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Saiba o que é mito e o que é verdade na suplementação com selênio e seus efeitos sobre a glândula tireoide

O selênio é um micronutriente essencial para o controle e a remissão de problemas na tireoide. Mas sua prescrição indiscriminada extrapola o que os dados atuais permitem afirmar sobre os efeitos terapêuticos deste elemento químico

30 dez 2025 - 09h27
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Nos últimos anos, o selênio passou a ser visto com frequência em redes sociais, nas prateleiras de suplementos e consultórios. Fala-se dele como um aliado da imunidade, da tireoide, da fertilidade e até da prevenção de doenças crônicas. Parte desse interesse tem base científica: o selênio é um micronutriente essencial e participa de processos fundamentais do organismo. Outra parte, porém, nasce de extrapolações apressadas de resultados ainda limitados, o que ajuda a entender por que o tema divide opiniões.

A discussão vem ganhando força especialmente no campo das doenças da tireoide, um conjunto de condições muito mais comuns do que se imagina. Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que cerca de 750 milhões de pessoas no mundo convivem com alguma doença relacionada a essa glândula endócrina. No Brasil, cálculos da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) sugerem que até 60% da população desenvolverá alguma alteração tireoidiana ao longo da vida.

Localizada na região do pescoço, a tireoide produz os hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina), que regulam o metabolismo, influenciam a fertilidade e participam do funcionamento de órgãos vitais, como coração e cérebro. Entre as suas alterações mais frequentes estão o hipotireoidismo (produção insuficiente de hormônios) e o hipertireoidismo (produção excessiva).

O risco de ter níveis baixos de selênio no organismo

Nos anos 1990, pesquisadores identificaram que o selênio integra enzimas fundamentais para a ativação dos hormônios tireoidianos. A partir daí, o mineral passou a ser investigado como possível aliado no manejo de doenças da tireoide — especialmente as de origem autoimune.

Níveis baixos de selênio, de acordo com estudos observacionais, podem estar associados a maiores riscos de doenças benignas da tireoide. Além disso, pesquisas epidemiológicas internacionais relacionam a deficiência do mineral a um risco aumentado de tireoidite autoimune (quando o sistema imunológico ataca a tireoide), como a tireoidite de Hashimoto (inflamação crônica que costuma levar ao hipotireoidismo) e a doença de Graves (autoimune associada ao hipertireoidismo).

Em pacientes com quadros graves, estudos apontam que a suplementação de selênio, quando utilizada como complemento ao tratamento convencional, pode estar associada a uma remissão mais rápida dos sintomas e melhora da qualidade de vida.

É justamente nesse ponto que a discussão precisa ser conduzida com mais cuidado e rigor científico. O fato de o selênio ser um micronutriente essencial não autoriza sua prescrição indiscriminada. Parte da difusão sobre as qualidades do mineral extrapola o que os dados disponíveis permitem afirmar com segurança.

Fama exagerada e mitos

Um dos mitos mais recorrentes é de que o selênio fortalece a imunidade e previne doenças de forma ampla. Na prática, ele é necessário para o funcionamento adequado do sistema imunológico, mas não há evidência de que suplementar acima das necessidades fisiológicas traga benefícios adicionais para pessoas sem deficiência.

Outro argumento frequentemente difundido é o de que o selênio teria efeito protetor contra câncer e doenças cardiovasculares. Ensaios clínicos de grande porte não confirmaram essa hipótese de forma consistente. A literatura científica indica que a suplementação indiscriminada não reduz o risco dessas doenças e, em alguns contextos, pode estar associada a efeitos adversos.

Há, no entanto, consensos bem estabelecidos. O selênio é um micronutriente essencial, mas o organismo necessita dele em pequenas quantidades. É importante também chamar a atenção para o fato de que a margem entre a dose adequada e a dose potencialmente tóxica é estreita. Em grande parte da população, especialmente em países como o Brasil, a alimentação habitual já fornece selênio suficiente, sem necessidade de suplementação.

Uso por gestantes e situações específicas

Quando o foco se volta para gestantes, a interpretação das evidências exige ainda mais cautela. Consensos internacionais não recomendam rotineiramente a suplementação de selênio para grávidas com tireoidite de Hashimoto (doença autoimune da tireoide), citando inconsistência dos resultados e possíveis riscos associados a doses elevadas.

Ao mesmo tempo, estudos e revisões publicados entre 2024 e 2025 sugerem que níveis baixos de selênio no organismo materno estão associados a desfechos adversos da gestação, incluindo maior atividade autoimune e risco aumentado de tireoidite pós-parto (inflamação da tireoide após o parto). Esses estudos indicam, ainda, que a resposta à suplementação não é homogênea. Os efeitos variam conforme o nível basal de selênio, a atividade da doença e o acompanhamento clínico.

Uma revisão que analisou 21 estudos envolvendo 1.610 pacientes com tireoidite de Hashimoto concluiu que a reposição adequada e controlada esteve associada à redução de autoanticorpos, diminuição dos níveis de TSH e melhora modesta da qualidade de vida.

É necessário sublinhar que o selênio não trata doenças da tireoide de forma isolada. Quando há deficiência, sua suplementação pode atuar como apoio no controle da inflamação e da autoimunidade, mas sempre em conjunto com o tratamento medicamentoso indicado.

Quando o excesso vira problema

O selênio é obtido principalmente pela alimentação, por meio da ingestão de carnes, frutos do mar, ovos e grãos. A dose diária recomendada para adultos é de 55 microgramas por dia, podendo chegar a 60 microgramas para gestantes e 70 microgramas para lactantes. O limite máximo seguro é de 400 microgramas por dia. A castanha-do-pará concentra quantidades elevadas do mineral: uma a duas unidades ao dia podem ser suficientes para atingir a recomendação diária.

Os potenciais benefícios associados ao selênio não anulam os riscos do uso indiscriminado. A literatura científica mostra que a proximidade entre dose adequada e dose tóxica exige atenção. A ingestão elevada pode provocar queda de cabelo, fragilidade das unhas, fadiga, náusea, diarreia e erupções cutâneas. Em quadros mais graves, há registros de alterações neurológicas e comprometimento renal ou cardíaco.

Diante desse cenário, a suplementação só deve ser considerada após avaliação clínica e laboratorial, especialmente em pessoas com doenças autoimunes da tireoide, infertilidade ou outras condições específicas.

As evidências disponíveis sugerem que o selênio pode ocupar um lugar complementar no manejo de algumas doenças da tireoide, sobretudo nos distúrbios autoimunes. No entanto, o conjunto de evidências disponível informa que o uso do selênio deve continuar restrito a situações específicas, com dose e indicação bem definidas. O alerta permanece: mais selênio não significa mais saúde.

The Conversation
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Foto: The Conversation

Maria Fernanda Barca não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo acadêmico.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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