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Conheça a segunda geração de startups de Florianópolis

Na esteira de Resultados Digitais, Conta Azul e Decora, novatas despontam na cena regional de tecnologia

25 jul 2018 - 05h12
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Para quem viaja bastante de avião ou concentra seus gastos no cartão de crédito, administrar os pontos de vários programas de fidelidade pode ser uma grande confusão. É para isso que o empreendedor Bruno Nissental montou a Oktoplus, startup que hoje administra 800 mil contas e mais de 11 bilhões de pontos (avaliados em cerca de R$ 300 milhões) de usuários do País todo, a partir de Florianópolis.

"Sou um sortudo: pude vir empreender e ao mesmo tempo ter qualidade de vida", diz ele, que cresceu em São Paulo e se mudou de mala, sem cuia, para a capital catarinense em 2013. Cinco anos depois, sua ideia virou uma das mais interessantes empresas da segunda geração de startups de Santa Catarina, ao lado de Meetime, Exact Sales e Hórus Aeronaves.

Fundadas a partir de 2013, elas começam a chamar atenção por serem mais diversas que a primeira "safra" de startups da região, cujos produtos e serviços eram voltados para o mercado corporativo. A Oktoplus, por exemplo, é uma rara startup cujo produto é voltado para consumidores, permitindo que os usuários vendam suas milhas ou comprem pontos para resgatar passagens ou produtos. Já a Hórus, por sua vez, fabrica drones para monitorar plantações, vendendo as aeronaves e também fornecendo mapeamento para agricultores.

As novatas nasceram num ecossistema mais desenvolvido, com aceleradoras, investidores e mentores - entre eles, os fundadores das "veteranas" - prontos para ajudá-las. "É uma geração melhor que a nossa, com mais conhecimento e mais recursos para procurar", avalia Eric Santos, presidente executivo da startup de marketing digital Resultados Digitais (RD) - e mentor de vários nomes da segunda geração. Maior caso de sucesso da região, a RD hoje emprega cerca de 650 pessoas na cidade e já tem escritórios na América Latina.

Pioneiros. A vocação de Florianópolis para o setor de tecnologia é uma história que tem quase quatro décadas. Naquela época, a capital catarinense era capaz de capacitar bons engenheiros, graças aos cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que não só formavam os moradores da região, mas também "forasteiros".

Muitos não tinham onde trabalhar quando se formavam, uma vez que a cidade não possuía fábricas. "Se houvesse indústrias, esses jovens estariam empregados rapidamente", explica José Eduardo Fiates, superintendente da Fundação Centros de Referência de Tecnologias Inovadoras (Certi), criada em 1984 pelo governo e pela UFSC para realizar pesquisas e transferir o conhecimento acadêmico para o mercado. "Sem elas, alguns iam trabalhar no governo, mas os mais inquietos começaram a criar empresas."

Entre elas, estão companhias como Dígitro, Softplan e Senior, que fazem sistemas de gestão para empresas e governos. Juntas, elas empregam milhares de pessoas - hoje, um a cada 40 habitantes de Floripa trabalha no setor, segundo dados da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), divulgados na semana passada. "É uma ilha, todo mundo se conhece. As pessoas se esbarram na mesma pizzaria no sábado à noite", diz Rafael Assunção, cofundador e diretor de operações da startup Decora.

No final dos anos 2000, surgiu a primeira geração de startups da cidade. Inspirada por casos como Twitter e Facebook, ela apostou suas fichas em resolver problemas de empresas - como contabilidade, no caso da Conta Azul, ou marketing, na Resultados Digitais.

Rivalidade. A vocação para atender o mercado corporativo permanece no DNA de algumas das empresas da segunda geração, mas de forma sofisticada: há hoje companhias capazes de se declararem abertamente concorrentes, como a Exact Sales e a Meetime. Fundada em 2015 por Théo Orosco, a Exact criou um sistema que ajuda vendedores a filtrar quais serão seus melhores clientes. "Nosso software faz a triagem para facilitar o trabalho do vendedor na hora H", explica Orosco. Hoje, a empresa tem 100 funcionários e almeja e faturar R$ 17 mi em 2018.

Já a Meetime tem um serviço de comunicação para vendas à distância - reduzindo o custo de mandar vendedores a campo. "Não fazemos a mesma coisa, mas o cliente vai contratar uma ou outra", diz Diego Wagner, cofundador da startup.

A Meetime mostra bem como sua geração teve apoio da primeira. A empresa só conseguiu ir em frente graças aos R$ 170 mil aportados pela aceleradora Darwin Starter, uma das principais da região. "Na primeira semana, um dos nossos mentores disse que a gente tinha que ir para os EUA pesquisar modelos de negócio", lembra Wagner. "Eu tinha só 19 centavos na conta." Atualmente, a empresa tem 31 funcionários e planeja faturar R$ 2 milhões em 2018. "Há dois anos, não ganhávamos nada."

Desafios. Para continuar sua trajetória de crescimento, essas novas startups têm obstáculos a superar. O principal deles, dizem os empreendedores, é contratar programadores. "Acabamos tendo que trazer gente de fora daqui: da área de desenvolvimento, quase ninguém é de Floripa", afirma Orosco.

Outro problema é a falta de capital: hoje, até há fundos de investimentos na cidade (C Ventures e BZ Plan), mas ainda é pouco. Segundo dados da Acate, há hoje R$ 280 milhões disponíveis para aportes na região. "Nossa meta é incentivar o setor para chegar a R$ 1 bilhão em cinco anos", diz Daniel Leipnitz, presidente da associação. Enquanto isso não acontece, a saída é buscar dinheiro em São Paulo ou até fora do País - saída encontrada pelas veteranas.

Além disso, Florianópolis ainda não é São Paulo, o grande centro para startups da América Latina: é preciso ir à capital paulista para conquistar clientes. "Quer saber quais são as startups daqui que estão crescendo?", instiga Assunção, da Decora. "O melhor jeito é ir ao aeroporto de Florianópolis numa terça de manhã e ver quem está indo para São Paulo."

*O repórter viajou a Florianópolis (SC) a convite da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate)

Estadão
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