O último Conclave da Igreja Católica começou no dia 18 de abril de 2005 e terminou no dia seguinte com o anúncio da eleição do cardeal Joseph Ratzinger, então com 78 anos, para substituir o falecido João Paulo II. Os 115 cardeais que elegeram Bento XVI se reuniram 16 dias após a morte do “Papa peregrino” que ficou mais de 27 anos no Trono de Pedro. Ratzinger já era apontado como favorito para assumir a Igreja por sua proximidade com João Paulo II.
No dia 18 de abril as portas da Capela Cistina se fecharam e, até o meio do dia seguinte, a única comunicação com o mundo exterior foram quatro sinais de fumaça. Enquanto os cardeais votavam, centenas de pessoas faziam vigília na Praça São Pedro de olho na chaminé onde a fumaça anunciava o resultado da última votação. Por três vezes a fumaça era preta, indicando que novo Sumo Pontífice ainda não estava eleito.
“No primeiro dia ficamos calmos, pois é improvável sair o nome no primeiro dia. Mas partir do segundo dia a expectaria era grande e fazíamos vigília na praça para estarmos bem próximo aos cardeais, na oração”, afirma o padre Adeilson Santos, da Arquidiocese de Aracaju, no Sergipe. Na época, Santos estava em Roma trabalhando em uma paróquia nos Trastevere. “Estar em Roma foi uma grande graça de Deus, pois a espera do novo Papa nos leva a amar mais a igreja e consequentemente a minha vocação sacerdotal”, diz.
CONCLAVE DE ABRIL DE 2005
CARDEAIS ELEITORES
115
Europa
58
América Latina
21
América do Norte
14
África
11
Ásia
11
Oceania
2
Antes da fumaça branca contrariar o ditado que diz que, num conclave, “quem entra papa sai cardeal”, o mundo olhou para o topo da Capela Cistina três vezes. Em uma delas, algumas emissoras de televisão que transmitiam imagens da pequena chaminé chegaram a anunciar que o novo papa estava eleito. A cor inicialmente cinza da fumaça enganou muita gente. “A cada momento quando a fumaça saía, todos ficávamos apreensivos, pois quando se está muito distante da praça é difícil discernir a cor”, lembra o padre Adeilson.
O brasileiro Odilo Scherer, filho de alemães, está entre os nomes mais cotados para a sucessão do papa Bento XVI. Segundo a rede americana 'NBC', o atual arcebispo de São Paulo, de 63 anos, é considerado um católico moderado pelo Vaticano e possui grande apoio de dois grupos representativos da Igreja: a Congregação para o Clero e o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização
Foto: AFP
Na foto, o americano Timothy Dolan aparece em jantar entre os dois candidatos à presidência dos Estados Unidos nas últimas eleições: Barack Obama e Mitt Romney. Aos 63 anos, o arcebispo de Nova York é considerado um dos nomes mais carismáticos do catolicismo na atualidade, apesar da linha conservadora
Foto: AFP
Na foto, o italiano Angelo Scola aparece ao lado de Bento XVI no 7º Encontro Mundial de Famílias. O arcebispo de Milão, de 71 anos, já era considerado um dos favoritos a assumir o papado quando João Paulo II faleceu. Ele é chefe de uma uma fundação que visa promover a compreensão entre muçulmanos e cristãos
Foto: AFP
Ao lado ex-premiê italiano Silvio Berlusconi na foto, o italiano Angelo Bagnasco, de 70 anos, é o atual arcebispo de Gênova. Em 2007, recebeu ameaças de morte após comentários contrários ao casamento homossexual
Foto: AFP
Aos 64 anos, o ganês Peter Turkson é o atual presidente do Pontifício Conselho de Justiça e Paz do Vaticano. Perguntado sobre o crescimento da AIDS na África, ele disse que abstinência é uma solução melhor do que o uso de camisinha. Segundo a 'NBC', Turkson declarou, anos atrás, que o primeiro Papa negro teria "uma vida dura" e que não teria interesse na condição
Foto: AFP
Ex-arcebispo do Quebec, o canadense Marc Ouellet é o atual líder da Congregação de Bispos. Aos 68 anos, ele fala seis línguas e, por ter morado uma década na Colômbia, possui fortes laços com a América Latina. Em 2010, disse que o aborto é "um crime moral", mesmo em casos de estupro. Apesar do favoritismo, em 2011 ele declarou que se tornar papa deveria ser "um pesadelo"
Foto: Reuters
Outro forte candidato da América Latina é o argentino Leonardo Sandri. Aos 69 anos, o filho de italianos tem longa carreira diplomática no Vaticano e foi bastante próximo do papa João Paulo II
Foto: AP
Aos 70 anos, o italiano Gianfranco Ravasi é presidente do Pontifício Conselho da Cultura. A 'NBC' destaca o lado moderno do religioso, que tem um blog e já retuitou mensagens de Amy Winehouse, além de ter criticado publicamente padres que fazem "sermões chatos"
Foto: AFP
Um dos nomes favoritos nas casas de apostas, o nigeriano Francis Arinze é o prefeito Emérito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Em 2003, foi alvo de protestos após associar homossexualidade a pornografia em uma palestra na Universidade americana de Georgetown
Foto: AFP
Apesar de só ter se tornado cardeal em 2012, o filipino Luis Tagle, de 55 anos, trabalhou com Bento XVI na Comissão Teológica Internacional e é um dos nomes mais fortes da Igreja atualmente. Na foto, um filipino em Manilla prega seu quadro ao lado do atual papa como indicação de que ele será o sucessor
Foto: AP
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“Mas no dia 19 de abril de 2005, lembro-me como se fosse hoje: havíamos combinado com os jovens da paroquia para irmos juntos acompanhar a eleição do Papa e, para a nossa surpresa, a fumaça que saiu não era preta, mas também não era branca, causando uma serie de duvidas em todos”, conta. A angústia custou a passar. O relógio marcava 17h53 em Roma, 12h53 no Brasil. A cor da fumaça não era clara e os fiéis aguardavam que os sinos começassem a tocar para ter a confirmação. Isso só aconteceu às 18h05 (13h05 no Brasil), quase oito minutos depois, causando uma explosão de alegria entre os católicos que estavam na praça.
“Imediatamente saímos para o Vaticano. Grande foi o congestionamento, mas nós fomos a pé, correndo para chegarmos na Praça São Pedro... Segundos depois ouvimos o anuncio do Papa Bento XVI”, conta Adilson. Menos de 40 minutos depois do badalar dos sinos confirmar que a Igreja Católica tinha um novo papa, veio o anúncio oficial, em latim: “Annuntio vobis gaudium magnum; Habemus Papam: Eminentissimum ac reverendissimum Dominum, Dominum Joseph, Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinalem Ratzinger... Qui sibi nomen imposuit Benedicto XVI”, anunciou o cardeal chileno Jorge Medina Estévez.
Imediatamente Bento XVI apareceu no balcão e fez, de improviso, o seu primeiro discurso como Sumo Pontífice. "Caros irmãos e irmãs, depois do grande Papa João Paulo II, os senhores cardeais me escolheram, eu, um simples e humilde trabalhador das vinhas do Senhor", foram suas primeiras palavras. "O fato de que o Senhor saiba trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes me consola, e principalmente me entrego às suas orações, na felicidade do Cristo ressuscitado, confiando em Sua ajuda constante", completou.
O ritual deve ser exatamente o mesmo este ano, após os cardeais escolherem o substituto de Bento XVI. Há dúvidas, porém, sobre o tempo que a reunião pode durar. Nada que acontece dentro da Capela Cistina durante o conclave é divulgado. A fumaça que anuncia o resultado, inclusive, é produzida pela queima dos votos dos cardeais.
Na juventude, Joseph Ratzinger serviu como assistente de forças militares alemãs durante a Segunda Guerra Mundial. Nesta foto, de 1943, ele tinha 16 anos
Foto: AFP
Em 1952, durante missa na Alemanha
Foto: AP
Nesta foto, de 1959, Joseph Ratzinger posa ao lado de um piano em um escritório. Na época, Ratzinger, com 32 anos, era professor de teologia dogmática em Freising, na Bavária
Foto: AFP
Nos anos 1970, antes de se tornar cardeal
Foto: AP
Em maio de 1977, Joseph Ratzinger foi ordenado arcebispo de Munique e Freising pelo bispo de Berlim, o cardeal Alfred Bengsh. Foi um dos passos que o levariam ao papado em 19 de abril de 2005
Foto: AFP
Então cardeal, Joseph Ratzinger participa de missa ao lado da Madre Teresa no 85º dia dos católicos alemães, em Freiburg. O evento ocorreu de 13 a 19 de setembro de 1978
Foto: AP
Nesta foto de 1979, Joseph Ratzinger posa ao lado do papa João Paulo II. Em 1981, Ratzinger passou a cumular cargos na Igreja Católica Romana. Foi nomeado líder da Congregação para a Doutrina da Fé e presidente da Comissão Bìblica Pontífica e da Comissão Teológica Internacional
Foto: AP
Em 1994, ratzinger já gozava de fama entre católicos. Nesta imagem, feita em junho, ele autografa uma publicação no aniversário de 1240 anos da cidade alemã de Fulda
Foto: AFP
Em 2005, Ratzinger foi fotografado cumprimentando o papa João Paulo II, que morreria no mesm oano
Foto: Osservatore Romano / EFE
Em 18 de outubro de 2003, Ratzinger acompanhava o papa João Paulo II no aniversário de 25 anos da eleição de João Paulo. Cardeais do mundo inteiro compareceram ao evento no Vaticano
Foto: AFP
Em 8 de abril de 2005 o cardeal Ratzinger (centro) passa em frente ao caixão de João Paulo II na praça São Pedro, no Vaticano. Ratzinger já era um dos líderes mais importantes do catolicismo
Foto: Filippo Monteforte / AFP
Dias depois de abençoar o caixão de João Paulo II, Ratzinger acena para a multidão pela janela da Basílica de São Pedro, agora como o Papa eleito, no dia 19 de abril de 2005
Foto: Patrick Hertzog / AFP
Em 24 de junho de 2005, um dos primeiros atos políticos do Papa Bento XVI, que visitou o presidente italiano Carlo Azeglio Ciampi. Na foto, ele acena para o público ao passar pela guarda Corazzieri (guarda montada presidencial italiana), na frente do palácio presidencial de Quirinale
Foto: Giulio Napolitano / AFP
Papa Bento XVI acena para peregrinos de um barco cruzando o rio Rhine em Colônia, sua terra natal, em 18 agosto de 2005. Essa foi a primeira visita de Joseph Ratzinger como o Papa ao local emque nasceu. Mais de 400 mil jovens católicos de cerca de 200 países compareceram ao encontro
Foto: Patrick Hertzog / AFP
No Brasil, em 11 de maio de 2007, o Bento XVI compareceu à missa pela canonização do Frei Galvão no Campo de Marte, em São Paulo. Quase um milhão de pessoas compareceram à cerimônia que canonizou o primeiro santo nascido no Brasil
Foto: Arturo Mari/Osservatore Romano / AFP
Na véspera de completar 82 anos, o Papa acena para peregrinos na praça São Pedro no dia 15 de abril de 2009, ao lado do seu secretário, o bispo George Gaenswein
Foto: Alberto Pizzoli / AFP
Na sua segunda passagem pela África, Bento XVI abençoa uma criança no seminário de São Gall, em Ouidah. A foto foi feita em 19 de novembro de 2011
Foto: Vincenzo Pinto / AFP
Ao final do Angelus de 2012, no dia 29 de janeiro, Bento XVI olha para a pomba que soltou de uma janela no Vaticano. A imagem foi capturada pelo setor de imprensa do Pontífice
Foto: Osservatore Romano / AFP
Na sua última aparição pública antes do anúncio da renúncia, no domingo, 10 de fevereiro de 2013, o Papa Bento XVI conduziu a oração do Angelus
Foto: Gregorio Borgia / AP
Papa Bento XVI é cumprimentado pelo cardeal Angelo Sodano, decano do colégio de cardiais da Igreja Católica, logo após o anúncio da renúncia neste dia 11 de fevereiro
Foto: Osservatore Romano / AP
Dois dias após o surpreendente anúncio, o Papa rezou a tradicional missa de Quarta-feira de Cinzas
Foto: Stefano Rellandini / Reuters
Mesmo após anunciar a saída do Trono de Pedro, Bento XVI seguiu com a agenda normal. No domingo, 23 de fevereiro, o Papa recebeu o presidente italiano, Giorgio Napolitano, em uma audiência no Vaticano.
Foto: AP
Na quarta-feira, 27 de fevereiro, um dia antes de renunciar, Bento XVI participou de sua última audiência pública como Sumo Pontífice
Foto: AFP
Bento XVI abençoa bebê durante desfile de papamóvel ao chegar à Praça São Pedro
Foto: Reuters
Cerca de 150 mil pessoas ocuparam a Praça São Pedro para acompanhar a cerimônia de despedida do Papa
Foto: AFP
Em seu pronunciamento, Bento XVI afirmou que, apesar de deixar suas atividades oficiais, seguirá acompanhando o caminho da Igreja. "Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e inovação, mas com uma profunda serenidade de espírito", disse