Nos EUA, Giorgia Meloni tenta negociar tarifas alfandegárias com Trump

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni se encontra nesta quinta-feira (17) na Casa Branca com o presidente americano Donald Trump, em Washington. Durante a reunião, serão discutidos temas como o comércio de gás, armamento e as novas tarifas alfandegárias impostas pelos EUA. A premiê receberá o vice-presidente americano, JD Vance, nesta sexta-feira (18) em Roma.

Gina Marques, correspondente da RFI na Itália

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Giorgia Meloni pretende usar suas boas relações com Donald Trump para encontrar uma solução para o conflito tarifário entre Estados Unidos e União Europeia. Ambos têm pontos em comum: são políticos de extrema-direita, nacionalistas e populistas que defendem a expulsão de imigrantes ilegais. Logo após sua reeleição no ano passado, o presidente americano elogiou a premiê italiana, e disse que ela era "uma líder e pessoa fantástica", antes de convidá-la para sua posse em janeiro.

Foi Meloni quem propôs a Trump o encontro desta quinta-feira. A primeira-ministra reflete o medo da Itália diante da perspectiva de perder seus laços historicamente próximos com os Estados Unidos, desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Ao contrário de outros líderes europeus, a premiê acredita que ainda é possível argumentar com Trump e que suas ameaças comerciais são apenas uma tática de negociação. Por um lado, Meloni espera que a Itália, terceira maior economia da UE, tenha mais peso dentro do bloco dominado pelo eixo franco-alemão. Por esse motivo, ela espera ser vista como a líder que constrói uma ponte entre a Europa e os Estados Unidos.

União Europeia na Expectativa

O envolvimento pessoal de Meloni com Trump desagrada outros líderes da União Europeia. Mas, enquanto o bloco enfrenta uma batalha comercial potencialmente desastrosa, alguns líderes mais cautelosos estão se convencendo de que ela pode ser a única chefe de um governo europeu que o presidente americano está disposto a ouvir.

A premiê italiana e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, conversaram esta semana sobre esta viagem. Ursula von der Leyen anunciou que "acolhe todas as ações dos Estados-membros", que ela "coordena de perto", reiterando que "a competência para negociar sobre as tarifas" cabe à União Europeia.

O bloco europeu quer evitar que cada país-membro negocie por si o abatimento das tarifas para os próprios produtos exportados. Por exemplo, a Itália barganharia o preço da mozzarella no mercado americano, a Espanha o preço do azeite, a Holanda o preço das flores e assim por diante.

Negociar separadamente dividiria a União Europeia e alguns líderes europeus, como o presidente francês Emmanuel Macron, alertaram que o objetivo de Trump é dividir os países da UE e pressioná-los a negociar acordos bilaterais com o governo americano.

Para esses líderes europeus, a viagem de Meloni parece suspeita, após ela ter frustrado aliados da União Europeia com sua silenciosa resistência aos planos de rearmamento de todo o bloco, enquanto Trump começava a retirar o apoio à defesa da Ucrânia contra a guerra de agressão da Rússia, que já dura três anos.

O que Pretende Trump?

Donald Trump é mundialmente conhecido como imprevisível. Em suas próprias palavras, o presidente americano declarou que "líderes subservientes" tentam se aproximar dele para negociar. Trump quer vender gás e armas para a Itália. No entanto, o orçamento italiano para a defesa é pouco menos de 2% do PIB. A Itália não é autossuficiente em termos de energia e importa gás de outros países, entre eles a Rússia, Argélia, Catar e Estados Unidos, sendo que o gás americano custa mais caro.

O presidente americano quer também que, nas relações comerciais, a Itália escolha entre Estados Unidos ou China. Em 2019, o então chefe de governo italiano, Giuseppe Conte, assinou um acordo com a China para a nova Rota da Seda, mas em 2023 a premiê Meloni interrompeu este acordo, mantendo aberto o diálogo. Entre Washington e Pequim, a primeira-ministra italiana já deixou claro que sua preferência não é o país asiático.

Visita de Vance a Roma

Durante sua viagem de três dias à Itália, que começará na sexta-feira (18), o vice-presidente americano JD Vance vai se encontrar com a primeira-ministra Giorgia Meloni e com outros políticos italianos.

A visita inclui o Vaticano, onde será recebido pelo Secretário de Estado da Santa Sé, o cardeal Pietro Parolin. Vale lembrar que Vance se converteu ao catolicismo em 2019. Ele gostaria de encontrar o papa, mas a audiência com o pontífice não foi confirmada. Francisco tem posições opostas às de Donald Trump e seu governo. O papa é a favor da inclusão de imigrantes, por exemplo.