Igreja Russa inicia cisma no mundo ortodoxo
Moscou rompeu com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla
A Igreja Ortodoxa da Rússia rompeu nesta segunda-feira (15) os laços com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla por causa da decisão, anunciada na semana passada, de conceder autocefalia a duas igrejas ortodoxas da Ucrânia.
Após um sínodo realizado em Minsk, capital de Belarus, o metropolita Hilarión, responsável pelas relações exteriores da Igreja Russa, afirmou que é "impossível" continuar a "ligação eucarística" com Constantinopla, cujo patriarca, Bartolomeu, era considerado até então o "primeiro entre os iguais", uma espécie de "guia supremo" do mundo ortodoxo.
Segundo Hilarión, a decisão de conceder autocefalia - quando o líder de determinada denominação cristã não precisa se reportar a um superior - à Igreja Ortodoxa Ucraniana e à Igreja Ucraniana Ortodoxa Autocéfala, que se unirão em uma só, é "ilegítima".
"Esperamos que o bom senso vença e que o Patriarcado de Constantinopla mude sua postura, reconhecendo a realidade eclesiástica existente. Enquanto essas decisões ilegais e anticanônicas estiverem em vigor, não poderemos ter laços com essa igreja, que a partir de hoje está em divisão", disse Hilarión.
Ainda não se sabe se outras igrejas ortodoxas seguirão Moscou e romperão com Constantinopla, mas a da Polônia já havia declarado apoio à Rússia. Os ortodoxos ucranianos se reportavam a Moscou desde 1686.
A crise
O cisma começou após a decisão de Bartolomeu de enviar dois exarcos a Kiev para iniciar os trabalhos para a autocefalia, medida tomada de forma unilateral, sem convocar o concílio ecumênico dos ortodoxos.
Em função disso, Moscou ameaçou romper com o Patriarcado de Constantinopla, que tem sede em Istambul, na Turquia, o que tira de Bartolomeu o título de "primeiro entre os iguais". Desde sua independência, em 1991, a Ucrânia já ensaiou diversas vezes a criação de uma igreja ortodoxa local, mas a nova tentativa chega em meio aos conflitos contra grupos separatistas pró-Moscou no leste do país, que se arrastam desde 2014.
O pedido de autocefalia foi enviado a Bartolomeu pelo presidente Petro Poroshenko, com aval do Parlamento. O Patriarcado Ecumênico alega que a união entre Moscou e Kiev, adotada em 1686, tinha caráter temporário e que a Ucrânia sempre foi considerada um "território canônico".