Frio extremo, tempo limitado para comer: como é prisão onde principal opositor de Putin morreu

O líder da oposição russa Alexei Navalny morreu na prisão onde cumpria pena, aos 47 anos, nesta sexta-feira, 16. Navalny estava preso há cerca de três anos em uma penitenciária na região de Yamalo-Nenets, na Rússia. Segundo o jornal O Globo, conhecida como Polar Wolf ('Lobo Polar'), a prisão é reconhecida como uma das mais severas do sistema carcerário russo, especialmente devido às condições climáticas extremas, com invernos que alcançam temperaturas em torno de 30 graus Celsius negativos. 

Em declarações prévias a um tribunal russo, Navalny descreveu as condições na cela como 'congelantes', relatando temperaturas de até 32 graus negativos e criticando o tempo limitado para se alimentar, que era de apenas 10 minutos.

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"Você sabe por que as pessoas escolhem um jornal lá [um dos itens que podem receber na cela]? Para se cobrir. Porque com um jornal, posso dizer a vocês, juízes, é muito mais quente dormir, por exemplo, do que sem ele. E então você precisa de um jornal para não congelar. É impossível comer em 10 minutos. Se você comer todos os dias em 10 minutos, [fazer] esta refeição se tornará um processo bastante complexo", afirmou ele.

Quem era Alexei Navalny, principal opositor de Putin na Rússia

O porta-voz do governo da Rússia, Dmitry Peskov, disse não ter informações sobre a causa da morte. Ele afirmou que o sistema penitenciário está fazendo "todas as verificações". O falecimento foi confirmado por meio de um comunicado do serviço penitenciário federal da Rússia. O comunicado diz que Navalny teria tido um mal-estar após uma caminhada e perdido a consciência "quase imediatamente". Médicos teriam tentado ressuscitá-lo, sem sucesso.

A jornada de Navalny até a prisão foi descrita por ele como 'extremamente desgastante', com duração de 20 dias. Durante esse período, seus parentes ficaram sem notícias dele por cerca de três semanas. 

Ativista anticorrupção e um dos principais críticos de Putin, Navalny estava cumprindo uma sentença de 19 anos de prisão por acusações de 'extremismo', após ter sido detido em janeiro de 2021 ao retornar à Rússia. Sua prisão inicial ocorreu na colônia na região de Vladimir, a 250 quilômetros de Moscou.

Kharp, uma cidade remota com cerca de 5 mil habitantes, está localizada em Yamalia-Nenetsia, no extremo norte da Rússia. Este local abriga diversas colônias penais, sendo descrita por um dos colaboradores de Navalny como uma das mais isoladas do país, com condições rigorosas devido ao permafrost, uma camada de solo permanentemente congelada.

À beira do rio Sob, a Polar Wolf é uma das sete instalações corretivas de alta segurança administradas pelo Serviço Penitenciário Federal para aqueles condenados à prisão perpétua, título conferido em 2004, segundo dados do Atlas News. Esta instituição, conforme descrita, abriga uma série de recursos, incluindo caldeiras, padarias, usinas a diesel, uma cantina e áreas de produção para a confecção de blocos de concreto e brita.

Além disso, há oficinas de marcenaria, costura, alfaiataria e carpintaria disponíveis. Os internos têm direito a receber um pacote anualmente e podem realizar um passeio diário de 90 minutos em uma pequena jaula.

A descrição detalhada do portal menciona as condições das celas, onde os detentos têm acesso a uma cama, mesa, criado-mudo, prateleira com fechadura para armazenamento de alimentos e produtos de higiene pessoal, uma caixa d'água, cabides e vaso sanitário. Os presos não podem se deitar durante o dia e não têm permissão para conversar com outros detentos, sendo obrigados a realizar todos os movimentos algemados.

Fundada em 1960 como parte do sistema de campos de trabalho forçado da era soviética, a Polar Wolf foi mencionada em um artigo do jornal Moskovsky Komsomolets, conforme destacado pela Reuters.

As transferências entre as unidades prisionais na Rússia são conhecidas por serem longas e complexas, podendo levar várias semanas em viagens de trem com múltiplas etapas. Durante esse período, as famílias dos detentos ficam sem receber informações dos seus familiares detidos.