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Guerra na Ucrânia: as 6 exigências de Putin para acabar com o conflito

A principal demanda é que a Ucrânia aceite ser neutra e não aderir à Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos). Mas disputas territoriais ligadas a um acordo de paz devem ser resolvidas pessoalmente em encontro entre Putin e Zelensky.

18 mar 2022 - 08h38
(atualizado às 10h29)
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A Turquia se posicionou com bastante cuidado no conflito entre Rússia e Ucrânia, e isso parece ter rendido frutos. Em 17/03, três semanas depois do início da invasão, o presidente russo, Vladimir Putin, ligou para o colega turco, Recep Tayyip Erdogan, e listou quais são precisamente as demandas da Rússia para assinar um acordo de paz com a Ucrânia.

Pouco mais de meia hora depois do telefonema, a BBC entrevistou Ibrahim Kalin, porta-voz e principal conselheiro de Erdogan. Ele faz parte do seleto grupo que acompanhou a conversa entre Putin e o presidente turco.

As demandas da Rússia podem ser divididas em duas categorias.

A primeira, com quatro exigências, não parece tão difícil para a Ucrânia, segundo Kalin.

A principal demanda dessa categoria é que a Ucrânia aceite que deve ser geopoliticamente neutra e não deve aderir à Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos). O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já sinalizou durante o conflito que adotaria tal posição.

Há outras demandas nessa primeira categoria que parecem ser elementos que principalmente livram a cara do lado russo. São elas:

  • a Ucrânia teria que se submeter a um processo de desarmamento para garantir que não seria uma ameaça à Rússia
  • precisaria haver uma proteção à língua russa na Ucrânia
  • o país também teria que promover o que a Rússia chama de "desnazificação".

Esse último ponto, da "desnazificação", é considerado profundamente ofensivo para Zelensky, que é judeu e tem parentes que morreram no Holocausto, mas a Turquia acredita que essa exigência seria fácil de ser aceita pelo presidente ucraniano. Talvez porque baste a Ucrânia condenar todas as formas de neonazismo e se comprometer a combatê-las.

Mapa sobre a expansão da Otan
Mapa sobre a expansão da Otan
Foto: BBC News Brasil

Disputas territoriais

A segunda categoria de exigências russas, no entanto, é onde parece haver as principais dificuldades. Na ligação com o presidente turco, Putin afirmou que elas demandariam uma negociação cara a cara entre ele e Zelensky antes de chegarem a um acordo nesses pontos. O presidente ucraniano já disse estar preparado para encontrar o colega russo a fim de negociar pessoalmente um acordo de paz.

Kalin, conselheiro do presidente turco, deu à BBC muito menos detalhes sobre a segunda categoria de exigências da Rússia. Ele disse apenas que elas envolvem o status da região da Crimeia (anexada ilegalmente pela Rússia em 2014) e da região de Donbas, no leste ucraniano, onde grupos separatistas ligados à Rússia criaram repúblicas independentes em Donetsk e Luhansk.

Ainda que Kalin não tenha entrado em detalhes, é claro que a Rússia vai demandar que o governo ucraniano abra mão desses territórios separatistas no Leste. E isso seria bastante problemático.

Areas rebeldes
Areas rebeldes
Foto: BBC News Brasil

É possível assumir também que a Rússia demandará que a Ucrânia aceite formalmente que a Crimeia, que pertencia à Ucrânia até a anexação ilegal russa em 2014, passe de fato a pertencer ao território russo. Se essa for a demanda de Putin, seria um remédio bastante amargo a ser engolido pela Ucrânia.

De toda forma, a anexação russa da Crimeia é um fato consumado, mesmo que a Rússia não tenha o direito legal de possuir a região e também tenha assinado um tratado internacional, antes de Vladimir Putin chegar ao poder, aceitando que a Crimeia fazia parte da Ucrânia.

Alto número de mortes de militares russos na Ucrânia deve minar poder político de Putin na Rússia
Alto número de mortes de militares russos na Ucrânia deve minar poder político de Putin na Rússia
Foto: BBC News Brasil

Ao fim, as exigências de Putin parecem não são tão duras quanto alguns especialistas e algumas autoridades temiam, e dificilmente devem ser obstáculos ante toda a violência, o derramamento de sangue e a destruição que a Rússia infligiu à Ucrânia.

Dado o controle pesado do governo russo sobre a mídia, não deve ser muito difícil para Putin e seus subordinados apresentarem tudo isso como uma grande vitória.

Para a Ucrânia, porém, haverá sérias tensões. Se os detalhes de um eventual acordo não forem analisados com imenso cuidado, Putin e seus sucessores sempre poderão usar esses termos como desculpa para invadir a Ucrânia novamente.

Um acordo de paz pode levar muito tempo para ser resolvido, mesmo que um cessar-fogo pare o derramamento de sangue durante as negociações.

A Ucrânia sofreu terrivelmente nas últimas semanas, com milhões de refugiados, milhares de mortos e dezenas de cidades e vilas destruídas — a reconstrução do que foi destruído pela Rússia danificou demandará muito tempo e dinheiro. O mesmo acontecerá com o realojamento dos milhões de refugiados que fugiram de suas casas durante o conflito.

E em relação ao futuro do próprio Vladimir Putin? Há informações não oficiais circulando de que ele estaria doente, incluindo problemas de saúde mental. Questionado se percebeu algo estranho no telefonema, o porta-voz do presidente turco respondeu: de forma alguma, Putin aparentemente foi claro e conciso em tudo o que disse.

Mas do ponto de vista político,mesmo que Putin consiga apresentar um acordo com a Ucrânia como uma vitória gloriosa sobre o neonazismo, sua posição em casa deve ser enfraquecida.

Mais e mais pessoas vão perceber que ele se excedeu muito em sua ofensiva contra a Ucrânia, e relatos de soldados que foram mortos ou capturados já estão se espalhando rapidamente pelo país.

Além disso, o impacto das duras sanções econômicas impostas por potências globais (em razão da guerra) tem atingido duramente a vida dos russos, e não se sabe se um eventual acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia representará também o fim dessas medidas que têm devastado a economia do país.

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