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Morre Fethullah Gulen, o poderoso clérigo acusado de arquitetar tentativa de golpe na Turquia

21 out 2024 - 08h59
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Morreu o clérigo radicado nos Estados Unidos Fethullah Gulen, que construiu um poderoso movimento islâmico na Turquia e em outros países, mas que passou seus últimos anos atolado em acusações de orquestrar uma tentativa de golpe contra o líder turco Tayyip Erdogan. Ele tinha 83 anos.

Herkul, um site que publica os sermões de Gulen, disse em sua conta no X que Gulen havia morrido no domingo à noite no hospital dos EUA onde estava sendo tratado.

Gulen foi um antigo aliado de Erdogan, mas os dois se desentenderam de forma espetacular, e Erdogan o considerou responsável pela tentativa de golpe de 2016, na qual soldados desertores tomaram aviões de guerra, tanques e helicópteros. Cerca de 250 pessoas foram mortas na tentativa de tomar o poder.

Gulen, que viveu em um exílio autoimposto nos Estados Unidos desde 1999, negou envolvimento no golpe, mas seu movimento foi designado como um grupo terrorista pela Turquia.

O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, confirmou sua morte, descrevendo-o como o líder de uma "organização obscura" e dizendo que a luta da Turquia contra o grupo continuaria.

"A determinação de nossa nação na luta contra o terrorismo continuará, e essa notícia de sua morte nunca nos levará à complacência", disse Fidan em uma coletiva de imprensa.

De acordo com seus seguidores, o movimento de Gulen -- conhecido como "Hizmet", que significa "serviço" em turco -- busca disseminar uma marca moderada do Islã que promove a educação no estilo ocidental, mercados livres e comunicação inter-religiosa.

Desde o golpe fracassado, seu movimento tem sido sistematicamente desmantelado na Turquia e sua influência internacional tem diminuído.

Conhecido por seus apoiadores como Hodjaefendi, ou professor respeitado, Gulen nasceu em um vilarejo na província de Erzurum, no leste da Turquia, em 1941. Filho de um imã, ou pregador islâmico, ele estudou o Alcorão desde a infância.

Em 1959, Gulen foi nomeado imã de uma mesquita na cidade de Edirne, no noroeste do país, e ganhou destaque como pregador na década de 1960, na província de Izmir, no oeste, onde montou dormitórios para estudantes e pregava em casas de chá.

Essas casas de estudantes marcaram o início de uma rede informal que se espalharia nas décadas seguintes pela educação, negócios, mídia e instituições estatais.

Sua influência também se espalhou além das fronteiras da Turquia para as Repúblicas turcas da Ásia Central, os Bálcãs, a África e o Ocidente por meio de uma rede de escolas.

Fidan disse que espera que a morte de Gulen elimine um "feitiço" sobre os jovens turcos que haviam tomado um caminho de "traição" contra seu país sob o pretexto de valores religiosos. "Esse não é um bom caminho", acrescentou.

EX-ALIADO DE ERDOGAN

Gulen foi um aliado próximo de Erdogan e de seu Partido AK, mas as crescentes tensões no relacionamento entre eles explodiram em dezembro de 2013, quando vieram à tona as investigações de corrupção que tinham como alvo ministros e funcionários próximos a Erdogan.

Acreditava-se que promotores e policiais do movimento Hizmet de Gulen estavam por trás das investigações e um mandado de prisão foi emitido para Gulen em 2014. Seu movimento foi designado como um grupo terrorista dois anos depois.

Logo após a tentaiva de golpe de 2016, Erdogan descreveu a rede de Gulen como traidores e "como um câncer", prometendo extirpá-los onde quer que estivessem. Centenas de escolas, empresas, meios de comunicação e associações ligadas a ele foram fechadas e seus bens foram confiscados.

Gulen condenou a tentativa de golpe "nos termos mais fortes".

"Como alguém que sofreu com vários golpes militares nas últimas cinco décadas, é especialmente insultante ser acusado de ter qualquer ligação com tal tentativa", disse ele.

Em uma repressão pós-golpe, que, segundo o governo, tinha como alvo os seguidores de Gulen, pelo menos 77.000 pessoas foram presas e 150.000 funcionários do Estado, incluindo professores, juízes e soldados, foram suspensos sob o regime de emergência.

Empresas e meios de comunicação considerados ligados a Gulen foram confiscados pelo Estado ou fechados. O governo disse que suas ações foram justificadas pela gravidade da ameaça que o golpe representava para o Estado.

Gulen também era insultado pela oposição da Turquia, que via sua rede como tendo conspirado durante décadas para minar os fundamentos seculares da República.

Ancara há muito tempo tentava fazer com que ele fosse extraditado dos Estados Unidos.

Falando em seu complexo fechado nas montanhas Pocono, na Pensilvânia, Gulen disse em uma entrevista à Reuters em 2017 que não tinha planos de fugir dos Estados Unidos para evitar a extradição. Mesmo assim, ele parecia frágil, mantendo seu médico de longa data por perto.

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