada até onde se saiba. A entidade tem pessoal monitorando esta situação de forma permanente, embora não haja provas de que cubra 100% da situação. A ver os próximos passos. Afinal, no fim, é tudo sobre dinheiro. 

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