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O que é o novichok, a substância neurotóxica usada contra ex-espião russo e agora encontrada em casal na Inglaterra

Britânicos foram encontrados inconscientes em sua casa e estão em estado crítico; polícia diz que agente químico foi o mesmo mas não sabe se há relação entre os dois casos.

5 jul 2018 - 08h55
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Sergei Skripal e sua filha Yulia foram envenenados em março e liberados do hospital em maio| Fotos: EPA/ Reprodução Facebook
Sergei Skripal e sua filha Yulia foram envenenados em março e liberados do hospital em maio| Fotos: EPA/ Reprodução Facebook
Foto: EPA / BBC News Brasil

Um casal britânico foi encontrado inconsciente em Amesbury, condado de Wiltshire, na Inglaterra, após ter sido envenenado com novichok, a mesma substância usada no caso do ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha, Yulia, em março, diz a polícia britânica.

Ainda não está claro se há relação entre os dois casos.

Sergei e Yulia Skripal foram encontrados inconscientes no banco de um parque em Salisbury, no dia 4 de março. Na ocasião, a polícia disse que eles foram envenenados por um "agente tóxico". Foram internados em estado crítico de saúde, mas se recuperaram e estão sob proteção das autoridades - que acusaram a Rússia de estar por trás do ataque.

No sábado passado, Charlie Rowley, de 45 anos, e Dawn Sturgess, de 44, foram levados às pressas para o hospital após passarem mal em sua casa, em Amesbury, e estão em estado crítico.

A polícia anunciou nesta quarta-feira que eles foram expostos ao mesmo "agente nervoso" que envenenou os Skripal, mas que não encontrou evidências para sugerir que eles teriam sido vítimas de um ataque.

Casal britânico foi achado no sábado e está em estado grave
Casal britânico foi achado no sábado e está em estado grave
Foto: Facebook / BBC News Brasil

Mas afinal, o que sabemos sobre essa substância neurotóxica?

1) Ela foi desenvolvida na União Soviética

O nome novichok significa "novato" em russo, e se aplica a um grupo de substâncias neurotóxicas desenvolvidas pela União Soviética nas décadas de 1970 e 1980.

Elas eram conhecidas como uma arma química de quarta geração e foram desenvolvidas sob um programa soviético chamado Foliant.

A existência do novichok foi revelada pelo químico Vil Mirzayanov nos anos 1990, por meio da imprensa russa. Mais tarde ele fugiu para os Estados Unidos, onde publicou a fórmula química no seu livro State Secrets (Segredos de Estado, em tradução livre).

Em 1999, representantes dos EUA viajaram ao Uzbequistão para ajudar a desmontar e descontaminar um dos maiores centros de produção de armas químicas da União Soviética.

De acordo com Mirzayanov, os soviéticos usavam esse local para produzir e testar pequenas quantidades de novichok. Essa substância foi criada para driblar a detecção de inspetores internacionais.

2) É mais tóxica do que outras substâncias

Um dos grupos de substâncias químicas chamadas de novichoks - A-230 - é considerado oito vezes mais tóxico do que agentes como o VX.

"É mais perigoso e mais sofisticado do que sarin ou VX e é mais difícil de identificar", diz o professor Gary Stephens, especialista em farmacologia da Universidade de Reading, na Inglaterra.

Variantes do A-230 existem. Uma delas, A-232, teria sido usada por militares russos como base para a arma química conhecida como Novichok-5.

3) Novichoks existem em várias formas

Alguns agentes novichok são líquidos, mas acredita-se que outros sejam sólidos. Isso quer dizer que podem ser desfeitos e transformados em um pó.

Alguns agentes também poderiam ser "armas binárias", o que significa que o agente é armazenado em dois ingredientes químicos separados, tornando mais seguro transportá-los e armazená-los.

Quando são misturados, reagem de modo a produzir o agente tóxico.

Segundo Stephens, essa seria uma das principais "vantagens" do novichok: "É porque as partes que os compõem não estão na lista de substâncias banidas".

4) Podem surtir efeito rapidamente

Novichoks foram feitos para serem mais tóxicos que outras armas químicas; algumas versões começam a fazer efeito muito rapidamente, levam de 30 segundos e dois minutos.

A principal forma de exposição seria pela inalação, mas também pode ser pelo contato com a pele.

No entanto, se estiver em pó, talvez demore mais para provocar uma reação.

5) Os sintomas são parecidos os de outros agentes nervosos

Agentes novichok têm efeitos parecidos com os de outros agentes nervosos. Eles agem bloqueando mensagens dos nervos para os músculos, provocando o colapso de funções corporais.

Mirzayanov disse à BBC que o primeiro sintoma que se deve procurar é miose, a contração excessiva das pupilas.

Doses maiores podem provocar convulsões e interromper a respiração, diz ele. "Aí começam as convulsões e o vômito, e em seguida vem a morte."

Mirzayanov disse ainda que há antídotos que podem ajudar a impedir o avanço do veneno. Se uma pessoa é exposta ao agente, sua roupa tem que ser retirada e sua pele tem que ser lavada com água e sabão. Os olhos têm que ser limpos e deve-se dar oxigênio à vítima.

6) Outras pessoas podem ter feito novichok?

O Reino Unido acusou a Rússia de estar por trás do ex-espião e sua filha. Os russos negaram qualquer envolvimento no caso e exigiram provas.

Além disso, Moscou alegou que o próprio Reino Unido poderia ter produzido o agente tóxico no centro de pesquisas do Ministério da Defesa em Porton Dow, o que foi veemente negado pelos britânicos.

O Kremlin também fez alegações semelhantes sobre Suécia, Eslováquia e a República Checa - toda elas negadas pelos respectivos governos.

Mirzayanov acredita que a Rússia esteve por trás do ataque em Salisbury por ser "o país que inventou (o agente), tem a experiência e o transformou em uma arma".

Já o embaixador da Rússia na ONU diz que o desenvolvimento de agentes nervosos foi interrompido em 1992 e que os estoques guardados foram destruídos em 2017.

Em setembro, a Organização para a Proibição de Armas Químicas confirmou a destruição de 39.967 toneladas métricas de armas químicas em mãos russas.

No entanto, novichoks nunca chegaram a ser declarados à organização, e as substâncias químicas nunca fizeram parte de nenhum tipo de regime de controle, em parte por causa de incertezas sobre sua estrutura química, diz o professor Alastair Hay, da Universidade de Leeds, na Inglaterra.

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