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Ford Mustang Black Shadow provoca uma viagem no tempo

Com motor V8 5.0 de 466 cv e câmbio automático de dez marchas, o moderno esportivo americano deixa os saudosistas em dúvida

15 mai 2020 - 07h00
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A sexta geração do Ford Mustang é a melhor de todas, com grande requinte técnico.
A sexta geração do Ford Mustang é a melhor de todas, com grande requinte técnico.
Foto: Gabriel Marazzi / Guia do Carro

Ó, dúvida cruel! Estou aqui com um Ford Mustang Black Shadow de R$ 355 mil nas mãos e quero um automóvel que me faça voltar ao tempo dos muscle cars. Será que ele me atende? Quero viajar para uma época em que muita potência bruta e pouco controle era o usual -- o que para mim, adolescente ainda, era a maior diversão.

Nessa época, tive alguns desses carros, como um magnífico Chevrolet Camaro Z/28 70 e meio. Primeira versão da segunda geração do Camaro, esse modelo é chamado assim porque mudou no meio de 1970, ano em que conviveram a primeira e a segunda geração do carro. E a sigla Z/28 significava o top de potência, inclusive com carburador Quadrijet. Pena, acabei vendendo-o antes que esses veículos valorizassem muito.

A versão Black Shadow substituiu a GT e é a única vendida no Brasil.
A versão Black Shadow substituiu a GT e é a única vendida no Brasil.
Foto: Gabriel Marazzi / Guia do Carro

O Chevrolet Camaro sempre foi o grande rival do Ford Mustang, principalmente nos anos 60, e, assim como este último, foi ganhando potência e esportividade ao longo dos anos, até culminar na grande crise do petróleo em meados dos anos 70, quando os muscle cars perderam toda a sua força.

Tenho hoje, então, duas opções para matar meu desejo nostálgico de potência. A primeira é achar um legítimo muscle car dos anos 60/70 que esteja em bom estado e gastar uma graninha aperfeiçoando-o, para que se torne seguro e confiável. Isso porque carros de coleção muito originais servem apenas para passear por aí, não se prestam para acelerar pra valer. E a segunda opção é escolher um dos dois mais desejados carros atuais disponíveis oficialmente em nosso mercado, um Chevrolet Camaro ou um Ford Mustang.

O carro traz uma plaquinha para comemorar seus 55 anos de produção.
O carro traz uma plaquinha para comemorar seus 55 anos de produção.
Foto: Gabriel Marazzi / Guia do Carro

Vamos começar com o Ford Mustang. Não vou fazer uma análise puramente técnica, nem de desempenho, mas sim emocional. Com uma aparência que segue com relativa fidelidade os Ford Mustang mais ousados da sua história, o Mustang Black Shadow comemora os 55 anos do modelo, que começou sua saga em 1964. Apesar de o Mustang ter completado 55 anos em 2019, esta versão comemorativa tem ano-modelo 2020.

O Ford Mustang Black Shadow é baseado no Mustang GT Premium e o substitui, passando a ser a única oferta no catálogo da Ford no Brasil. As cores disponíveis são dez, incluindo as chamativas verde e laranja, mas este cinza Moscou, apesar de um tanto discreto, me pareceu ao mesmo tempo bem ousado, combinando bem com muitos detalhes em preto, como as rodas de 19” de diâmetro.

O painel do Ford Mustang é muito moderno e tem todos os controles necessários.
O painel do Ford Mustang é muito moderno e tem todos os controles necessários.
Foto: Gabriel Marazzi / Guia do Carro

A experiência de conduzir um Ford Mustang começa ao ligar o motor. O ronco característico do V8 ecoa em todas as direções e chega a emocionar. Dotado de tecnologia ainda indisponível nas versões originais do modelo, o ronco do motor do Mustang 2020 é controlado eletronicamente e ligeiramente mais agudo do que o dos motores V8 originais dos anos 60, inclusive tratado por estudos de fluxo do sistema esportivo dos escapamentos.

Ao volante, o Mustang oferece todo o conforto e a segurança dos carros modernos, inclusive com sistemas eletrônicos de controle de estabilidade e tração, de sensibilidade da direção, de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão, permanência na faixa e detecção de pedestres.

Há ainda vários modos eletrônicos de condução, como o normal, o esportivo, o esportivo plus, drag (arrancada), piso molhado e o configurável MyMode. A menos que alguém refizesse um Mustang original desde sua estrutura básica, nenhum clássico poderia ter todas essas “mordomias”.

Enormes discos de freio para segurar um carrão de 466 cv de potência.
Enormes discos de freio para segurar um carrão de 466 cv de potência.
Foto: Gabriel Marazzi / Guia do Carro

Tudo é legal a bordo do Ford Mustang Black Shadow, com direito a painel de instrumentos eletrônico de TFT, regulagem elétrica de posição e altura dos bancos, mas há alguns deslizes, como a regulagem manual da inclinação dos encostos e aquele horrível freio de estacionamento no console central que quase encosta no teto ao ser acionado. O carro merecia um freio eletrônico, não acham?

Não podemos esquecer, no entanto, que o Ford Mustang é um puro esportivo e esses detalhes podem facilmente ser relevados, principalmente se considerarmos algumas compensações, como o sistema Track Apps, que inclui cronômetro e controle de desempenho para sua utilização em uma pista fechada, como em um track day.

O motor é um V8 5.0 de 466 cv de potência e 556 Nm de torque.
O motor é um V8 5.0 de 466 cv de potência e 556 Nm de torque.
Foto: Gabriel Marazzi / Guia do Carro

O motor dianteiro do Ford Mustang Black Shadow é um V8 5.0 equipado com duplo comando de válvulas nos cabeçotes e dupla alimentação, injeção direta e indireta. Chamado de Coyote, esse motor rende potência de 466 cv e tem torque de 556 Nm. O câmbio é automático de dez marchas.

Certamente não dá para experimentar todo o potencial esportivo do Ford Mustang Black Shadow em vias urbanas, sob pena de, na distração, ser apanhado pelos controles de velocidades espalhados por todo o país. No uso urbano, realmente é difícil manter 40 ou 50 km/h, quando o carro “pede” para ser acelerado, mas em seus modos eletrônicos mais “civilizados”, é bem possível passear tranquilamente e com muito conforto.

Está aí mais uma vantagem de um clássico moderno em relação às suas versões originais. Um Mustang original não tem o desempenho de um atual e, mesmo que ele fosse aperfeiçoado para uma pilotagem esportiva, dificilmente manteria total dirigibilidade em todas as situações.

O novo Mustang até permite ser conduzido na grande cidade, mas não é a sua praia.
O novo Mustang até permite ser conduzido na grande cidade, mas não é a sua praia.
Foto: Gabriel Marazzi / Guia do Carro

Voltando ao dilema inicial, sei que seria difícil decidir entre um Ford Mustang Black Shadow 2020, que custa R$ 354.990, e um Ford Mustang original dos anos 60, logicamente escolhendo uma versão bastante especial que se aproximasse desse valor. Como exemplo, achei hoje um Ford Mustang Hard Top GT 1968 original, motor 302 V8, câmbio manual de quatro marchas, em impecável estado de conservação, por R$ 170.000, em uma loja especializada de São Paulo. Metade do investimento. Já um Ford Mustang Mach 1 1970, com motor 351 V8 e câmbio manual de quatro marchas, está anunciado em São Paulo por R$ 330.000. Pronto, já é possível comparar as duas opções de compra em igualdade de versões e valores.

Como negócio, eu ficaria com o antigo, que certamente não perderá valor com o tempo. Pelo contrário, um bom clássico sempre valoriza. Só que não é um carro para todos os dias e certamente não oferece o desempenho e a segurança do Black Shadow. Muitas razões existem para serem consideradas.

Não seria exagero afirmar que o Ford Mustang é um dos automóveis mais importantes da história. Concebido para ser um pony car no início dos anos 60, ele acabou caindo no gosto popular e evoluiu muito além disso. Pony cars eram os modelos populares, de baixo preço e fáceis de serem conduzidos e foi isso que, inicialmente, conquistou o mercado norte-americano em 1964, quando o Ford Mustang foi lançado.

Tem porta-malas, claro, mantendo sua proposta inicial dos anos 1960.
Tem porta-malas, claro, mantendo sua proposta inicial dos anos 1960.
Foto: Gabriel Marazzi / Guia do Carro

Com motor 2.8 de seis cilindros em linha, ele tinha apenas 100 cv de potência, razão pela qual a grande maioria dos compradores optava pela versão V8. Disponível nas carrocerias cupê e conversível, naquele mesmo ano foi lançada a carroceria fastback, a mais popular até hoje. A preferência pelos V8 fez com que, a cada ano, o modelo ficasse mais e mais potente, caracterizando o que se chamou de “muscle-cars”. No Brasil, o Ford Mustang era um modelo vendido normalmente pelos importadores até 1976, quando as importações de veículos foi proibida.

A segunda geração do Mustang surgiu em 1973, já bastante afetado pela crise mundial do petróleo. Menor e com motores pequenos, inclusive um quatro cilindros, eles competiam em um acirrado mercado contra os populares japoneses. A terceira carroceria do Mustang chegou em 1979. O estilo esportivo voltou, em parte, no Mustang 1993, com a carroceria mais parecida com a dos primeiros modelos.

Eu muitos anos atrás e meu único Mustang, um cupê 1967 todo estragado.
Eu muitos anos atrás e meu único Mustang, um cupê 1967 todo estragado.
Foto: Gabriel Marazzi / Guia do Carro

Foi apenas em 2004, no entanto, que o Ford Mustang, em sua quinta geração, voltou ao seu mais puro estilo original, e daí ressurgiu o seu sucesso. A geração atual, a sexta, foi lançada no fim de 2013 e é considerada a melhor de todos os tempos, introduzindo suspensões independentes que melhoraram extraordinariamente a sua dirigibilidade, em especial em utilização esportiva. O Ford Mustang se tornou, então, um modelo mundial, vendido oficialmente em muitos mercados, inclusive o brasileiro, desde 2018.

Há muitas histórias envolvendo o Ford Mustang, a oficial e as particulares, de cada um de nós. Desde que conheço os automóveis, o Ford Mustang foi, para mim, um nome de respeito, sempre ligado à esportividade. E tive apenas um Ford Mustang na minha lista de automóveis, um cupê 1967 todo estragado. O carro estava tão ruim que eu costumava dizer que o Godzila o havia mastigado e cuspido. Vendi nos anos 80 pela exorbitante quantia de 100 dólares.

Minha lembrança de Mustang é essa: a vantagem dos antigos é que não desvalorizam.
Minha lembrança de Mustang é essa: a vantagem dos antigos é que não desvalorizam.
Foto: Gabriel Marazzi / Guia do Carro
Guia do Carro
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