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O homem que quer empurrar a AfD ainda mais para a direita

25 out 2019 - 07h53
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Na eleição estadual na Turíngia, no Leste alemão, o partido populista de direita pode arrebatar até um quarto dos votos. Seu principal candidato é Björn Höcke, que não hesita em usar retórica reminiscente do nazismo.Quando Björn Höcke aparece em público, uma coisa é certa: vai haver barulho. De um lado, os que aplaudem e entoam "Höcke, Höcke, Höcke!"; enquanto os outros assoviam e gritam "Fora, nazistas!".

Björn Höcke, de 47 anos, foi professor de história
Björn Höcke, de 47 anos, foi professor de história
Foto: DW / Deutsche Welle

Esse racha atravessa também o lugarejo de Bad Langensalza, no estado da Turíngia, no Leste alemão, e o extremista de direita parece saborear o clima exaltado. Ao subir no palco, levanta os braços abertos para saudar seus adeptos, com um sorriso que não se move um centímetro em seus lábios, durante todo o discurso de uma hora.

Possivelmente Höcke é, no momento, o político que mais divide a Alemanha. Nas eleições estaduais da Turíngia, no próximo domingo (27/10), ele é o principal candidato do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Mas, até mesmo para muitos de seus correligionários, Höcke está excessivamente à direita.

Ele é quem exigiu "uma guinada de 180 graus na política da memória", que introduz em seus discursos expressões como "degeneração" ou "vitória total", embora, na qualidade de ex-professor de história, saiba perfeitamente qual capítulo do passado alemão está evocando com tais termos.

O especialista em extremismo de direita Axel Salheiser confirma que a retórica de Höcke e de outros membros da AfD está plena de um vocabulário extremamente semelhante ao do Terceiro Reich, "ao ponto de se confundir".

No pequeno palco de Bad Langensalza, ele sabe como fazer os espectadores sentados às mesas de uma cervejaria aplaudirem. A maioria não está feliz com a política migratória da chanceler federal Angela Merkel, sobretudo com a decisão dela, em 2015, de abrir as fronteiras, deixando entrar no país centenas de milhares de refugiados.

Muitos também reclamam que os partidos estabelecidos não se interessam por suas preocupações. Chamar Merkel de "líder de um regime", criticar a "elite" da Alemanha ou os "partidos de cartel", como faz Höcke: tudo isso cai muito bem neste ambiente.

A fórmula de sucesso do ultradireitista inclui jogar intencionalmente com estereótipos racistas. Por vezes atribui a toda a população da África ser um "tipo [biológico] que tende a se disseminar"; por outras afirma que os jovens alemães "vivenciam as escolas como lugar de medo, pois lá são assediados, atormentados e espancados pelos machos migrantes".

Nem todos os que foram à cidadezinha turíngia neste dia de outono assinariam embaixo as colocações do candidato, porém tampouco querem condená-lo. Uma colega da AfD afirma que as palavras de Höcke costumam ser citadas fora de contexto.

Em relação a algumas das afirmativas, um senhor comenta: "É, ele devia deixar isso de lado, assim antes das eleições." Mas "de resto, está com a razão, em tudo". Já há bastantes pobres na Alemanha, não se devia dar tanto dinheiro assim para "os estrangeiros", reclama.

Uma enquete atual indica que apenas 8% dos turíngios escolheriam Björn Höcke, se o governador estadual fosse eleito por voto direto. No entanto o partido populista que ele representa deverá ficar com 20% a 25% das urnas, de acordo com sondagens realizadas nas últimas semanas.

Assim como em outros estados do Leste alemão, na Turíngia a AfD é fortemente dominada pela "Flügel" (ala), um movimento intrapartidário com que, estima-se, 40% dos membros se identificam, e cujo cabeça é Björn Höcke.

O pesquisador Salheiser classifica a ala como "radical a extremista de direita". Desde o começo de 2019, o órgão de segurança interna alemão BfV colocou o movimento sob suspeita. O objetivo de Höcke e de seus seguidores é empurrar a AfD mais para a direita. Para tal, não hesita em marchar ao lado de extremistas notórios, como na cidade de Chemnitz, em setembro de 2018.

Para membros mais moderados, que tentam tornar a legenda mais elegível também para o centro conservador, Höcke é uma pedra no sapato. Dois anos atrás, o diretório federal da AfD tentou expulsá-lo, porém um tribunal de arbitração indeferiu o requerimento.

Provavelmente durante a próxima convenção partidária, no fim de novembro, voltará a irromper a briga sobre que direção a sigla deve tomar no futuro. Höcke declarou que quer ampliar sua influência e da "Flügel". Não está claro se pretende se candidatar para a presidência da AfD.

"Fora, Höcke!"

Em Bad Langensalza, Höcke não encontra apenas fãs, mas também gente que se indigna com sua apresentação. Um deles é o pastor Dirk Vogel, irritado com o fato de a Alternativa para a Alemanha ter escolhido justamente sua igreja como palco de campanha eleitoral. A seu ver, Björn Höcke divide, exclui e degrada os que vêm de outras culturas.

Vogel observa de fora o discurso do político de 47 anos. Outros expressam em alto e bom som seu protesto: "Fora, Höcke!", há quem chore. Do palco, Höcke aconselha-os a tomar remédio para os nervos, insulta-os de "nazistas vermelhos".

As cenas nesse lugarejo do Leste da Alemanha mostram como a pessoa de Höcke divide as facções. Os opositores afirmam que, se os do outro lado votarem nele, vai ser difícil dialogar, se não impossível.

No momento, o próprio protagonista é quem rejeita esse diálogo, pelo menos na mídia. Em Bad Langensalza ele se recusou a responder às perguntas da DW. Segundo seu porta-voz, desde que, em meados de setembro, ele interrompeu uma entrevista na emissora ZDF, não haverá mais entrevistas até o dia da eleição.

Ao suspender a conversa com o repórter de TV, Björn Höcke comentou que um dia poderia se transformar numa personalidade importante interessante na Alemanha. Para alguns, talvez pareça uma boa perspectiva, para outros seria um pesadelo tornado realidade.

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