Trump usa expressão que gera críticas de grupos judaicos
Trump descreveu banqueiros como 'Shylocks', nome de um personagem ganancioso de uma peça de Shakespeare. Presidente americano disse depois a jornalistas que não sabia que se tratava de um termo considerado antissemita.
O presidente dos EUA, Donald Trump, tem sido criticado por grupos judaicos após usar um termo antissemita em um comício.
Trump descreveu alguns banqueiros como "Shylocks" no evento em Iowa. Shylock é o nome de um personagem, um agiota ganancioso, de origem judaica, na peça O Mercador de Veneza, de Shakespeare.
A Liga Antidifamação dos EUA (ADL), uma organização judaica de monitoramento antidiscriminação, disse que o uso do insulto pelo presidente foi "muito problemático".
O ex-presidente dos EUA, Joe Biden, usou a palavra Shylock quando era vice-presidente, mais tarde reconhecendo que era inapropriado.
No comício de quinta-feira (3/7) em Des Moines, Trump estava celebrando a aprovação de sua proposta de orçamento pelo Congresso esta semana.
"Pense nisso: sem imposto sobre a morte", disse ele. "Sem imposto sobre herança. Sem ir aos bancos e pegar empréstimos de, em alguns casos, um bom banqueiro - e em alguns casos, Shylocks e pessoas ruins."
Quando o presidente republicano retornou no Air Force One para Washington DC após o comício, ele foi questionado por repórteres sobre seu uso do termo. Ele disse que não sabia que era visto como antissemita.
"Não, nunca entendi dessa forma", disse o presidente. "Para mim, Shylock é alguém que, digamos, um agiota que cobra altas taxas de juros. Nunca entendi dessa forma. Você enxerga de forma diferente de mim. Nunca ouvi isso."
O deputado Daniel Goldman, democrata de Nova York, chamou as observações de Trump de "antissemitismo flagrante e vil", e disse que "Trump sabe exatamente o que está fazendo".
A ADL disse em uma publicação na rede social X: "O termo 'Shylock' evoca um estereótipo antissemita de séculos sobre judeus e ganância que é extremamente ofensivo e perigoso. O uso do termo pelo presidente Trump é muito problemático e irresponsável".
Amy Spitalnick, chefe do Conselho Judaico para Assuntos Públicos, disse no X que a observação era "profundamente perigosa".
"Shylock é um dos estereótipos antissemitas mais quintessenciais", disse ela. "Isso não é um acidente. Isso segue anos em que Trump normalizou tropos e teorias da conspiração antissemitas."
Os aliados de Trump já descartaram qualquer sugestão de que ele seja antissemita, apontando seu firme apoio a Israel e o fato de que seus assessores próximos, incluindo Stephen Miller e Steve Witkoff, e seu genro, Jared Kushner, são judeus.
O governo Trump lançou uma campanha para combater o que classificam de antissemitismo em universidades, retendo financiamento federal de algumas instituições, como a Universidade Harvard, e tomando medidas para deportar ativistas pró-palestinos que estão nos EUA com vistos de estudante.
O então vice-presidente Biden, democrata, usou o termo Shylock em um discurso em 2014.
"As pessoas vinham até ele e falavam sobre o que estava acontecendo com elas em casa em termos de execuções hipotecárias", disse ele, referindo-se às experiências de seu filho servindo no Iraque, "em termos de empréstimos ruins que estavam sendo - quero dizer, esses Shylocks que se aproveitaram dessas mulheres e homens enquanto estavam no exterior."
Após a repercussão, Biden disse que "foi uma escolha ruim de palavras".