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Política como 'espetáculo' vira 'culpa' para MBL

Em seu Congresso, grupo explicita nova fase, defendendo o debate e contra teses radicais; convencer base é desafio

17 nov 2019 - 01h37
(atualizado às 09h06)
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O Movimento Brasil Livre (MBL) vive um dilema. Após ganhar protagonismo nas ruas e estimular o "Fla-Flu" político em meio às crises que culminaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), agora o movimento diz que quer fazer política priorizando o debate. O problema é passar isso para sua base, ainda fortemente influenciada pelo antipetismo e pela postura bélica nas redes sociais.

Nos últimos dois dias, o movimento realizou seu 5.º Congresso Nacional em São Paulo. Foi um evento marcado pelo mea-culpa onde, diferente das edições anteriores, o MBL tentou se afastar da pecha de grupo radical para se vender numa versão "3.0".

"Ajudamos a criar essa espetacularização que incentiva gente como Daniel Silveira (PSL-RJ) a quebrar a placa de Marielle (Franco, vereadora do Rio pelo PSOL, assassinada em 2018) e ser eleito deputado federal baseado nisso. Nós temos culpa no cartório", disse o coordenador-geral Renan Santos. "Transformamos política em espetáculo e um monte de vagabundo veio à reboque fazer a mesma coisa sem responsabilidade."

Apesar da iniciativa inédita do MBL de convidar até palestrantes da esquerda para o evento (o deputado federal Júlio Delgado, do PSB, participou de um debate sobre reforma política), o congresso mostrou que a mudança enfrenta resistências na "base". O ex-presidente Michel Temer também participou do evento.

Com mais de 2,2 mil ingressos vendidos, o evento reuniu lideranças locais dos quase 220 núcleos do MBL no País. Entre esses líderes, o alinhamento à nova fase do grupo ficou evidente - mas eles falam com cautela sobre a base de simpatizantes e apoiadores do grupo.

Influente nas redes sociais, o MBL tem mais de 3 milhões de seguidores no Facebook, 854 mil no Instagram e 473 mil no Twitter.

Líder nacional do movimento, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) falou em "dificuldade". "Os coordenadores estão em bastante sintonia. A maior dificuldade é transmitir para a base", disse Kim. "O desafio é como aprofundar o debate com interesse sem se deixar levar por um ambiente de polarização superficial."

O coordenador do MBL na Bahia, Siqueira Costa Júnior, aposta no diálogo para chegar à base. "A gente já passou por esse momento de rage (raiva), de não querer conversar. Mas a gente entende que existe a possibilidade do diálogo para acabar com isso", afirmou.

Líder do grupo em Santa Catarina, Débora Riggenbach entende a dificuldade como parte do da pluralidade que diz ver no MBL. "A gente tem membros de diversas ideologias. É algo que respeitamos. Nossas lideranças estão alinhadas, às vezes tem conflito, mas conversamos e em reuniões passamos isso para a base."

Apesar da instrução clara por diálogo e debate, o clima de provocação e ataques irônicos a adversários foram comuns entre palestrantes e o público no congresso do MBL, como nos momentos de aplausos calorosos a críticas ao PT e ao governo Jair Bolsonaro (PSL) ou as vaias em menções ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O deputado estadual Arthur do Val (DEM-SP), apresentado como futuro candidato a prefeito de São Paulo com o apoio do grupo, destoou ao falar sobre o novo momento do grupo. Ele reconhece que houve "radicalização", mas não concorda com a mea-culpa. "O MBL não errou", disse Arthur ao Estado. "A espetacularização da polarização foi extremamente necessária."

Grupo busca se afastar do bolsonorismo

O MBL aproveitou o congresso também para tentar se afastar do bolsonarismo, que acusou de usar "milícias digitais" e de fazer uma "negação conveniente da política". "Fazer política é muito diferente do discurso da rede social. É o que nos diferencia hoje do bolsonarismo", disse Renan Santos.

O advogado do grupo, Rubinho Nunes, comparou bolsonaristas a apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Não dá para alguém ser de direita dizendo 'Bolsonaro, eu te amo', sendo subserviente ao presidente da República a qualquer ato. As pessoas que estavam na porta da superintendência da PF em Curitiba gritando 'Lula, eu te amo' são iguais àquelas que estavam na Paulista gritando 'Bolsonaro, eu te amo'".

Estadão
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