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O silêncio da China nas negociações para a paz na Ucrânia

15 dez 2025 - 18h01
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Enquanto europeus e EUA se esforçam para chegar a acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia, Pequim mede seus interesses e mantém laços estreitos com Moscou, de olho também na situação de Taiwan.Em meio às negociações para uma paz duradoura na Ucrânia, que prosseguem em Berlim neste domingo e nesta segunda-feira (15/12), ressurgiram os apelos para que a China desempenhe um papel mais construtivo para pôr fim à guerra.

Ao mesmo tempo em que quer paz "aceitável para todas as partes", regime liderado por Xi Jinping estreita laços militares e econômicos com a Rússia, liderada por Vladimir Putin
Ao mesmo tempo em que quer paz "aceitável para todas as partes", regime liderado por Xi Jinping estreita laços militares e econômicos com a Rússia, liderada por Vladimir Putin
Foto: DW / Deutsche Welle

O ministro do Exterior da Alemanha, Johann Wadephul, está em visita à China e pediu ao regime chinês que use sua influência para pressionar a Rússia a negociar seriamente o fim da invasão da Ucrânia. "Se existe um país que exerce forte influência sobre a Rússia, esse país é a China", disse Wadephul após se reunir com o ministro chinês do Exterior, Wang Yi, em Pequim.

A China tem alegado neutralidade durante a guerra na Ucrânia, mas é acusada por países ocidentais de apoiar a Rússia ao comprar petróleo russo e exportar materiais de dupla utilização (que podem ser usados tanto para fins civis como militares).

"É por isso [comércio com a Rússia] que a China tem muito cuidado para não ser vista como parte das negociações", diz a professora Zsuzsa Anna Ferenczy, da Universidade Nacional Dong Hwa, de Taiwan, destacando os reiterados esforços de Pequim para projetar uma imagem de neutralidade. "Se essa definitivamente não é a percepção no Ocidente, pode ser a percepção no Sul Global", acrescenta.

China se mantém à parte

Três dias de negociações na Flórida entre autoridades ucranianas e dos Estados Unidos para debater o plano de paz apoiado pelo presidente Donald Trump aparentemente não produziram nenhum avanço na resolução das disputas territoriais entre a Ucrânia e a Rússia.

Originalmente, o plano continha 28 pontos e se alinhava fortemente às exigências russas, o que forçaria a Ucrânia a ceder grandes partes de seu território, a limitar o tamanho de suas Forças Armadas e a desistir do ingresso na Otan.

Essa redação gerou protestos do governo ucraniano e dos seus aliados europeus, que afirmaram ser necessário considerar mais o lado ucraniano e exigiram mudanças no plano, o que foi feito durante uma rodada de conversações em Genebra, na Suíça.

O Kremlin também não aceitou o documento de 28 pontos, mas disse estar disposto a aceitá-lo como "a base para um acordo de paz final" e alertou contra mudanças significativas no texto em favor de Kiev.

Em meio a esses esforços, o regime em Pequim, como parceiro estratégico mais importante de Moscou, permaneceu relativamente silencioso. Na semana passada, o presidente chinês, Xi Jinping, resumiu a posição oficial do seu governo ao dizer, durante um encontro em Pequim com o presidente francês, Emmanuel Macron, que a China apoia "todos os esforços destinados a alcançar um acordo de paz justo, duradouro e vinculativo que seja aceitável para todas as partes".

Uma paz que sirva aos interesses da China

Em 2023, a China propôs um plano de paz que refletia como o país esperava que a guerra na Ucrânia terminasse, mas o documento foi criticado por não apresentar medidas específicas e por não condenar a agressão cometida pela Rússia.

"A China está interessada no fim desta guerra, mas num fim que coloque a Rússia numa posição de vantagem e satisfaça o objetivo da Rússia, que é manter o território que conquistou", diz Ferenczy.

Um acordo com essas características indicaria que "um regime autoritário pode violar o direito internacional e sair impune", acrescenta. "Isso serve aos interesses da China," diz Ferenczy, referindo-se à reivindicação chinesa sobre o território de Taiwan.

Um acordo de paz que exija que a Ucrânia ceda território à Rússia pode ter grandes implicações para a ordem global e a segurança internacional. O regime em Pequim reivindica Taiwan, uma região autônoma e democrática, como parte de seu território e não descarta o uso da força militar para fazer valer essa posição.

Assim, desde que a Rússia iniciou a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, tanto Taiwan quanto a China têm monitorado de perto o desenrolar do conflito.

"A norma dos últimos 70 anos nas relações internacionais é que não se devem fazer alterações territoriais pela força militar", explica o cientista político Raymond Kuo, do think tank de defesa Rand, dos EUA. "A grande questão é: essa norma está sendo quebrada?"

Moscou teria concordado em treinar e equipar um batalhão paraquedista chinês para uma possível invasão de Taiwan, conforme noticiado inicialmente pelo site The Kyiv Independent, que citou documentos vazados pelo grupo de hackers Black Moon.

Em paralelo às demonstrações de força militar pela China, Taiwan enfrenta ainda fortes dificuldades diplomáticas, com sua soberania não sendo reconhecida pela maioria dos governos devido à pressão, por parte de Pequim, contra o estabelecimento de relações oficiais com Taipei.

"O acordo [para a paz na Ucrânia] tem potencial para aumentar as dificuldades" que Taiwan já enfrenta, diz Kuo.

China amplia cooperação militar com a Rússia

Apesar da pressão contrária cada vez maior por parte dos governos ocidentais, a cooperação da China com a Rússia só se aprofundou.

À medida em que passou a enfrentar um isolamento político e econômico cada vez maior devido à guerra na Ucrânia, a Rússia passou também a se apoiar cada vez mais na China para o comércio, e os laços militares entre os dois países se expandiram.

Durante a visita do ministro chinês do Exterior, Wang Yi, a Moscou, no início deste mês, China e Rússia afirmaram ter chegado a um amplo consenso sobre uma série de questões.

Em maio, os dois países emitiram uma declaração conjunta em prol de uma cooperação militar reforçada, incluindo mais exercícios conjuntos, compartilhamento de tecnologia e coordenação para combater ameaças e manter a segurança global.

Quatro anos após o início da guerra, o que se percebe é que a China não tem interesse em enfraquecer seu apoio à Rússia, analisa Ferenczy. Ela enfatiza que manter a Rússia por perto serve aos interesses estratégicos de Pequim.

A principal razão é que a pressão que a guerra na Ucrânia exerce sobre a Europa e os EUA beneficia a China ao minar a democracia como sistema de governo e uma ordem mundial liderada pelo Ocidente, diz.

Apesar de os países-membros da UE terem abordagens diferentes em relação a Pequim, espera-se que o bloco se mantenha firme no apoio à Ucrânia para garantir um acordo que ofereça garantias de segurança a longo prazo aos ucranianos e que, como explica Ferenczy, prevaleça o atual consenso de que o futuro da Ucrânia é determinante para a segurança de toda a Europa.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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