Médicos Sem Fronteiras espera ser impedida de entrar em Gaza depois de perder prazo de Israel
A organização médica beneficente Médicos Sem Fronteiras espera ser impedida de operar em Gaza uma vez que não cumpriu o prazo de quarta-feira para preencher as novas regras de registro para agências de ajuda humanitária que, segundo Israel, têm o objetivo de impedir que o Hamas explore a ajuda internacional.
A organização, que prestou assistência a quase meio milhão de pessoas durante uma guerra de dois anos na Faixa de Gaza, diz que o cancelamento do registro cortaria a assistência médica que salva vidas de centenas de milhares de pessoas no enclave palestino.
A Cogat, agência militar israelense que coordena a ajuda, disse que a MSF se recusou a fornecer ao Ministério de Assuntos da Diáspora de Israel uma lista de seus funcionários, conforme exigido.
O Ministério de Assuntos da Diáspora alega que indivíduos afiliados à MSF têm ligações com o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina. A MSF rejeita as acusações como infundadas, acrescentando que nunca empregaria conscientemente alguém envolvido em atividades militares.
Quando perguntada, a MSF não declarou se havia fornecido nomes.
Em maio, a agência de ajuda Oxfam disse que a exigência de compartilhar detalhes da equipe levantou preocupações de proteção, após ataques a trabalhadores humanitários em Gaza.
A MSF disse à Reuters que o impacto seria devastador se a organização fosse impedida de operar, à medida que a crise humanitária se aprofundasse.
"Se a MSF for impedida de trabalhar em Gaza, isso privará centenas de milhares de pessoas de ter acesso a cuidados médicos", disse a organização, destacando os riscos para os civis que já estão lutando para ter acesso a serviços de saúde.
Dezenas de outros grupos de ajuda internacional correm o risco de ter o registro cancelado, o que pode forçar o fechamento ou restrições de operação em Gaza e na Cisjordânia ocupada, dentro de 60 dias, caso não cumpram, até 31 de dezembro, os novos critérios estabelecidos pelas autoridades israelenses.
Embora alguns grupos de ajuda internacional tenham sido registrados sob o sistema que foi introduzido em março, o Conselho Norueguês de Refugiados (NRC) e a Oxfam disseram à Reuters que também estão se preparando para um possível cancelamento do registro.
Se isso acontecer, o NRC disse que provavelmente será forçado a fechar seu escritório em Jerusalém Oriental e não poderá trazer trabalhadores humanitários estrangeiros para Gaza. A organização tem cerca de 200 funcionários locais e 35 funcionários internacionais em Gaza e na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental.
"Em um momento em que as necessidades em Gaza excedem em muito a ajuda e os serviços disponíveis, Israel bloqueou e continuará bloqueando a entrada de ajuda que pode salvar vidas", disse Shaina Low, porta-voz do NRC.
A líder de políticas da Oxfam no Território Palestino Ocupado, Bushra Khalidi, disse à Reuters que seus funcionários e parceiros palestinos continuarão a apoiar as comunidades, mas afirmou que forçar as agências de ajuda a depender da obtenção de suprimentos localmente -- já que não terão permissão para trazer produtos de fora -- faz parte de um desmantelamento mais amplo do sistema de ajuda humanitária.
Nesta terça-feira, o Ministério das Relações Exteriores britânico publicou uma declaração, juntamente com a França, o Canadá e outros países, dizendo que Israel deveria permitir que as ONGs trabalhassem em Israel de forma sustentada e previsível, e compartilhou a preocupação com a situação humanitária em Gaza.
O Cogat disse que 4.200 caminhões de ajuda continuarão a entrar toda semana por meio da ONU, dos países doadores, do setor privado e de mais de 20 organizações internacionais que foram registradas novamente.