Médico: soterramento acaba com matemática de sobrevivência
9 abr2009 - 11h41
(atualizado às 12h56)
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Ana Ávila
Direto de Porto Alegre
Eleonora Celesini, 20 anos, foi encontrada ferida, mas com vida, embaixo de escombros de um prédio que desabou no centro histórico da cidade L'Aquila, na Itália. De pijama, a jovem passou 42 horas em uma espécie de vão formado por pilastras de cimento armado, o que permitiu que ela resistisse aos ferimentos e sobrevivesse até a chegada do socorro. O caso de Eleonora se encaixa na média de tempo que um ferido é capaz de resistir sob os escombros, segundo explica o professor titular e chefe da disciplina de Cirurgia do Trauma da Faculdade de Medicina da Unicamp, Mario Mantovani. De acordo com o médico, os seres humanos são capazes de sobreviver cerca de três dias sem água e até uma semana sem alimento. Em desmoronamentos, no entanto, a situação é agravada por hemorragias e ferimento que reduzam a capacidade de resistência.
"O organismo tem suas reservas deslocadas para poder sobreviver", afirma Mantovani. O professor explica que a idade, o uso de medicamentos contínuos e as condições do ambiente - frio ou calor extremo, existência de água -, entre outros fatores, podem influenciar na resistência das vítimas. Sem alimento, mas ingerindo água, uma pessoa é capaz de agüentar até aproximadamente um mês em uma situação menos grave. Porém, sob escombros, há grande probabilidade de ferimentos graves, que reduzem a sobrevivência.
Se não são esmagadas imediatamente, as vítimas que resistem em situações como o terremoto registrado na Itália, costumam ter hemorragias ou fraturas que as impedem de resistir por um longo período. A perda de sangue é um dos fatores que pode levar à morte rápida. "Não acontece nada com indivíduo que perdeu até 5% do seu volume sangüíneo, mas se ele perdeu mais de 40% do sangue e a hemorragia não for estancada, ele deverá morrer", explica Mantovani.
Para o especialista, o planejamento prévio é capaz de interferir decisivamente em catástrofes como a que assolou a Itália. A preparação de profissionais e simulação de atendimento são importantes para reduzir ao máximo o número de vítimas fatais. "Catástrofes podem acontecer há qualquer momento. Sem treinamento, as chances se fracasso são muito grandes. O treinamento aumenta muito as chances de sucesso", diz.
Cores classificam vítimas
De acordo com Mantovani, as vítimas são classificadas em cinco cores que correspondem à gravidade dos ferimentos: vermelha - correm risco de vida, tem prioridade no atendimento -, amarela - em estado grave, mas podem aguardar um tempo maior -, verde - com ferimentos mais leves -, preta - interferência médica terá resultados mínimos porque estão praticamente mortas - e branca - mortas. Por exemplo, se uma pessoa não consegue respirar, mas após os procedimentos médicos de praxe há alguma melhora no quadro, ela é classificada como vermelha. Mas se sua situação não se altera, ela é preta.
Ainda segundo o médico, o local da catástrofe é definido como "área quente", onde entram apenas os bombeiros e integrantes de equipes de resgate, que estão preparados para a situação. Estes profissionais levam os feridos até a "área fria" ou "morna", onde os médicos classificam os feridos pela escala de cores. Entre os vermelhos, é feita uma triagem para determinar qual tem prioridade no atendimento e o procedimento a ser adotado (transferência para hospital, atendimento no local, necessidade de helicóptero etc).
Recordes de sobrevivência
Em vários desastres (naturais ou não) não faltam histórias de pessoas que sobreviveram dias e até mesmo semanas soterrados por escombros. Em maio do ano passado, quando vários terremotos arrasaram a região chinesa de Sichuan, o mundo inteiro conheceu a história de Ma Yuanjiang, 31 anos, que foi resgatado após permanecer 179 horas sob os escombros do prédio onde trabalhava.
Na mesma tragédia, Zeng Changhui permaneceu ainda mais tempo soterrada e conseguiu sair com vida. Foram nove dias embaixo dos escombros de um túnel de um complexo hidrelétrico em Shifang. Apesar de ter sofrido várias fraturas e ter permanecido todo esse tempo sem auxílio médico, ela escapou vida. "Os ferimentos sofridos por Zeng não colocaram a vida dela em risco", disse Pu Jinhui, uma médica de emergência, na época.
Em 2004, na Turquia, um garoto de 16 anos resistiu seis dias depois que se prédio desabou após um terromoto na zona centro do país. Ele foi o primeiro a ser resgatado dos escombros. "Eu me mantive atento às vozes do pessoal da equipe de resgate. Eu tentei não perder a esperança de que eles iriam me achar", disse Muhammet Kalem na época. Segundo um jornal local, o paí de garoto já havia inclusive cavado a sepultura para o seu filho.
Em janeiro de 1989, o jornal The Washington Post noticiou a história de seis pessias que teriam sobrevivido 35 dias sob os escombros de um prédio de apartamentos depois que o terremoto atingiu a cidade de Leninakan. Na época, a agência de notícias soviética Tass informou que eles haviam conseguido escapar com vida porque tinha à disposição vegetais e frutas enlatados.
Há também algumas histórias de "milagres" em torno do terremoto que atingiu a Cidade do México em 1985. Uma das mais conhecidas é de um grupo de bebês resgatados dos escombros de um hospital. Com idades entre 8 horas e 9 dias, eles resistiram mais de um dia até que as equipes de resgate os tirassem debaixo de estruturas de concreto e gesso. Estima-se que mais de 10 mil pessoas tenham morrido na oportunidade.
Italianos enrolados em cobertores se preparam para dormir em acampamento após terremoto em L'Aquila
Foto: AP
Equipe de emergência usa cães farejadores nas buscas por sobreviventes em Onna, sob forte chuva
Foto: AFP
Desabrigados fazem fila para pegar comida em acampamento da Defesa Civil em L'Aquila
Foto: AP
Policial passa em frente aos destroços de prédio do governo destruído pelo terremoto, em L'Aquila
Foto: Reuters
Carro é enterrado sob os escombros de edifícios atingidos pelo terremoto, em Onna
Foto: EFE
Equipe de resgate carrega homem ferido encontrado sob os escombros de sua casa, em L'Aquila
Foto: Reuters
Casal se abraça perto das ruínas da casa onde moram, em Onna
Foto: Reuters
Bombeiros e policiais procuram por sobreviventes em meio a destroços, em Onna
Foto: Reuters
Equipe de resgate procura por sobreviventes durante a madrugada, em L'Aquila
Foto: Reuters
Homem procura por parentes em rua coberta pelos destroços de prédios destruídos pelo terremoto, em L'Aquila
Foto: Reuters
Pessoas deixam as suas casas durante a noite após o terremoto atingir a cidade de L'Aquila
Foto: Reuters
O primeiro-ministro Silvio Berlusconi concede entrevista sobre a tragédia, em L'Aquila
Foto: AP
Giulio Selvaggi, diretor do Centro Nacional para Terremotos, observa registros de sismógrafos, em Roma
Foto: AP
Destroços de casa caíram sobre carros, em Onna
Foto: AP
Equipe de resgate e voluntários removem os destroços de prédio desabado, em Onna
Foto: AP
Bombeiro caminha em rua destruída, em Onna
Foto: AP
Lençóis brancos cobrem vítimas do terremoto, em Onna
Foto: AP
Homens se abraçam em meio a destroços de casas, em L'Aquila
Foto: AP
Cúpula da catedral de L'Aquila foi destruída pelo terremoto
Foto: AFP
Cães farejadores são usados nas buscas por sobreviventes em Castelnuovo
Foto: AP
Vista aérea mostra rastro de destruição deixado pelo terremoto em L'Aquila
Foto: AP
Terremoto derrubou diversas residências em L'Aquila
Foto: AP
Acampamento montado pela Defesa Civil abriga as vítimas do terremoto em L'Aquila
Foto: AP
Idosa e freiras descansam em acampamento da Defesa Civil em L'Aquila
Foto: AP
Helicóptero dos Bombeiros é usado na busca por sobreviventes em Onna
Foto: AP
Equipe de emergência socorre homem encontrado nos escombros de sua casa em L'Aquila
Foto: Reuters
Desabrigados por terremoto fazem fila para receber alimentos
Foto: AP
Bombeiros buscam sobreviventes entre escombros na cidade de L'Aquila
Foto: AP
Integrantes de equipe de resgate se aquecem durante intervalo nas buscas
Foto: Reuters
Homem observa destruição causada por terremoto na vila de Onna
Foto: Reuters
Família caminha em meio aos destroços de casas destruídas na cidade de Onna
Foto: Reuters
Equipe de resgate trabalha em meio aos destroços de casa destruída pelo terremoto, em Onna
Foto: Reuters
Entrada de casa foi destruída pelo terremoto, em Onna
Foto: Reuters
Equipe de resgate observa destroços de casas, em Onna
Foto: Reuters
Carro permanece em meio aos destroços de casas, em L'Aquila
Foto: Reuters
Escavadeira remove os destroços de prédios, em L'Aquila
Foto: AP
Bombeiros carregam o corpo de filha de um colega após retirá-lo dos escombros de uma casa, em L'Aquila
Foto: Reuters
Pessoas são atendidas do lado de fora do hospital St. Salvatore, em L'Aquila
Foto: Reuters
O voluntário Massimo Sanfilipo trouxe o seu cão Full para ajudar na busca por sobreviventes em L'Aquila
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
Familiares de vítimas de terremoto se reúnem em frente a dormitório de universidade, em L'Aquila
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
O diretor geral de emergência, Sergio Basti, concede entrevista sobre a situação de dormitório de universidade em L'Aquila
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
O carro de Sergio Piancateli destruído parcialmente após o tremor de segunda-feira
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
O italiano Sergio Piancateli relembra os momentos de terror durante o tremor da madrugada de segunda-feira
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
Casa resiste após perder as paredes externas no terremoto de segunda-feira
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
Apartamentos estão destruídos apesar de alguns edifícios ainda resistirem aos danos
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
Terremoto destruiu as estruturas de diversos edifícios na cidade de L'Aquila
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
Nuvem de poeira é vista após novo tremor na cidade de L'Aquila
Foto: AFP
Igreja de Santa Maria Paganica teve parte do telhado derrubado pelo terremoto em L'Aquila
Foto: AP
Bombeiro chora após retirar o corpo de sua enteada dos escombros de casa em L'Aquila
Foto: Reuters
Maria Rita Tichetti e a família foram salvos graças ao desmoronamennto do prédio vizinho ao que moravam em L'Aquila
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
Equipe da Defesa Civil italiana prestam assistência a vítimas dos tremores em abrigo improvisado em estádio de L'Aquila
Foto: Francisco de Assis / Especial para Terra
Integrante de equipe de resgate espanhola utiliza cachorro para ajudar na busca por sobreviventes em meio a destroços de prédio, em L'Aquila
Foto: AP
Médicos descansam em frente a tendas em acampamento na cidade de L'Aquila
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
Equipe de recreacionistas brinca com crianças em acampamento, em L'Aquila
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
Vítima de tremores lê jornal dentro de tenda em acampamento, em L'Aquila
Foto: Leandro Demori / Especial para Terra
Berlusconi observa fotos aéreas dos estragos provocados pelos tremores durante visita a equipes de resgate, em L'Aquila
Foto: Reuters
Vista aérea de parte da cidade de Onna, vizinha de L'Aquila, a mais atingida pelo terremoto da última semana
Foto: Reuters
Homem caminha em frente a uma montanha de escombros em Onna. O terremoto matou 13% da população da cidade
Foto: AP
Homens fazem fogueira ao lado de escombros em Onna. Segundo os bombeiros, 90% das casas - ou o que sobrou delas - terão de ser demolidas
Foto: AP
Homem visita casa parcialmente destruída em Onna. Em todo o país, 17 mil pessoas estão desabrigadas
Foto: AP
Homens trabalham com a ajuda das máquinas para remover os escombros que tomaram conta de toda a cidade
Foto: AP
Vista aérea da cidade, que era uma aldeia de agricultores e artesãos. Após mil anos, Onna não existe mais
Foto: Reuters
Tremores destruíram igreja na cidade de Onna
Foto: Reuters
Trator passa perto de escombros na cidade de Onna
Foto: Reuters
Homem recupera seus pertences após ter casa destruída
Foto: Reuters
Napolitano (esq.) visita áreas atingidas de Onna
Foto: Reuters
Parede derrubada pelo tremor expõe interior de casa em L'Aquila
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Moto ficou destruída após o terremoto
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Dezenas de carros foram destruídos pelos escombros
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Uma estante de livros pode ser vista através de um buraco de um prédio em L'Aquila
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Roupas e móveis foram abandonados nas ruas
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Carro destruído pelo tremor
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Carro destruído é abandonado em uma das ruas da cidade
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Cemitério de L'Aquila também foi bastante afetado pelos tremores
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Antes da cerimônia de hoje, mais de mil pessoas estavam enterradas no local
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Autoridades do Vaticano foram enviadas para o enterro das vítimas do tremor
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Algumas áreas do cemitério estão interditadas
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Há riscos de deslizamento no cemitério
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Algumas lápides estão sendo mantidas de pé por suportes
Foto: Francisco Assis / Especial para Terra
Berlusconi (dir.) acompanhou o enterro das vítimas em L'Aquila
Foto: Reuters
Foram enterradas nesta sexta 205 das 289 vítimas do tremor
Foto: Reuters
A cerimônia foi realizada no cemitério da cidade, que também foi afetado pelo tremo
Foto: Reuters
Antes do enterro, Berlusconi disse que a Itália pode receber até 500 milhões de euros da UE