BMW vai contra a maré das alemãs e bate recordes de venda
Análise: ao contrário das rivais Audi e Mercedes, a BMW continua produzindo carros no Brasil e consolida sua liderança no segmento premium
A gloriosa indústria automobilística alemã tem cinco marcas mundialmente famosas: Audi, BMW, Mercedes-Benz, Porsche e Volkswagen. Entre elas, três disputam palmo a palmo qualquer espaço no mundo dos carros: Audi, BMW e Mercedes, que fazem automóveis de passeio similares. No Brasil, essa disputa se intensificou em 2016, quando as três marcas passaram a vender carros fabricados no país.
Até 2015, a BMW era a terceira força nessa guerra particular do trio-de-aço alemão. Quando a produção na fábrica de Araquari (SC) chegou ao seu auge, em 2016, a BMW superou a Audi e ficou três anos como vice-líder. Mas, nos últimos meses, Audi e Mercedes desistiram da produção local e a BMW ficou sozinha. Por isso, consolida uma liderança que vem desde 2019, quando bateu seu recorde de vendas no país: 13.142 unidades.
Como a Audi e a Mercedes agora só importam carros, a BMW passou a dominar o nicho de carros premium alemães. Em 2018, a BMW era vice-líder e tinha uma participação de 35,4% nas vendas. Em 2019, já como líder, passou a 38,6%. Em 2020, subiu para 43,5%. Agora, com cinco meses de 2021, a BMW detém 49,2% do segmento. A Mercedes tem 28,3% e a Audi tem 22,4%.
Hoje, 74% dos carros vendidos pela BMW no Brasil são produzidos em Santa Catarina. O BMW 320i, um sedã médio, é o único carro premium posicionado entre os 50 automóveis de passeio mais vendidos do país (considerando todas as marcas no mercado).
Segundo o diretor comercial da BMW do Brasil, Roberto Carvalho, a produção local é vantajosa para a marca. “Produzindo no Brasil, nós temos mais agilidade para atender as necessidades dos nossos clientes”, ele disse. “Além de não demorar na entrega do carro, podemos oferecer o carro na cor desejada e, eventualmente, criar séries especiais.” Ou seja: edições comemorativas de um modelo, trazendo mais exclusividade.
Duas séries especiais já foram feitas: uma do sedã 320i pelos cinco anos da fábrica de Araquari (inaugurada em 2014) e outra do SUV X1 pelos 25 anos da BMW no Brasil. Além do 320i e do X1, a marca produz em Santa Catarina os SUVs X3 e X4, mas em volumes bem menores. Outra vantagem de ter a fábrica local, segundo Carvalho, é a possibilidade de exportar. Em 2016 e 2017 o BMW X1 foi exportado para os Estados Unidos.
Não apenas a BMW, mas também as outras marcas que produzem no país estão habilitadas a fazer carros de classe mundial. Entretanto, os custos locais de produção e as incertezas econômicas e fiscais nem sempre permitem essa operação. Foi por esse motivo que a Mercedes-Benz encerrou a produção dos modelos Classe C e GLA na fábrica de Itirapina (SP), em dezembro de 2020.
No caso da Audi, a produção em São José dos Pinhais (PR) foi oficialmente suspensa, mas não totalmente interrompida, em fevereiro deste ano. A empresa diz que a decisão está nas mãos da matriz, na Alemanha, que ficou insatisfeita pelo não recebimento de créditos de IPI pela produção nacional, como previa o Inovar-Auto (governo Dilma, 2013 a 2017). Juntas, Audi, BMW e Mercedes têm créditos de R$ 289 milhões junto ao governo brasileiro.
Alheia às decisões da Audi e da Mercedes, a BMW aproveitou para crescer no mercado. Segundo Roberto Carvalho, o volume atual justifica a produção nacional. Em 2020, a produção local chegou a 8 mil carros. A meta para 2021 era de 9 mil unidades, mas já foi revista para 9,9 mil no último forecast, pois as vendas de carros nacionais já atingiram 3,8 mil unidades e o mercado costuma ser mais aquecido no segundo semestre.
ANO | AUDI | BMW | MERCEDES |
2016 | 11.599 | 11.857 | 13.155 |
2017 | 9.910 | 10.165 | 14.340 |
2018 | 8.677 | 11.369 | 12.110 |
2019 | 8.707 | 13.142 | 12.206 |
2020 | 6.953 | 12.429 | 9.188 |
2021* | 2.351 | 5.155 | 2.968 |
- *Até Maio. Fonte: Fenabrave.
A empresa investiu R$ 1,275 bilhão no Brasil desde 2014. Para iniciar, recebeu um financiamento de R$ 200 milhões da Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (Badesc). Além disso, a fábrica da BMW está isenta de impostos municipais por 15 anos. Enquanto durou o Inovar-Auto, não pagou o imposto extra de 30% para importar carros.
Diferentemente de outras marcas, a BMW não tem ciclos de investimentos, mas sim projetos. Um dos recentes projetos para o Brasil foi a digitalização. Mais do que fazer carros conectados, a BMW avançou nas vendas digitais. No ano passado, quando todo o mercado parou por causa da pandemia, a BMW foi a primeira a abrir uma loja virtual no Instagram.
“Foi muito simples naquele momento, bastou habilitar o botão de compra, pois tudo já estava preparado”, comenta Roberto Carvalho. “Além de abrir canais de vendas no Instagram e no Facebook, colocamos 2 mil carros seminovos no Mercado Livre e vendemos 600”, revela. Segundo o diretor comercial, 48% das interações on-line da BMW viraram vendas no Instagram, no Facebook ou no Mercado Livre, concretizadas pela rede de 50 concessionárias.
Embora continue fiel à produção nacional, isso não significa que a BMW desistiu da briga no lucrativo segmento de carros de luxo (todos importados). Nesse campo, além da Audi e da Mercedes, a disputa envolve também marcas como Volvo, Porsche, Jaguar e Land Rover. Por isso, o catálogo da BMW do Brasil tem até o M8 Grand Coupé Competition, um supercarro com o superpreço de R$ 1,259 mil.
A atual aposta da BMW é a nova geração do M3 – o icônico esportivo cuja base é a Série 3, mas é praticamente um carro de corrida que pode rodar nas ruas. Com bancos de competição e vários itens em carbono, seu preço chega a R$ 850 mil.
Mas é na produção nacional que a BMW se diferencia. Com a desistência da Audi e da Mercedes, a marca que mais a ameaça em vendas é a sueca Volvo. Focada em SUVs híbridos plug-in, a Volvo passou a ser a segunda força no segmento de carros premium e já emplacou mais de 3 mil carros em 2021.
Portanto, se incluirmos a Volvo nesse bolo, a divisão fica assim: 38,1% para a BMW, 22,6% para a Volvo, 21,9% para a Mercedes e 17,4% para a Audi. E foi justamente numa disputa particular com a Volvo que a BMW conseguiu uma façanha: o sedã 320i reverteu uma tendência de queda dos sedãs em relação aos SUVs. Ele já emplacou 2,3 mil unidades, contra 1,5 mil do Volvo XC40, o SUV premium da moda.
Os últimos anos mostram que o Brasil é estratégico para a BMW. Por isso, os novos apps mundiais da marca foram desenvolvidos com apoio da engenharia brasileira. Além disso, segundo Roberto Carvalho, a fábrica de Araquari poderá, no futuro, ser adequada para a produção de veículos eletrificados (híbridos plug-in ou totalmente elétricos).
Globalmente, a BMW pretende ter pelo menos um carro totalmente elétrico em 90% de sua linha até 2025. A primeira fase foi a produção dos modelos i3 (primeiro carro elétrico vendido no Brasil) e i8. Recentemente, a BMW apresentou os modelos iX, iX3 e i4. Carvalho revelou ao GUIA DO CARRO que os próximos elétricos serão os modelos Série 7, X1 e Série 5.