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Oriente Médio

Cerco a Conselho do Despertar incomoda sunitas iraquianos

12 abr 2009 - 18h08
(atualizado às 18h21)
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Membros do Conselho do Despertar, antigos insurgentes sunitas que trocaram de lado para ajudar a levar tranqüilidade ao Iraque, estão cada vez mais sitiados por todos os lados.

Membros do Conselho do Despertar são revistados por soldados iraquianos na periferia de Bagdá
Membros do Conselho do Despertar são revistados por soldados iraquianos na periferia de Bagdá
Foto: The New York Times

No sábado, 13 membros foram mortos por um homem-bomba enquanto se reuniam para coletar seu pagamento no sul de Bagdá, no último de uma série de ataques contra membros do Despertar em semanas recentes. A preocupação de alguns sunitas é que o governo de liderança xiita tenha começado a selecionar os líderes do conselho para prisão enquanto seu patrocinador-chefe, os militares americanos, lentamente os abandona.

Um dos casos mais notórios é o do xeique Maher Sarhan Abbas, detido pelo governo há 27 dias, de acordo com sua família e companheiros líderes do Despertar.

A prisão de Abbas ocorreu em segredo e veio à tona quando o New York Times contatou por acaso alguém que o havia visto na prisão. Esse foi um dos vários casos semelhantes nas últimas semanas que preocupam não apenas membros do Despertar, mas também militares e diplomatas americanos.

Há muito tempo, líderes sunitas são alvos de militantes islâmicos e milícias xiitas. E altos líderes do Despertar foram presos em semanas recentes.

Alguns líderes acusam o governo de tentar eliminá-los, ou pelo menos de agir precipitadamente quando são feitas acusações anônimas contra eles.

As tensões entre grupos sunitas do Despertar e o governo dominado pelos xiitas do primeiro-ministro Nouri Kamal al-Maliki existiram desde o início. Os esforços dos EUA para transferir o pagamento das forças de segurança do Despertar dos americanos para os iraquianos inicialmente sofreu resistência de líderes em Bagdá, que acusam muitos dos líderes do Despertar de ainda apoiarem ativamente insurgentes antigoverno.

Abbas, entretanto, era um símbolo local admirado pelo movimento do Despertar, que surgiu há dois anos quando oficiais americanos começaram a abordar tribos sunitas, oferecendo dinheiro para que se opusessem às forças insurgentes.

Os vizinhos xiitas e os seguidores sunitas do xeique confiavam tanto nele que o abrigaram em suas próprias casas quando o grupo insurgente Al-Qaeda ainda era forte na Mesopotâmia. Soldados americanos de uma base próxima afirmam que o consideravam um aliado confiável, e ainda consideram.

No entanto, logo após a meia noite de 15 de março, homens fortemente armados lançaram granadas de fumaça ensurdecedoras em sua casa em Hawr Jab, um pequeno vilarejo nos arredores do sul de Bagdá, segundo sua família.

Eles invadiram o quarto onde Abbas e sua esposa assistiam semidespertos a um drama da televisão turca, enquanto sua filha de três anos dormia em uma pequena cama ao lado.

"Ele pensou que a Al-Qaeda finalmente havia resolvido pegá-lo", disse sua esposa Shada Rasheed, 23, enquanto mantinha sua filha nos braços.

O New York Times descobriu a detenção de Abbas por meio de outro líder do Despertar, Raad Ali, também detido pelo governo sob acusações de terrorismo, mas liberado após pressões dos americanos.

Questionado sobre a detenção de Abbas, Mohammed Salman al-Saady, que comanda o gabinete ministerial responsável pelos grupos do Despertar, disse que desconhecia o caso.

Mas afirmou: "Um membro do Despertar é perdoado por qualquer coisa, exceto assassinato. A pergunta correta é: por que essa pessoa foi presa?"

Abbas já sabia que era procurado pelos militantes sunitas, que combateu boa parte dos últimos dois anos e meio. Mas as tropas que o prenderam disseram a seus familiares que haviam sido enviados diretamente pelo gabinete do primeiro-ministro.

Ao lado dos iraquianos estavam forças dos EUA, conhecidas aqui como "a tropa dourada", por causa de seus uniformes cor de areia, disseram membros da família. O capitão da unidade americana local disse que as tropas eram provavelmente de uma unidade das Operações Especiais, que normalmente não informam forças locais sobre incursões.

"Quando o detiveram, ficamos todos chocados", disse o capitão Kip Kowalski, comandante americano da estação de segurança conjunta em Hawr Jab, perto da casa de Abbas.

A unidade de Kowalski se desculpou à família, mas disse ser incapaz de ajudar; a unidade local do exército iraquiano proibiu seguidores do Despertar de Abbas de fazer passeatas pacíficas para pedir sua libertação.

"Ele é o líder do conselho local daqui", disse Kowalski. "Não tínhamos nenhuma acusação contra ele, mas quanto a ajudar em sua libertação, a prisão foi do governo do Iraque. Se eles têm um mandado, isso precisa funcionar nos termos do processo."

Muitos integrantes do Despertar, e alguns oficiais americanos que trabalham com eles, acreditam que as prisões de pessoas como Abbas são o resultado de uma nova estratégia de extremistas sunitas para conseguir tirar seus inimigos mais eficazes das ruas.

Segundo essa teoria, antigos membros da Al-Qaeda na Mesopotâmia denunciam secretamente ao governo que o líder do Despertar é um infiltrado da organização e deve ser preso por crimes do passado. Sob o sistema legal iraquiano, se existem duas testemunhas, o governo pode emitir um mandado, deter um suspeito e então investigar.

Uma segunda abordagem envolve familiares de afiliados à Al-Qaeda que perderam parentes devido à violência e processam membros do Despertar, geralmente responsáveis por matar membros da Al-Qaeda durante os dois últimos anos de combate, disse Kowalski, que afirma que sua unidade soube de diversos casos parecidos.

A detenção pode às vezes durar meses, e os detidos sob acusação de terrorismo ficam "sem visita, sem advogado, sem sol", disse Ali, descrevendo as condições de sua prisão, que durou uma semana.

O primeiro-tenente Jobie Siemer, do 1º Batalhão, 505º Fuzileiros Pára-quedistas, que trabalhou de perto com Abbas em Hawr Jab, disse: "Conheço um monte de gente por aqui que matou um bocado, mas que estava defendendo sua terra e nos ajudando, e isso é uma boa coisa".

Funcionários do governo xiita suspeitam dos Filhos do Iraque, temendo que eles se tornem o núcleo armado de uma futura insurgência. Para líderes sunitas do Despertar, o governo talvez esteja disposto demais a aceitar acusações contra eles.

"Deveriam investigar por três meses antes de prender pessoas", disse Ali, o líder do Despertar em Ghaziliya, que viu o xeique Abbas na detenção.

"É assim que os terroristas estão tentando voltar. Um de seus planos é nos remover, nos tirar das ruas para que possam se esgueirar de volta", disse.

Um oficial americano sênior no Iraque também estava cético sobre as motivações da prisão. "Por que o governo está fazendo isso?", perguntou o oficial, que pediu para não ser identificado por não estar autorizado a falar com a imprensa.

"Toda vez que falamos ao governo, 'vocês precisam liberar esse cara', eles liberam, algo que não fariam se pensassem que ele fosse realmente perigoso", disse o americano. "Acho que eles estão envolvidos na questão sectária."

Os 13 membros do Despertar que morreram no sábado estavam em uma base do exército iraquiano na província de Babil coletando seu pagamento, em atraso de três meses.

Todos no recinto estavam vestidos com o mesmo uniforme do Despertar, sugerindo que o suicida tenha entrado disfarçado.

Ao menos 12 pessoas do Despertar foram mortas em Babil este ano, segundo a polícia.

Saoud Auda, 30, pai de oito, ficou seriamente ferido no ataque suicida, que ocorreu logo após ele ter recebido seu pagamento.

"Esperava voltar para casa, pagar o dono da mercearia e comprar para meu filho pequeno um avião de brinquedo", disse. "Mas meu dinheiro queimou com o meu corpo."

Tradução: Amy Traduções

The New York Times
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