Em mensagem de Ano-Novo, chanceler alemão alerta para 'plano da Rússia' que visa atingir Europa
Em seu pronunciamento de final de ano divulgado nesta quarta-feira (30), Friedrich Merz lembrou que o risco de um conflito no continente deve incitar a Europa a defender seus interesses para garantir a paz e a prosperidade em 2026. A agressão da Rússia, o protecionismo global e as mudanças nas relações com os Estados Unidos são os principais desafios que serão enfrentados pelos europeus no próximo ano, citou Merz.
Segundo o chanceler alemão, a guerra "terrível" entre a Rússia e a Ucrânia representa uma ameaça direta à liberdade e à segurança do continente. "Está cada vez mais claro que a agressão da Rússia faz parte de um plano que visa atingir toda a Europa", afirmou, acrescentando que a Alemanha sofre diariamente atos de sabotagem, espionagem e ciberataques.
Merz assumiu o cargo de chanceler em maio deste ano e ajudou a coordenar os esforços da União Europeia para apoiar a Ucrânia após a invasão russa iniciada em fevereiro de 2022. Desde 2023, o governo alemão também vem aumentando seus gastos com defesa e armamentos para melhorar sua capacidade de dissuasão.
Em seu discurso, o dirigente alemão também lembrou que o protecionismo na economia mundial representa um desafio adicional para a Europa, que é dependente de matérias-primas importadas. Segundo ele, esse fator é cada vez mais usado como instrumento político contra o continente.
A Alemanha tenta reduzir sua dependência da China, revitalizar a economia voltada para exportações e gerenciar ao mesmo tempo as tensões comerciais globais provocadas pela política tarifária do presidente americano, Donald Trump
Sem ajuda dos EUA
A relação com os Estados Unidos, que tradicionalmente garante a segurança da Alemanha e da Europa, sofreu um golpe desde o retorno de Trump à Casa Branca em janeiro passado. "Para nós, europeus, isso significa que devemos defender e fazer valer nossos interesses por nós mesmos com mais firmeza", disse o chanceler alemão.
De acordo com Merz, a Europa deve ser guiada pela "confiança e não pelo medo". O ano de 2026 pode ser "marcante para nosso país e para a Europa. Pode ser um ano em que a Alemanha e a Europa, com uma nova força, retomem décadas de paz, liberdade e prosperidade", frisou.
O chanceler pediu apoio para projetos importantes e disse acreditar que o país tem "os meios para enfrentar cada um desses desafios por conta própria. Não somos vítimas de circunstâncias externas. Não somos um brinquedo nas mãos das grandes potências", afirmou.
Política interna
Merz também comentou os desafios internos, como o avanço da extrema direita no país, e disse que os processos democráticos são às vezes difíceis e controversos. "Mas é a única maneira de obter resultados apoiados por uma ampla maioria em nosso país", assegurou.
Ele ainda citou os estímulos à economia e reformas sociais. Um "atraso acumulado em matéria de reformas" paralisaria o potencial das empresas alemãs, inclusive nas exportações. Com o envelhecimento da sociedade e a aposentadoria das gerações mais numerosas, será essencial criar em 2026 "um novo equilíbrio em nossos sistemas de seguridade social, que concilie de forma justa as preocupações de todas as gerações", declarou.
"Teremos de adotar reformas fundamentais no próximo ano para que nossos sistemas sociais permaneçam financeiramente viáveis a longo prazo", afirmou.
Ataques na Ucrânia
Apesar dos esforços diplomáticos para encerrar a guerra na Ucrânia, as já difíceis negociações do plano de paz proposto pelos EUA para a Rússia recentemente sofreram um revés, o que preocupa os líderes europeus.
Os russos acusam os ucranianos de um ataque com drones a uma residência do presidente russo, Vladimir Putin, e Moscou prometeu rever sua posição nas negociações para encerrar o conflito. Kiev diz que não há provas que sustentem as acusações russas.
Os combates continuam e quatro pessoas, incluindo três crianças, ficaram feridas em ataques russos na noite de terça (30) para quarta-feira em Odessa, na Ucrânia, informou no Telegram Serguiï Lyssak, chefe da administração militar da cidade.
"Drones atacaram estruturas residenciais, logísticas e energéticas em nossa região", afirmou no Telegram Oleh Kiper, chefe da administração militar regional, acrescentando que os bombardeios danificaram prédios e provocaram incêndios.
Duas crianças de 8 e 14 anos, assim como um bebê de 7 meses, ficaram feridos. Um homem de 42 anos está em estado grave, segundo Serguiï Lyssak.
Está prevista para 6 de janeiro, na França, uma reunião com líderes dos países aliados de Kiev. Antes disso, em 3 de janeiro, haverá um encontro na Ucrânia com conselheiros de segurança dos Estados que apoiam Kiev.
Com agências