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Europa

Erdogan reúne multidão e diz que precisou "limpar" praça em Istambul

16 jun 2013 - 09h25
(atualizado em 4/12/2013 às 15h21)
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16 de junho - Multidão se reúne para acompanhar discurso de Erdogan em Istambul
16 de junho - Multidão se reúne para acompanhar discurso de Erdogan em Istambul
Foto: AFP

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, reuniu neste domingo dezenas de milhares de partidários em Istambul, após uma noite de violentos confrontos provocados na cidade pela retirada à força de manifestantes contrários ao governo de seu último bastião. Erdogan declarou que "limpar" a Praça Taksim era seu dever.

"Eu disse que nós tínhamos chegado ao fim. Tinha ficado insuportável. Ontem, a operação foi realizada e (a Praça Taksim e o Parque Gezi) foram limpas (...) Era meu dever de primeiro-ministro", afirmou Erdogan.

"Não deixaremos essa praça com terroristas", afirmou, referindo-se aos movimentos políticos clandestinos envolvidos nas manifestações na Praça Taksim.

"Este país não é uma terra comum. Você não pode organizar um protesto onde quiser. Você pode fazer isso onde for autorizado", ressaltou o chefe de governo, lembrando que o Parque Gezi e a Praça Taksim não são "propriedade privada" dos manifestantes.

Durante mais de duas horas de um discurso acusador, Erdogan criticou a imprensa internacional, acusando-a de cúmplice dos "terroristas", o Parlamento Europeu que passa dos "limites" e os "saqueadores" que destroem o país.

O vice-primeiro-ministro, Huseyin Celik, justificou a evacuação do parque. "O governo não podia deixar esta ocupação continuar eternamente", disse Celik neste domingo. "Esse pesadelo tinha que acabar", completou.

esalojados no sábado à noite do Parque Gezi com gás lacrimogêneo e jatos d'água, os manifestantes prometeram voltar neste domingo à Praça Taksim, berço do movimento que agita a rua turca há mais de duas semanas, o que dever desencadear novos episódios de violência.

Na manhã deste domingo, um grande esquema policial interditava os acessos à praça, entregue ao serviço de limpeza da cidade que eliminava as últimas marcas da violência noturna. No bairro de Sisli, a algumas centenas de metros da Praça Taksim e do Parque Gezi, a polícia dispersou com jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo jovens que ainda resistiam durante a manhã.

Novos protestos

Simultaneamente, as forças de ordem continuavam enfrentando grupos de manifestantes ao redor de toda a Praça Taksim. Em várias ocasiões, os policiais usaram bombas de gás lacrimogênio e jatos d'água para impedir que se aproximassem.

16 de junho - Manifestante segura bandeira enquanto policiais usam jatos de água para dispersar manifestação em Ancara
16 de junho - Manifestante segura bandeira enquanto policiais usam jatos de água para dispersar manifestação em Ancara
Foto: AFP

Em Ancara, a polícia também enfrentava centenas de manifestantes que foram dispersados com muito gás lacrimogêneo.

Após uma primeira concentração gigantesca no sábado em Ancara, o chefe do governo organizou uma nova demonstração de força à tarde em um parque de Istambul, a cerca de dez quilômetros da Praça Taksim.

Dezenas de milhares de simpatizantes de seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, oriundo do movimento islamita) participaram do ato.

Violência

No 15º dia da crise, Erdogan passou para a ação na noite de sábado com o objetivo de acabar com o movimento de contestação após a rejeição dos ocupantes do Parque Gezi em deixar seu reduto, apesar da promessa do governo de suspender seus projetos de remodelação até que a justiça tome uma decisão definitiva.

Duas horas depois de um novo ultimato, as unidades anti-motins da polícia retomaram o controle do parque que haviam deixado, sufocando os ocupantes com uma nuvem de gás lacrimogêneo.

"Eles entraram à força, com muito gás. Eles agrediram até as mulheres", contou à AFP Ader Tefiq, um dos manifestantes. "Eu estava dentro da barraca-hospital (...), eles lançaram bombas de gás lacrimogêneo e dezenas de policiais entraram", disse Elif, uma psicóloga de 45 anos.

Segundo a coordenação dos manifestantes, batizada Solidariedade Taksim, centenas de pessoas ficaram feridas durante a operação. O governador de Istambul, Huseyin Avni Mutlu, indicou neste domingo 44 feridos.

O vice-primeiro-ministro, Huseyin Celik, justificou a evacuação do parque. "O governo não podia deixar esta ocupação continuar eternamente", disse Celik neste domingo. "Esse pesadelo tinha que acabar", completou.

Logo depois da nova evacuação do parque, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas de Istambul para tentar "retomar" a Praça Taksim. Ainda à noite, policiais agiram com gás lacrimogêneo, jatos d'água e balas de borracha para dispersar a multidão em várias vias da cidade.

Milhares de pessoas que tentavam passar do lado asiático para ao europeu do Bósforo foram dispersadas. Em Ancara e Izmir (oeste), milhares de manifestantes também se reuniram durante a noite para denunciar a intervenção da Polícia, mas não houve incidentes.

No início da onda de contestação, em 31 de maio, a Polícia agiu com violência para dispersar militantes ambientalistas que protestavam contra a destruição anunciada do Parque Gezi e de seus 600 plátanos. A ira provocada por essa operação suscitou a maior revolta contra o governo islâmico conservador desde a sua chegada ao poder em 2002.

Nas maiores cidades do país, dezenas de milhares de manifestantes exigiram a renúncia de Erdogan, acusado de autoritarismo e de querer "islamizar" a sociedade turca. Parte da juventude turca critica, principalmente, os projetos de leis sobre as limitações ao direito ao aborto e a utilização de pílulas do dia seguinte, assim como a proibição da venda de álcool após as 22h00.

De acordo com o último registro do sindicato dos médicos turcos, quatro pessoas morreram e cerca de 7 mil ficaram feridas desde o início da contestação, em 31 de maio.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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