Moscou mantém linha dura: jornais franceses analisam fracasso das conversas com emissário de Trump
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, mencionou "alguns avanços" nas negociações entre Washington e Moscou para tentar encontrar um fim à guerra na Ucrânia. No entanto, após cinco horas de discussões, a reunião de terça-feira (2), entre o presidente russo, Vladimir Putin, o emissário americano, Steve Witkoff, e o genro de Donald Trump, Jared Kushner, terminou sem "nenhum compromisso" sobre a questão-chave do conflito: a concessão dos territórios ucranianos ocupados pela Rússia.
O encontro no Kremlin foi considerado "útil" pelo conselheiro diplomático russo. "Algumas propostas americanas podem ser discutidas", disse Yuri Ushakov a repórteres.
O principal negociador de Kiev nas conversas para pôr fim à guerra na Ucrânia, Rustem Umerov, se reunirá com autoridades europeias em Bruxelas nesta quarta-feira. Na sequência desse encontro, Umerov e o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia, Andriy Gnatov, "iniciarão os preparativos para uma reunião com os enviados do presidente Trump aos Estados Unidos", detalhou o presidente Volodymyr Zelensky.
Embora Marco Rubio tenha mencionado "alguns avanços", a análise da imprensa francesa indica que as negociações em Moscou pouco alteraram o impasse. Para os principais jornais, a ausência de compromissos concretos confirma que as divergências sobre territórios e garantias de segurança continuam bloqueando qualquer perspectiva de paz.
"O Kremlin brinca de gato e rato com o emissário de Trump", afirma o jornal Les Echos. Para o diário, a conclusão da reunião não causa nenhuma surpresa, já que "nada indicava que os principais pontos de atrito entre Kiev e Moscou seriam superados" após o encontro.
O jornal econômico salienta que, além da concessão dos territórios ucranianos ocupados pela Rússia, outro ponto de atrito são as eventuais garantias de segurança à Ucrânia que seriam fornecidas pelos Estados Unidos após o fim da guerra. No entanto, Les Echos diz que Moscou recusa essa proposta e insiste na chamada 'desnazificação' do regime ucraniano, além de outras medidas de subjugação de Kiev.
O Le Figaro demonstra ceticismo quanto à possibilidade de qualquer recuo por parte da Rússia. "Seria surpreendente que Putin renunciasse ao que considera prioridades", diz, ainda que o presidente russo tenha, nos últimos meses, oferecido "garantias diplomáticas" aos Estados Unidos. Para o diário, ninguém sabe até o momento o que restará do plano de paz original defendido por Donald Trump e se Putin está realmente disposto a aceitar algum compromisso.
O jornal Libération destaca a disposição de Putin em manter a Rússia em guerra. Antes da reunião, o presidente russo afirmou que não tem a intenção de atacar, mas, se a Europa "começar", a Rússia está preparada para um conflito. Esta é a retórica belicista que tem sido repetida por Putin à população russa. Ele costuma dizer que a Rússia foi atacada pela Ucrânia e não o inverso, e agora insinua que os europeus estão buscando a guerra e não a paz.
Na avaliação do Libération, a violência dessas declarações contrasta com as imagens de Putin e Witkoff sorrindo e trocando cumprimentos durante o encontro no Kremlin.