"Parecia uma cidade fantasma", relata morador de Gaza após bombardeio de escola
O exército israelense está fazendo com que o enclave passe por uma das semanas mais mortais desde o fim da trégua instaurada em março. Mais de 300 habitantes de Gaza foram mortos desde terça-feira (1°) em bombardeios ou enquanto buscavam ajuda humanitária. Na noite de quarta-feira (3), um drone atingiu uma escola na Cidade de Gaza, onde os deslocados haviam se refugiado. Quinze pessoas foram mortas, de acordo com a Defesa Civil Palestina.
O exército israelense está fazendo com que o enclave passe por uma das semanas mais mortais desde o fim da trégua instaurada em março. Mais de 300 habitantes de Gaza foram mortos desde terça-feira (1°) em bombardeios ou enquanto buscavam ajuda humanitária. Na noite de quarta-feira (3), um drone atingiu uma escola na Cidade de Gaza, onde os deslocados haviam se refugiado. Quinze pessoas foram mortas, de acordo com a Defesa Civil Palestina.
Rami El Meghari, correspondente da RFI na Faixa de Gaza, e Justine Fontaine, enviada especial a Jerusalém, com agências
Paredes queimadas, janelas destruídas... Nos escombros da escola Mustafa Hafez, ainda é possível ver roupas de cama e objetos do cotidiano espalhados, em meio ao choro de famílias em luto. Entre os sobreviventes, Ehab Ehjaila conta que acaba de perder vários parentes.
"Parecia uma cidade fantasma... Tudo estava pegando fogo. Minha esposa e meus sogros ficaram feridos", relata. "Consegui tirar meus filhos dos escombros da casa ao lado, antes de perceber que meu irmão estava prestes a morrer. Os corpos queimados de outros mártires estavam sendo retirados ao meu redor", relembra.
Israel ampliou recentemente suas operações militares na Faixa de Gaza, onde a guerra desde outubro de 2023 deixou o território em péssimas condições humanitárias e forçou quase toda a população, ou seja, mais de dois milhões de pessoas, a se deslocar. Muitos se refugiam em centros escolares, mas estes edifícios são frequentes alvos de ataques.
O exército israelense alega que o bombardeio visando a escola Mustafa tinha como alvo um membro do Hamas, um argumento frequente dos militares, que afirmam buscar extremistas escondidos entre a população civil. Mas, de acordo com a Defesa Civil de Gaza, as vítimas da escola eram principalmente mulheres e crianças.
Os parentes de Subhiya Alarqan, que haviam se refugiado no estabelecimento, sobreviveram. Ela, que já havia perdido um filho na guerra, ficou horrorizada com a cena. "Meu Deus! Meu Deus! Eu já estava chorando a morte de meu filho Mohammad, morto na rua... Que Alá cuide deles", desabafou. Nos arredores, muitos sobreviventes estavam tão abalados que não conseguiam falar com os jornalistas.
Ataques durante distribuição de alimentos
Além de ofensivas visando em zonas habitadas, se multiplicam os ataques aos centros de distribuição de alimentos. A ONU afirmou, nesta sexta-feira (4), que mais de 600 pessoas morreram durante a entrega de ajuda em Gaza desde o final de maio, cerca de 500 delas perto das instalações da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), entidade apoiada pelos Estados Unidos e por Israel.
A GHF começou a distribuir caixas de alimentos em 26 de maio, após um bloqueio de mais de dois meses imposto por Israel à entrada de toda ajuda humanitária. Mas as operações da entidade foram palco de cenas caóticas, com o exército israelense atirando em várias ocasiões na tentativa de conter centenas de palestinos desesperados.
"Registramos 613" pessoas mortas desde o início das operações da fundação até 27 de junho, das quais 509 "perto dos pontos de distribuição da GHF", confirmou Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, em uma coletiva de imprensa em Genebra. Segundo ela, os outros morreram "perto de comboios da ONU e de outras organizações". A representante da ONU lembra que esses números estão em constante evolução.
"Quanto a quem é responsável, está claro que o exército israelense bombardeou e disparou contra os palestinos que tentavam chegar aos pontos de distribuição", lançou Shamdasani, antes de pedir que uma investigação independente seja realizada para apurar os ataques.
A ONU e as principais organizações de ajuda se recusaram a trabalhar com a GHF, alegando que ela serve aos objetivos militares israelenses e viola os princípios humanitários básicos. A fundação, que usa empreiteiros armados para fornecer segurança em suas instalações, nega que tenha havido qualquer incidente "nas proximidades" de seus quatro centros de distribuição.