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Por que Israel realiza 3ª eleição geral em menos de um ano

Nem Benjamin Netanyahu, nem seu rival Benny Gantz foram capazes de construir coalizões majoritárias nas últimas duas eleições. E pesquisas de opinião indicam que disputa não tem favoritos.

2 mar 2020 - 08h06
(atualizado às 09h39)
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Os israelenses vão às urnas nesta segunda-feira (2) pela terceira vez em menos de um ano, algo sem precedentes na história do país, em meio à batalha do primeiro-ministro pela sobrevivência política.

O principal rival de Benjamin Netanyahu (esq.) é seu ex-chefe militar, Benny Gantz
O principal rival de Benjamin Netanyahu (esq.) é seu ex-chefe militar, Benny Gantz
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Nem Benjamin Netanyahu, nem seu rival Benny Gantz foram capazes de construir coalizões majoritárias nas últimas duas eleições.

E pesquisas de opinião indicam novamente que a disputa está acirrada demais para que um favorito seja apontado.

Para Tom Bateman, correspondente da BBC no Oriente Médio, os eleitores parecem entrincheirados.

"Um raio político atingiu a campanha eleitoral duas vezes no mesmo dia, quando o plano de acordo de paz de Trump foi anunciado e um julgamento de corrupção foi definido para Netanyahu. Mas os israelenses parecem imperturbáveis com o trovão."

Netanyahu busca sua quinta reeleição duas semanas antes do prazo para prestar esclarecimentos em um processo no qual é acusado de corrupção — o prazo vence em 17 de março.

Acusações de corrupção contra Netanyahu

Em novembro, ele foi acusado formalmente pelo procurador-geral de Israel dos crimes de de corrupção, fraude e abuso de confiança em três casos isolados.

Netanyahu nega veementemente todas as acusações, e diz ser vítima de uma "caça às bruxas" com motivações políticas.

Adversários políticos cobraram o afastamento de Netanyahu. Mas mesmo se ele for condenado, ele não seria obrigado a deixar o cargo até que todos os recursos do processo sejam analisados.

Netanyahu, de 70 anos, é o primeiro-ministro israelense há mais tempo no cargo: ele governou de 1996 a 1999 e agora desde 2009. Em dezembro, ele ganhou com folga as eleições primárias pela liderança de seu partido de direita, o Likud.

Seu principal rival na eleição, Benny Gantz, de 60 anos, é um general reformado que atuou como chefe das Forças Armadas de Israel antes de entrar para a política como líder do partido de centro Azul e Branco.

Por que os israelenses vão às urnas de novo?

O Azul e Branco ganhou uma cadeira a mais que o Likud na eleição realizada em setembro passado, mas Netanyahu e Gantz não conseguiram atrair apoio suficiente de outros partidos para formar uma maioria parlamentar com 120 assentos.

O sistema político de Israel é baseado numa representação proporcional, com partidos ganhando cadeiras mais por causa dos votos que eles recebem do que pela votação que eles têm em lugares específicos (as constituintes).

Isso significa que os governos sempre serão coalizões, algumas mais fragmentadas e com vida curta.

A última coalizão liderada por Netanyahu durou quatro anos antes da eleição de abril de 2019.

Segundo pesquisas de intenção de voto recentes, o Likud e o Azul e Branco devem obter o mesmo número de cadeiras. Mas Netanyahu dissolveu o Parlamento depois de sua negociação para formar coalizão falhou, vetando a oportunidade de Ganz tentar formar um governo.

Ainda não se sabe o que pode acontecer se não houver um ganhador de novo.

Por que essa eleição importa?

Apesar da fadiga eleitoral entre a população, o pleito desta segunda-feira pode ser um dos mais importantes em anos.

Se o Azul e Branco vencer, levará ao fim do domínio de mais de uma década pelo Likud, que defende uma plataforma nacionalista de direita.

Se o Likud ganhar e for capaz de construir coalizão, Netanyahu prometeu anexar assentamentos judaicos e uma ampla faixa de terra conhecida como Vale do Jordão, ambos na Cisjordânia ocupada.

Essa promessa se tornou possível depois que o presidente americano, Donald Trump, divulgou em janeiro sua proposta de acordo de paz para o Oriente Médio. Trump afirmou que os EUA iriam "reconhecer a soberania de Israel sobre um território que, na minha visão, é parte do Estado de Israel".

O acordo de paz proposto por Trump também foi endossado por Gantz, e embora ele também se comprometa a anexar o Vale do Jordão e os principais blocos de assentamentos judaicos, é menos claro se ele iria tão longe quanto Netanyahu.

O fértil Vale do Jordão ocupa um quarto do território da Cisjordânia
O fértil Vale do Jordão ocupa um quarto do território da Cisjordânia
Foto: AHMAD GHARABLI / BBC News Brasil

Mais de 600 mil judeus vivem em cerca de 140 assentamentos construídos desde a ocupação de 1967 na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Os assentamentos são considerados ilegais do ponto de vista do direito internacional, mas Israel e EUA contestam isso.

Os palestinos, que rejeitaram a proposta de Trump, insistem que os assentamentos precisam ser retirados para se chegar a um acordo de paz.

O plano dos Estados Unidos prevê também um agrupamento de cidades e vilas árabe-islareneses num futuro Estado da Palestina — o que transferiria efetivamente cidadãos árabes para fora de Israel.

Os árabes-israelenses, que compõem quase 20% da população de Israel e dizem ser alvos frequentes de discriminação, ficaram furiosos com a proposta.

Um desempenho eleitoral significativo da aliança de partidos árabes poderia ampliar as chances de Benny Gantz de formar um governo talvez mais favorável a essa população.

Cisjordânia
Cisjordânia
Foto: BBC News Brasil

Grupos demográficos tem um papel cada vez mais importante

Israel tem 6,3 milhões de eleitores, e os grupos sociais, étnicos e religiosos aos quais pertencem podem ser um fator-chave em suas decisões sobre o que fazer no dia da eleição.

A população Haredi, ultra-ortodoxa, é de mais de um milhão de pessoas. Tradicionalmente, judeus ultraortodoxos seguem os conselhos de seus rabinos e votam em partidos voltados para essa população.

No entanto, cada vez mais ultraortodoxos votam em partidos maiores, principalmente os de direita. Entre as questões centrais para esse grupo, está o serviço militar obrigatório para judeus ultraortodoxos (até 2014 eles eram liberados ou serviam por curto período de tempo), que deve ser tratada novamente pelo próximo Parlamento.

Árabes israelenses são quase um quinto da população, mas pesquisas indicam que menos da metade dos que têm direito a voto costumam votar.

O número de árabes que foram às urnas aumentou em 2015, quando quatro partidos concorreram em uma coligação árabe, ocupando 13 cadeiras no Parlamento. Mas o grupo se dissolveu antes da eleição atual.

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