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Novos 'unicórnios' explodem em 2021, mas status ainda mantém 'magia'

Cenário pós-pandemia facilita o nascimento de startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão

23 jun 2021 - 17h03
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Unicórnios não existem para além da imaginação humana. Mas eles são bem reais no mundo das startups. Para uma empresa de tecnologia, tornar-se unicórnio significa superar a poderosa marca de US$ 1 bilhão de avaliação de mercado. Por ser algo raro, é que a distinção é tão honrosa para investidores e empreendedores. Porém, em 2021, isso parece estar mudando com a expansão do clube de vitoriosas e, diante desse estouro global, surgem questionamentos se o status ainda serve para marcar as mais notáveis do mundo.

De acordo com a consultoria CB Insights, em 2021 há um número recorde de startups que se tornaram unicórnio: foram 209 até 22 de junho. O número supera com folga as turmas de 2020 (120), de 2019 (123) e de 2018 (122). No mundo todo, já são 725. Os motivos, dizem especialistas, vão além daquilo que essas empresas oferecem.

Um deles é a alta adoção de tecnologia durante a pandemia de covid-19, que alavancou não só as gigantes do setor (Apple, Amazon, Microsoft e Google tiveram no ano passado desempenho financeiro recorde), mas também as startups, que aproveitaram a onda para surfar com os grandes tubarões do mercado. Setores como finanças, comércio eletrônico e logística atingiram novo patamar durante o ano passado.

Além disso, a queda global dos juros básicos, outra consequência da pandemia, aumentou o apetite por risco, fazendo crescer a demanda por investimentos no único setor em alta na renda variável, o de tecnologia.

"Com tanta liquidez no mercado e menos empresas disponíveis para investir, a avaliação dessas startups sobe mais rapidamente e é por isso que vemos cada vez mais unicórnios", explica Gustavo Araújo, presidente e fundador da empresa de inovação Distrito. "Inclusive, pode existir empresa por aí que talvez nem fosse unicórnio em um momento de taxa de juros mais equilibrada."

Revisão da marca

Apesar do cenário composto por fatores externos a aquilo que as startups fazem, o mercado não vê motivo para rever o status ou criar novas distinções — ao menos por enquanto. Ser um unicórnio, afinal, parece ainda guardar certa magia.

"Esse é um marco para ser revisado só daqui a 20 ou 30 anos, quando completarmos a transição de uma economia analógica para uma totalmente digital. Todo mundo já vai ter virado unicórnio até lá", afirma Araújo.

Cristiano Freitas, diretor financeiro da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), acredita que haverá a popularização de novos termos, como os ainda mais raros "decacórnios", as startups avaliadas em mais de US$ 10 bilhões (são cerca de 33 em todo o mundo, segundo a CB Insights). "Seria como subir a régua", explica.

Para Diego Pérez, da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), ainda é importante ter maneiras de identificar um grupo seleto das empresas. Ele explica que a diferença do momento atual para anos anteriores é que se tornar unicórnio virou o início de uma jornada global: "Até pouco tempo atrás, esse seria o último estágio antes de abrir capital na bolsa, mas hoje é o primeiro nível para se tornar uma empresa mundial. Continua sendo um marco, mas mudou o momento da jornada," diz.

DNA

Segundo os especialistas, carregar o status indica que a empresa conseguiu "provar" o seu modelo de negócio. Isto é, existe uma base de clientes que pode crescer porque o produto é viável.

A distinção é ainda mais importante no mercado brasileiro, pois, apesar da explosão global, o clube de unicórnios nacionais é seleto. De 2016 até hoje, segundo a ABStartups, o Brasil gerou apenas 16 companhias avaliadas em mais de US$ 1 bilhão - elas totalizam apenas 0,11% de todo o ecossistema nacional.

Dentro desse pequeno grupo, apenas um nome é um gigante mundial: o Nubank, com valor superior a US$ 30 bilhões, o que faz da empresa a sétima maior startup do mundo e nosso único decacórnio, de acordo com o ranking da CB Insights. No levantamento nacional, o QuintoAndar aparece em segundo, com avaliação de US$ 4 bilhões.

O nome mais novo a se juntar publicamente ao grupo é a Hotmart, dedicada a ajudar na criação de conteúdo de influenciadores digitais para a internet. Discreta, a startup mineira demorou 13 meses para anunciar que superou a marca de US$ 1 bi, em fevereiro de 2020 — o movimento é diferente do que faz o mercado, que costuma fazer barulho.

"Tornar-se unicórnio nunca foi nosso objetivo, mas é óbvio que isso é bom porque temos mais capital e a chance de investir no próprio produto e também no mercado de startups", explica o diretor global de negócios estratégicos da Hotmart, Alexandre Abramo. Desde então, a companhia diz ter como principal compromisso ajudar o ecossistema a inovar, realizando aportes individuais e até aquisições — o objetivo é ajudar a formar eventuais companhias parceiras e a fortalecer o setor como um todo.

Pérez, da ABFintechs, aponta que existe um efeito cadeia ao se atingir o marco. Segundo ele, realizar aquisições são essenciais para que o unicórnio continue se expandindo de forma acelerada. Como efeito, isso permite ao criador da startup comprada ter um retorno antecipado do próprio investimento e esse dinheiro acaba sendo usado para criar novas startups, aquecendo o mercado.

"Um unicórnio é uma entidade importante para o ecossistema. Ele é uma peça-chave para que os empreendedores continuem investindo", explica Pérez.

Estadão
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