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Oriente Médio

Atravessadores de clandestinos: redes mafiosas cada vez mais poderosas

12 mai 2015 - 10h00
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Os lucros são enormes, os riscos limitados, a demanda inesgotável: o transporte clandestino de migrantes da África à Europa, através do Mediterrâneo, atrai cada vez mais grupos mafiosos poderosos e organizados, estimam especialistas e autoridades.

O volume de negócios anual, avaliado pelo Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC) em 7 bilhões de dólares, interessa aos traficantes internacionais, mas também transforma os chefes de guerra, clãs ou redes locais em ricos atores da criminalidade transfronteiriça.

Em seu relatório de 2014 sobre o tráfico de pessoas, a UNODC afirma que os fluxos transfronteiriços estão ligados em geral ao crime organizado.

Quando se tornam complexos, os fluxos podem ser facilmente sustentados por grandes grupos criminosos bem organizados.

O transporte de clandestinos através da África e do Oriente Médio, e depois do Mediterrâneo, foi durante muito tempo obra de pescadores, de famílias de contrabandistas ou de tribos que atravessam o deserto desde os tempos das caravanas de sal, mas as somas que representam atualmente atraem cada vez mais as grandes máfias.

"Até 2013, os imigrantes nos diziam que faziam a viagem por etapas, e em cada etapa mudavam de atravessadores e pagavam um novo preço", explica à AFP Arezo Malakooti, da agência consultora Altai, que trabalha, entre outros, para a Organização Internacional para Migrações (OIM).

"Desde 2014, vemos cada vez mais migrantes que pagam por toda a viagem, de seus países até o destino. Falei com palestinos que me disseram que haviam pago sua viagem como se tivessem adquirido um pacote em uma agência de viagens. Isso demonstra que existem redes que administram toda a filial, ou ao menos que há um alto grau de cooperação entre diferentes redes", afirma Malakooti.

A chegada maciça ao mercado da migração clandestina de sírios que fogem da guerra, membros da alta classe média e, portanto, mais ricos que os africanos que fogem da miséria, levou os traficantes a multiplicar suas ofertas.

"Vemos nas redes sociais campanhas de publicidade agressivas", afirma Arezo Malakooti, que está terminando um relatório sobre a migração ilegal no Mediterrâneo.

"Há páginas no Facebook com os preços, os locais de partida, do tipo 'um barco parte amanhã de tal porto', as tarifas com opções": "pagando mais você pode ter uma viagem mais segura, com coletes salva-vidas ou um lugar na parte superior. Se você está no fundo e o barco afunda, certamente se afoga".

Em um relatório, a ONG Global Initiative Against Transnational Crime, com sede em Genebra, escreve: "os atravessadores eram tradicionalmente moradores com certas competências ou certos contatos, e que agiam sozinhos (...) mas recentemente constatamos que estas atividades passaram a ser mais sofisticadas e são cada vez mais obra de redes profissionais".

"A história das migrações, em particular através do Mediterrâneo, é a de uma profissionalização progressiva dos atravessadores". Agora, a ação dos atravessadores vai de uma atividade artesanal a operações muito profissionais, e frequentemente uma combinação de ambas", acrescenta o documento.

Joel Milman, porta-voz da OIM em Genebra, afirma que estas redes "têm vínculos entre elas, porque vemos, por exemplo, mulheres que passam pela Líbia e que encontramos posteriormente empregadas na prostituição nas ruas das cidades europeias".

O desmantelamento recente na Itália de redes de atravessadores e a detenção de alguns deles, que tentavam passar despercebidos entre os imigrantes e entrar na Europa, permitiu entender melhor quem são os autores deste crime organizado.

Em dezembro de 2014, a justiça italiana anunciou a detenção de 11 pessoas, todas eritreias, que formavam uma rede mafiosa em Itália, Líbia, Eritreia e em outros países do norte da África. Seu chefe, instalado na Alemanha, supervisionava uma organização responsável por ao menos 23 viagens à costa italiana durante o verão de 2014. Naquele ano, mais de 170.000 migrantes chegaram à Itália. Cada embarcação, tendo chegado ou não ao seu destino, representou dezenas de milhares de euros aos traficantes.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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