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Fleur Breteau: a ativista que politizou o câncer e desafiou a Assembleia Nacional francesa

Em um momento de intensa polarização política na França, uma jovem se tornou o símbolo da resistência contra a lei Duplomb, texto que favorece a agricultura intensiva e autoriza o uso de um contestado pesticida. Fleur Breteau, diagnosticada com seu segundo câncer de mama, protestou indignada durante a votação da lei na Assembleia Nacional francesa, no dia 8 de julho de 2025, em uma cena que viralizou. Desde então, a ativista se tornou uma das principais figuras na luta contra essa lei.

21 jul 2025 - 15h53
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Em um momento de intensa polarização política na França, uma jovem se tornou o símbolo da resistência contra a lei Duplomb, texto que favorece a agricultura intensiva e autoriza o uso de um contestado pesticida. Fleur Breteau, diagnosticada com seu segundo câncer de mama, protestou indignada durante a votação da lei na Assembleia Nacional francesa, no dia 8 de julho de 2025, em uma cena que viralizou. Desde então, a ativista se tornou uma das principais figuras na luta contra essa lei.

"Vocês são aliados do câncer", gritou Fleur aos parlamentares durante o debate sobre o uso de um pesticida acusado de ter um impacto negativo na saúde dos seres humanos.
"Vocês são aliados do câncer", gritou Fleur aos parlamentares durante o debate sobre o uso de um pesticida acusado de ter um impacto negativo na saúde dos seres humanos.
Foto: AFP - GUILLAUME BAPTISTE / RFI

Jeanne Richard, da RFI em Paris

"Vocês são aliados do câncer", gritou Fleur Breteau aos parlamentares, sob uma chuva de aplausos. As imagens de sua intervenção rapidamente se espalharam pela imprensa e nas redes sociais, transformando-a em uma das principais figuras da oposição à lei Duplomb. Fundadora do coletivo Cancer Colère, ela se tornou a voz de milhares de pessoas que veem na lei uma ameaça à saúde pública e ao meio ambiente.

Apesar das regras que proíbem intervenções durante a votação, Fleur decidiu se levantar e confrontar os parlamentares. "Eu sabia que era a única que poderia falar, pois era a única com a aparência de alguém que está lutando contra o câncer", resumiu a francesa, sujo crânio raspado e o rosto magro testemunham os efeitos da quimioterapia que enfrenta atualmente. "Era minha responsabilidade mostrar que a conversa não estava encerrada."

Fleur havia sido convidada, juntamente com outros representantes da sociedade civil, apenas para acompanhar o debate. No entanto, ao assistir às falas dos parlamentares, diz ter ficado chocada com o grau manipulação das informações por parte de alguns deputados, além da ministra da Agricultura, Annie Genevard. "Eu não podia deixar que o voto terminasse assim", disse Fleur em entrevista à RFI. "Era necessário que a sociedade civil tivesse a última palavra."

"Meu sangue ferveu"

Sensível aos desafios ambientais e às desigualdades sociais, ela encontrou uma nova dimensão para sua luta durante os tratamentos de quimioterapia. Nas salas de espera dos hospitais, cruzou com muitas pessoas que, assim como ela, estavam em tratamento contra o câncer. A maioria acreditava que suas doenças estavam ligadas ao envenenamento generalizado causado por pesticidas e outros produtos tóxicos. No entanto, muitas se sentiam impotentes, repetindo a frase desoladora: "Não há nada que possamos fazer".

Um dia, enquanto estava em sessão de quimioterapia, Fleur assistiu à televisão e viu os senadores franceses comemorando a aprovação da lei Duplomb, que reautoriza o uso de pesticidas neonicotinoides. A visão dos políticos celebrando uma medida que, na opinião de muitos, agrava a crise de saúde pública, foi o estopim para sua indignação.

"Meu sangue ferveu", lembra Fleur. "Eu não podia aceitar que estivéssemos adicionando mais veneno ao nosso ambiente enquanto lutávamos para nos curar. Foi nesse momento que decidi que não podia mais ficar em silêncio."

A jovem ativista vê em sua luta uma forma de denunciar as causas estruturais das epidemias de câncer e outras doenças relacionadas aos pesticidas.

"Não tenho vergonha de minha doença. A vergonha é dos políticos que votam leis que agravam o problema. Eu existo com esse câncer e encarno um sistema falho."

Mais de 1 milhão de pessoas mobilizadas

Apesar da mobilização de mais de 1,2 milhão de pessoas que assinaram uma petição contra a lei Duplomb, a luta está longe de terminar. "Sabemos que a batalha será longa e feroz", diz Fleur. "Mas abrimos a porta e não vamos recuar."

A lei, que reautoriza o uso de acetamiprida, um pesticida neonicotinoide, é criticada por sua toxicidade para polinizadores como as abelhas e pelos riscos à saúde humana. A petição, lançada pela estudante Eléonore Pattery, chamou a lei de "aberração científica, ética, ambiental e sanitária".

A mobilização cidadã é inédita e representa um sinal forte da sociedade civil para os parlamentares e o governo. "Este é nosso momento de verdade", afirma Fleur. "Sabemos que a luta será difícil, mas não vamos desistir."

A lei Duplomb está sendo analisada pelo Conselho Constitucional, que deve emitir uma decisão até 10 de agosto. Enquanto isso, a pressão sobre o presidente Emmanuel Macron para que não promulgue o texto continua crescendo.

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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