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Quase metade dos cientistas alemães já foi hostilizada

16 mai 2024 - 19h48
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Em pesquisa, cientistas alemães relatam rotina de ameaças, insultos e assédio. Casos com motivação política não ficaram restritos à pandemia e números indicam enraizamento de discurso de ódio contra a ciência.Quase um em cada dois cientistas alemães relata já ter sofrido ataques pessoais. Esse é o resultado de um estudo representativo. Houve muitos ataques especialmente durante a pandemia do coronavírus.

Houve um aumento de ataques contra cientistas durante a pandemia
Houve um aumento de ataques contra cientistas durante a pandemia
Foto: DW / Deutsche Welle

Retratos em roupas de presidiário, insultos, ameaças de morte em redes sociais - durante a pandemia de covid-19, virologistas proeminentes, como Christian Drosten, foram repetidamente assediados e ameaçados. Mas esses não foram casos isolados em uma situação excepcional. Já há algum tempo, pesquisadores de uma ampla gama de disciplinas na Alemanha têm relatado que vêm sofrendo ataques rotineiros.

É isso qe mostra uma pesquisa inédita, realizada pelo Centro Alemão de Pesquisa de Ensino Superior e Estudos Científicos (DZHW) em cooperação com a rede de projetos Kapaz (sigla em alemão para "Capacidades e competências para lidar com o discurso de ódio e a hostilidade contra a ciência"). De acordo com o levantamento, 45% dos pesquisadores alemães já sofreram hostilidade. E, muitas vezes, esses ataques têm motivação política.

A ciência como base para decisões controversas

Segundo o estudo, houve um aumento de ataques durante a pandemia, quando pesquisas cientificas foram debatidas em público. E a tensão foi especialmente forte quando resultados científicos serviram de base para decisões social e politicamente controversas. "A raiva em relação a decisões políticas ou a sensação de que o livre-arbítrio estão sendo limitadas também podem se manifestar em ataques contra pesquisadores", aponta Clemens Blümel, que liderou a pesquisa como pesquisador do DZHW.

"Os resultados do levantamento com um total de 2.600 pesquisadores mostram que a hostilidade contra os pesquisadores é um problema sério", diz Blümel. "Os ataques nem sempre vêm de fora. Há também hostilidade e comportamento depreciativo dentro da própria comunidade científica."

Ataques digitais

Mas não são apenas os virologistas que costumam ser alvo de ataques. Médicos, biólogos e acadêmicos também relataram sofrer com insultos e ameaças frequentes.

Neste casos, a competência dos pesquisadores é questionada ou os resultados de suas pesquisas são menosprezados e depreciados. Os comentários hostis geralmente são abertamente discriminatórios, racistas e sexistas. As mulheres têm muito mais probabilidade de sofrer ataques do que os homens.

O abuso e as ameaças ocorrem principalmente em redes sociais e canais digitais. Mas, às vezes, os pesquisadores também são atacados na vida cotidiana, na rua ou nos seus locais de trabalho. No entanto, muitas vezes os ataques verbais não passam disso. Danos à propriedade ou até mesmo ataques físicos foram raros até o momento. Entretanto, houve ameaças de agressões físicas em 17% dos casos de hostilidade.

Efeitos

De acordo com a pesquisa, campanhas populistas, discursos de ódio e ameaças de morte fizeram com que alguns pesquisadores evitassem qualquer tipo de publicidade ou deixassem de trabalhar com tópicos controversos.

"O discurso crítico é, obviamente, diferente da hostilidade e das campanhas de descrédito. Entretanto, essas últimas podem levar à autocensura entre os pesquisadores. Na pior das hipóteses, pesquisas sobre tópicos importantes, como as mudanças climáticas, podem ser interrompidas sob grande pressão", diz a pesquisadora Nataliia Sokolovska.

Em alguns casos, os perpetradores atingiram seu objetivo: prejudicaram a reputação ou silenciaram pesquisadores ou ainda impediram a divulgação de pesquisas com resultados que desagradem sua visão de mundo.

Diante desse quadro, os responsáveis pela pesquisa querem desenvolver medidas para melhor proteger os pesquisadores contra ataques. Entre as propostas estão centros de aconselhamento em todo o país para pesquisadores em caso de hostilidade específica, diretrizes para situações de crise e treinamento prático de comunicação.

O estudo mostra que há muito a ser feito, especialmente em termos de comunicação. Nesse contexto, é importante que sejam tomadas decisões muito conscientes sobre o que é comunicado e como. De acordo com Blümel, do DZHWm isso também inclui deixar claro que o processo científico também é caracterizado por imprevistos e incertezas. Os erros também precisam ser comunicados e um "quadro realista da prática científica" precisa ser divulgado em geral, de acordo com Blümel.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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