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Guia do Carro

BMW vai contra a maré das alemãs e bate recordes de venda

Análise: ao contrário das rivais Audi e Mercedes, a BMW continua produzindo carros no Brasil e consolida sua liderança no segmento premium

19 jun 2021 - 06h00
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BMW 320i: modelo mais vendido teve 2.255 unidades fabricadas no Brasil em 2021.
BMW 320i: modelo mais vendido teve 2.255 unidades fabricadas no Brasil em 2021.
Foto: BMW / Divulgação

A gloriosa indústria automobilística alemã tem cinco marcas mundialmente famosas: Audi, BMW, Mercedes-Benz, Porsche e Volkswagen. Entre elas, três disputam palmo a palmo qualquer espaço no mundo dos carros: Audi, BMW e Mercedes, que fazem automóveis de passeio similares. No Brasil, essa disputa se intensificou em 2016, quando as três marcas passaram a vender carros fabricados no país.

Até 2015, a BMW era a terceira força nessa guerra particular do trio-de-aço alemão. Quando a produção na fábrica de Araquari (SC) chegou ao seu auge, em 2016, a BMW superou a Audi e ficou três anos como vice-líder. Mas, nos últimos meses, Audi e Mercedes desistiram da produção local e a BMW ficou sozinha. Por isso, consolida uma liderança que vem desde 2019, quando bateu seu recorde de vendas no país: 13.142 unidades.

Como a Audi e a Mercedes agora só importam carros, a BMW passou a dominar o nicho de carros premium alemães. Em 2018, a BMW era vice-líder e tinha uma participação de 35,4% nas vendas. Em 2019, já como líder, passou a 38,6%. Em 2020, subiu para 43,5%. Agora, com cinco meses de 2021, a BMW detém 49,2% do segmento. A Mercedes tem 28,3% e a Audi tem 22,4%.

Hoje, 74% dos carros vendidos pela BMW no Brasil são produzidos em Santa Catarina. O BMW 320i, um sedã médio, é o único carro premium posicionado entre os 50 automóveis de passeio mais vendidos do país (considerando todas as marcas no mercado).

BMW X1 teve 1.128 unidades produzidas em Araquari este ano.
BMW X1 teve 1.128 unidades produzidas em Araquari este ano.
Foto: BMW / Divulgação

Segundo o diretor comercial da BMW do Brasil, Roberto Carvalho, a produção local é vantajosa para a marca. “Produzindo no Brasil, nós temos mais agilidade para atender as necessidades dos nossos clientes”, ele disse. “Além de não demorar na entrega do carro, podemos oferecer o carro na cor desejada e, eventualmente, criar séries especiais.” Ou seja: edições comemorativas de um modelo, trazendo mais exclusividade.

Duas séries especiais já foram feitas: uma do sedã 320i pelos cinco anos da fábrica de Araquari (inaugurada em 2014) e outra do SUV X1 pelos 25 anos da BMW no Brasil. Além do 320i e do X1, a marca produz em Santa Catarina os SUVs X3 e X4, mas em volumes bem menores. Outra vantagem de ter a fábrica local, segundo Carvalho, é a possibilidade de exportar. Em 2016 e 2017 o BMW X1 foi exportado para os Estados Unidos.

Não apenas a BMW, mas também as outras marcas que produzem no país estão habilitadas a fazer carros de classe mundial. Entretanto, os custos locais de produção e as incertezas econômicas e fiscais nem sempre permitem essa operação. Foi por esse motivo que a Mercedes-Benz encerrou a produção dos modelos Classe C e GLA na fábrica de Itirapina (SP), em dezembro de 2020.

BMW X4 teve 265 unidades produzidas no Brasil em 2021.
BMW X4 teve 265 unidades produzidas no Brasil em 2021.
Foto: BMW / Divulgação

No caso da Audi, a produção em São José dos Pinhais (PR) foi oficialmente suspensa, mas não totalmente interrompida, em fevereiro deste ano. A empresa diz que a decisão está nas mãos da matriz, na Alemanha, que ficou insatisfeita pelo não recebimento de créditos de IPI pela produção nacional, como previa o Inovar-Auto (governo Dilma, 2013 a 2017). Juntas, Audi, BMW e Mercedes têm créditos de R$ 289 milhões junto ao governo brasileiro.

Alheia às decisões da Audi e da Mercedes, a BMW aproveitou para crescer no mercado. Segundo Roberto Carvalho, o volume atual justifica a produção nacional. Em 2020, a produção local chegou a 8 mil carros. A meta para 2021 era de 9 mil unidades, mas já foi revista para 9,9 mil no último forecast, pois as vendas de carros nacionais já atingiram 3,8 mil unidades e o mercado costuma ser mais aquecido no segundo semestre.

VENDAS DO TRIO-DE-AÇO ALEMÃO
ANO AUDI BMW MERCEDES
2016 11.599 11.857 13.155
2017 9.910 10.165 14.340
2018 8.677 11.369 12.110
2019 8.707 13.142 12.206
2020 6.953 12.429 9.188
2021* 2.351 5.155 2.968
  • *Até Maio. Fonte: Fenabrave. 

A empresa investiu R$ 1,275 bilhão no Brasil desde 2014. Para iniciar, recebeu um financiamento de R$ 200 milhões da Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (Badesc). Além disso, a fábrica da BMW está isenta de impostos municipais por 15 anos. Enquanto durou o Inovar-Auto, não pagou o imposto extra de 30% para importar carros.

Diferentemente de outras marcas, a BMW não tem ciclos de investimentos, mas sim projetos. Um dos recentes projetos para o Brasil foi a digitalização. Mais do que fazer carros conectados, a BMW avançou nas vendas digitais. No ano passado, quando todo o mercado parou por causa da pandemia, a BMW foi a primeira a abrir uma loja virtual no Instagram.

“Foi muito simples naquele momento, bastou habilitar o botão de compra, pois tudo já estava preparado”, comenta Roberto Carvalho. “Além de abrir canais de vendas no Instagram e no Facebook, colocamos 2 mil carros seminovos no Mercado Livre e vendemos 600”, revela. Segundo o diretor comercial, 48% das interações on-line da BMW viraram vendas no Instagram, no Facebook ou no Mercado Livre, concretizadas pela rede de 50 concessionárias.

BMW X3 teve apenas 28 unidades fabricadas em Santa Catarina este ano.
BMW X3 teve apenas 28 unidades fabricadas em Santa Catarina este ano.
Foto: BMW / Divulgação

Embora continue fiel à produção nacional, isso não significa que a BMW desistiu da briga no lucrativo segmento de carros de luxo (todos importados). Nesse campo, além da Audi e da Mercedes, a disputa envolve também marcas como Volvo, Porsche, Jaguar e Land Rover. Por isso, o catálogo da BMW do Brasil tem até o M8 Grand Coupé Competition, um supercarro com o superpreço de R$ 1,259 mil.

A atual aposta da BMW é a nova geração do M3 – o icônico esportivo cuja base é a Série 3, mas é praticamente um carro de corrida que pode rodar nas ruas. Com bancos de competição e vários itens em carbono, seu preço chega a R$ 850 mil.

Mas é na produção nacional que a BMW se diferencia. Com a desistência da Audi e da Mercedes, a marca que mais a ameaça em vendas é a sueca Volvo. Focada em SUVs híbridos plug-in, a Volvo passou a ser a segunda força no segmento de carros premium e já emplacou mais de 3 mil carros em 2021.

Portanto, se incluirmos a Volvo nesse bolo, a divisão fica assim: 38,1% para a BMW, 22,6% para a Volvo, 21,9% para a Mercedes e 17,4% para a Audi. E foi justamente numa disputa particular com a Volvo que a BMW conseguiu uma façanha: o sedã 320i reverteu uma tendência de queda dos sedãs em relação aos SUVs. Ele já emplacou 2,3 mil unidades, contra 1,5 mil do Volvo XC40, o SUV premium da moda.

BMW 330e: modelo híbrido vem importado e faz parte da estratégia do Série 3.
BMW 330e: modelo híbrido vem importado e faz parte da estratégia do Série 3.
Foto: BMW / Divulgação

Os últimos anos mostram que o Brasil é estratégico para a BMW. Por isso, os novos apps mundiais da marca foram desenvolvidos com apoio da engenharia brasileira. Além disso, segundo Roberto Carvalho, a fábrica de Araquari poderá, no futuro, ser adequada para a produção de veículos eletrificados (híbridos plug-in ou totalmente elétricos).

Globalmente, a BMW pretende ter pelo menos um carro totalmente elétrico em 90% de sua linha até 2025. A primeira fase foi a produção dos modelos i3 (primeiro carro elétrico vendido no Brasil) e i8. Recentemente, a BMW apresentou os modelos iX, iX3 e i4. Carvalho revelou ao GUIA DO CARRO que os próximos elétricos serão os modelos Série 7, X1 e Série 5.

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