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Europa

Testemunha relata retirada de coração a frio em Kosovo

10 set 2012 - 22h10
(atualizado em 11/9/2012 às 00h17)
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A TV estatal sérvia (RTS) transmitiu nesta segunda-feira a entrevista com uma testemunha do tráfico de órgãos durante a guerra de Kosovo que afirma ter extraído o coração de uma vítima consciente e sem anestesia.

"Me deram um bisturi e ordenaram: 'começa porque não temos muito tempo'", revelou o homem, cuja voz foi distorcida pela emissora e que teria integrado a guerrilha de Kosovo.

"Coloquei minha mão esquerda sobre seu peito e comecei a cortar (...). O sangue jorrou e ele gritou pedindo para não ser mutilado, que não o matássemos", disse a testemunha, com sotaque albanês.

"Ele perdeu a consciência. Não sei se desmaiou ou morreu, não posso dizer porque fiquei transtornado", revelou a testemunha sobre a vítima, que "tinha cerca de vinte anos".

O promotor sérvio para crimes de guerra, Vladimir Vuckevic, disse no domingo à AFP que tinha uma testemunha - um ex-integrante da guerrilha do Kosovo - sobre o tráfico de órgãos extraídos de prisioneiros sérvios.

Segundo a testemunha, a cirurgia ocorreu em uma sala de aula, sobre três carteiras colocadas lado a lado para servir de mesa de operação. A vítima foi imobilizada por quatro guerrilheiros kosovares.

Na entrevista, a testemunha não revela onde ocorreu a operação, mas Vuckevic disse à AFP que a barbárie teve lugar no norte da Albânia, na zona de fronteira com Kosovo, "no final dos anos 90".

A testemunha afirma que da operação participaram dois médicos, incluindo um encarregado de preservar o órgão retirado, e conta como um dos homens "arrancou o coração da caixa toráxica, ainda batendo", após "secionarmos as artérias" da vítima.

"Me disseram para fazer um corte horizontal abaixo (...). O terceiro corte teria que ser um pouco mais acima, mas minhas mãos tremiam, fiquei descontrolado, e o médico teve que agir", disse a testemunha.

Durante a cirurgia, houve uma discussão entre os dois médicos porque um deles se esqueceu "da serra para cortar as costelas". A testemunha propôs então usar uma baioneta e, guiado por um dos médicos, cortou as costelas da vítima.

Após a cirurgia, o coração foi colocado em uma caixa térmica e levado imediatamente para o aeroporto de Tirana, onde os rebeldes foram recebidos por militares do Exército albanês. O órgão, entregue a um "estrangeiro", embarcou em um "pequeno avião particular" de matrícula turca, afirmou a testemunha.

As denúncias de tráfico de órgãos em Kosovo remontam a 2008 e fazem parte do relatório do parlamentar suíço Dick Marty, adotado em janeiro de 2011 pela Assembleia do Conselho da Europa. O relatório cita os nomes de dirigentes da guerrilha kosovar, incluindo Hashim Thaçi, atual primeiro-ministro de Kosovo. O premiê Thaçi e as autoridades albanesas desmentem as acusações.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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