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Europa

Cameron ordenou cerco britânico a revelações de Snowden, dizem fontes

21 ago 2013 - 10h49
(atualizado às 10h50)
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Dois assessores diretos do primeiro-ministro britânico, David Cameron, pressionaram o jornal The Guardian para entregar ou destruir arquivos digitais secretos fornecidos pelo norte-americano Edward Snowden, disseram fontes políticas nesta quarta-feira.

Primeiro-ministro britânico David Cameron atende a uma coletiva de imprensa durante cúpula de líderes da União Europeia, em Bruxelas. Cameron determinou ao seu principal assessor que buscasse impedir o jornal Guardian de publicar as revelações de Edward Snowden sobre os programas secretos de espionagem dos governos britânico e norte-americano, segundo duas fontes ligadas diretamente ao assunto. 28/06/2013.
Primeiro-ministro britânico David Cameron atende a uma coletiva de imprensa durante cúpula de líderes da União Europeia, em Bruxelas. Cameron determinou ao seu principal assessor que buscasse impedir o jornal Guardian de publicar as revelações de Edward Snowden sobre os programas secretos de espionagem dos governos britânico e norte-americano, segundo duas fontes ligadas diretamente ao assunto. 28/06/2013.
Foto: Francois Lenoir / Reuters

A revelação sobre o envolvimento de Jeremy Heywood e Kim Darroch, respectivamente chefe de gabinete e assessor de segurança nacional, coloca Cameron no centro da tempestade desencadeada pela resposta de Londres ao noticiário envolvendo Snowden, ex-prestador de serviços da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, hoje asilado na Rússia.

Cameron, que está de férias no sudoeste da Inglaterra, não se pronunciou.

No começo de junho, o Guardian revelou, com base em informações vazadas por Snowden, a existência de um programa norte-americano de vigilância eletrônica e telefônica de grande escala que conta com a colaboração dos serviços secretos britânicos.

O Guardian, ativistas da liberdade de expressão e advogados especializados em direitos humanos dizem que o governo britânico cometeu uma agressão ao jornalismo independente quando pressionou o jornal a entregar o material dado por Snowden, e também ao deter, no fim de semana, um brasileiro que fazia conexão em Londres transportando outros arquivos digitais relativos ao mesmo caso.

O editor do Guardian, Alan Rusbridger, disse na terça-feira que depois de publicar essas informações ele foi procurado por "um funcionário de altíssimo escalão que dizia representar as opiniões do primeiro-ministro" e por "figuras das sombras de Whitehall", uma alusão ao bairro governamental em Londres.

A Grã-Bretanha diz que suas agências de segurança atuam de acordo com a lei e que os vazamentos propiciados por Snowden são uma ameaça à segurança nacional.

Rusbridger disse que o jornal foi ameaçado de um processo judicial se não destruísse ou entregasse todos os arquivos fornecidos por Snowden. Dois agentes de inteligência posteriormente supervisionaram a destruição dos discos rígidos na sede do Guardian, mas o editor disse que isso não impedirá o jornal de continuar fazendo revelações, já que havia cópias no exterior.

O principal jornalista envolvido nas revelações, Glenn Greenwald, vive no Rio de Janeiro. O companheiro dele, David Miranda, passou nove horas detido por autoridades britânicas no aeroporto Heathrow, em Londres, e teve confiscados os aparelhos eletrônicos nos quais havia armazenado arquivos entregues a ele por uma emissária de Snowden em Berlim.

Na terça-feira, a Casa Branca disse que não comentaria a destruição do material entregue por Snowden, mas o porta-voz John Earnest disse que seria inimaginável que autoridades dos EUA destruíssem discos rígidos de uma empresa de comunicação para proteger a segurança nacional.

"É muito difícil imaginar um cenário em que isso fosse apropriado", disse ele.

Várias fontes disseram que Heywood e Daroch estavam entre as autoridades que mantiveram contato com o jornal. Heywood é o mais graduado funcionário público da Grã-Bretanha, e principal assessor administrativo de Cameron; Darroch é o principal conselheiro do premiê para questões de segurança nacional.

"O primeiro-ministro pediu ao chefe de gabinete que lidasse com essa questão, isso é verdade", disse uma fonte à Reuters.

"Não se surpreenda de ouvir que (Darroch) também tem envolvimento nisso" afirmou outra fonte.

A secretária do Interior, Theresa May, defendeu as ações do governo. "Acho que as questões de segurança nacional são corretamente tratadas no nível apropriado dentro do governo, e não acho surpreendente que alguém num altíssimo escalão dentro do governo se envolva nessa questão em particular", afirmou ela à BBC.

A advogada de Miranda, Gwendolen Morgan, disse que haverá uma audiência na Alta Corte de Londres na quinta-feira para decidir sobre o pedido de liminar urgente para evitar que autoridades britânicas examinem todos os dados apreendidos de seu cliente e compartilhem com terceiros.

"O objetivo desses procedimentos é proteger a confidencialidade do material jornalístico sensível que foi apreendido", disse Morgan no pedido apresentado ao tribunal.

O Brasil disse ao governo britânico que considerava "injustificável" a detenção do seu cidadão, enquanto Miranda anunciou que entraria com um processo contra a polícia e o governo britânicos acusando-os de abuso de poder no combate ao terrorismo para se apropriarem de material jornalístico sensível.

A opinião pública está dividida sobre o assunto. Uma pesquisa divulgada pela YouGov nesta quarta-feira mostrou que 66 por cento dos entrevistados apoiavam o uso dos poderes pela polícia para deter Miranda, mas 44 por cento acreditavam que a lei foi usada de forma inadequada.

(Reportagem adicional de Mark Hosenball, em Washington; e de Costas Pitas e Michael Holden, em Londres)

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