Reino Unido, Canadá e Austrália reconhecem Estado palestino
Anúncio canadense e britânico é inédito entre países do G7. Horas depois, Portugal também anuncia reconhecimento. Israel protesta e diz que anúncios são "recompensa" para o Hamas.Os governos do Reino Unido, do Canadá e da Austrália formalizaram neste domingo (21/09) o reconhecimento oficial do Estado palestino, num movimento de pressão a Israel, que no momento trava uma guerra na Faixa de Gaza e vem intensificando a expansão de colônias na Cisjordânia, os dois territórios habitados por palestinos.
Os reconhecimentos britânico e canadense são especialmentes simbólicos, já que são as duas primeiras nações do G7 a formalizarem a medida.
A dianteira dos anúncios neste domingo foi do Canadá, seguido da Austrália. Em seguida, veio o reconhecimento do Reino Unido, antiga potência imperial e poder colonial que dominou a área onde hoje ficam Israel e os territórios palestinos.
A medida alinha Reino Unido, Canadá e Austrália a mais de 140 outras nações que reconhecem o Estado palestino, incluindo o Brasil. No final deste domingo, a lista ainda recebeu a adição de Portugal.
"Hoje, para reavivar a esperança de paz para os palestinos e israelenses, e uma solução de dois Estados, o Reino Unido reconhece formalmente o Estado da Palestina", disse o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, em publicação no X.
Em 29 de julho, Starmer já havia antecipado que o reconhecimento do Estado palestino ocorreria em setembro, perante a Assembleia Geral da ONU, caso Israel não cumprisse uma série de condições, como tomar medidas para pôr fim à "situação catastrófica em Gaza", declarar um cessar-fogo ou garantir a não anexação da Cisjordânia.
Já o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, disse neste domingo que seu país reconhece "as aspirações legítimas e de longa data do povo palestino de ter seu próprio Estado".
O premiê canadense, Mark Carney, por sua vez, direcionou palavras mais duras a Israel, cujo governo se opõe veementemente à criação de um Estado palestino.
"O atual governo israelense está trabalhando metodicamente para impedir a possibilidade de um Estado palestino ser estabelecido. Ele tem seguido uma política implacável de expansão dos assentamentos na Cisjordânia, o que é ilegal segundo o direito internacional. Seu ataque contínuo em Gaza matou dezenas de milhares de civis, deslocou mais de 1 milhão de pessoas e causou uma fome devastadora e evitável, em violação ao direito internacional. Agora, a política declarada do atual governo israelense é que 'não haverá um Estado palestino'", disse Carney.
"É nesse contexto que o Canadá reconhece o Estado da Palestina e oferece nossa parceria na construção da promessa de um futuro pacífico tanto para o Estado da Palestina quanto para o Estado de Israel. (...) Embora o Canadá não tenha ilusões de que esse reconhecimento seja uma panaceia, ele está firmemente alinhado com os princípios de autodeterminação e direitos humanos fundamentais refletidos na Carta das Nações Unidas e com a política consistente do Canadá há gerações", completou Carney.
Reconhecimentos
Além dos três países anglo-saxônicos, o governo de Portugal também anunciou neste domingo seu reconhecimento do Estado palestino. "Hoje, dia 21 de setembro de 2025, o Estado português reconhece oficialmente o Estado da Palestina", anunciou o ministro das Relações Exteriores de Portugal, Paulo Rangel,
Outros países europeus, como França e Bélgica, expressaram a intenção de oficializar o reconhecimento nesta segunda-feira, pouco antes da abertura da Assembleia Geral da ONU.
Andorra, Luxemburgo, Malta e São Marino também planejam formalizar o reconhecimento.
A série de reconhecimentos ocorre enquanto a ofensiva militarliderada pelo governo do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, vem se intensificando na Faixa de Gaza, assim como a crise humanitária e a fome causadas por uma guerra que está prestes a completar dois anos e já ceifou a vida de pelo menos 65.208 palestinos, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, ligado ao grupo palestino Hamas - considerado terrorista pela UE e os EUA, entre outras nações.
No início desta semana, uma comissão independente de inquérito do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas concluiu que Israel vem cometendo genocídio contra palestinos em Gaza.
Nos últimos meses, o Reino Unido também expressou sua veemente condenação à expansão planejada de assentamentos perto de Jerusalém Oriental, na área conhecida como E1, o que efetivamente destruiria a viabilidade de um futuro Estado palestino.
O anúncio de Starmer também ocorre poucos dias após uma visita de Estado do presidente dos EUA, Donald Trump , que já havia expressado sua "discordância" com a posição do líder trabalhista sobre o reconhecimento de um Estado palestino numa entrevista conjunta na semana passada.
O anúncio também ocorre apesar da pressão da oposição e das famílias dos reféns israelenses ainda mantidos na Faixa de Gaza pelo Hamas, que pediram em carta aberta ao primeiro-ministro britânico que revertesse o reconhecimento enquanto as pessoas ainda estiverem em cativeiro.
Alemanha e EUA, dois importantes aliados de Israel, também não são favoráveis ao reconhecimento do Estado palestino.
Reações
Husam Zomlot, chefe da Missão Palestina em Londres, chamou a decisão britânica de um "reconhecimento há muito esperado" e que "não se trata da Palestina, mas do cumprimento de uma responsabilidade solene pelo Reino Unido".
"Isso marca um passo irreversível em direção à justiça, à paz e à correção de erros históricos", acrescentou.
Já o Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que o reconhecimento do Estado palestino "não passa de uma recompensa para o grupo jihadista Hamas, encorajado pela sua filial da Irmandade Muçulmana no Reino Unido".
"Os próprios líderes do Hamas admitem abertamente: esse reconhecimento é um resultado direto, o 'fruto' do massacre de 7 de outubro", escreveu o Ministério das Relações Exteriores de Israel numa publicação no X.
"Tenho uma mensagem clara para os líderes que reconheceram um Estado palestino após o horrível massacre de 7 de outubro: vocês estão dando uma enorme recompensa ao terrorismo", afirmou o premiê Benjamin Netanyahu. "Isso não vai acontecer. Nenhum Estado palestino será estabelecido a oeste do rio Jordão."
Mandy Damari, mãe da ex-refém britânica-israelense Emily Damari, afirmou que "Keir Starmer está sob uma ilusão de dois Estados" em resposta ao reconhecimento de um Estado palestino por parte de seu governo.
"Enquanto um dos Estados ainda for governado por uma organização terrorista proibida, cujo objetivo é aniquilar Israel do rio ao mar, uma solução de dois Estados nunca poderá acontecer", disse ela.
jps/md/as (ots, Lusa, AFP, Efe)