Em encontro histórico com Trump em Washington, novo chefe líder sírio negocia apoio militar dos EUA
O presidente norte-americano, Donald Trump, recebeu nesta segunda-feira (10), em Washington, o líder sírio Ahmad al-Chareh. Uma visita inédita e importante para o presidente interino da Síria, ex-jihadista e ex-integrante do grupo Estado Islâmico.
O presidente norte-americano, Donald Trump, recebeu nesta segunda-feira (10), em Washington, o líder sírio Ahmad al-Chareh. Uma visita inédita e importante para o presidente interino da Síria, ex-jihadista e ex-integrante do grupo Estado Islâmico.
Sem bandeiras, nem câmeras, mas ainda assim uma visita histórica: o encontro entre Trump e al-Chareh foi um feito inédito para um chefe de Estado sírio e uma consagração para o ex-jihadista. O presidente sírio chegou por volta das 11h30 no horário local (13h30 em Brasília), informou a Casa Branca. No entanto, al-Chareh não passou pelo portão principal, sem direito ao protocolo normalmente reservado aos chefes de Estado e de governo estrangeiros, que o presidente americano costuma receber pessoalmente na entrada.
Os jornalistas também não foram convidados para o início da reunião no Salão Oval, como geralmente ocorre em visitas oficiais.
Na quinta-feira passada, Donald Trump, que se vê como grande pacificador do Oriente Médio, afirmou que seu convidado está "fazendo um trabalho muito bom" na Síria. "É um cara durão. Mas me dei muito bem com ele", disse sobre o encontro que tiveram na Arábia Saudita em maio. Na ocasião, o bilionário de 79 anos descreveu seu homólogo de 43 anos como "forte" e "atraente".
O presidente interino sírio, cuja coalizão islamista derrubou o líder Bashar al-Assad em dezembro de 2024, após quase 14 anos de guerra civil, chegou a Washington no sábado (8). Desde a queda de Assad, o dirigente atua para pôr fim ao isolamento internacional de seu país.
O objetivo da visita histórica é a assinatura de um acordo para integrar a coalizão internacional antijihadista liderada pelos Estados Unidos, segundo o emissário americano para a Síria, Tom Barrack. Os Estados Unidos, por sua vez, planejam estabelecer uma base militar próxima a Damasco "para coordenar a ajuda humanitária e observar os desenvolvimentos entre a Síria e Israel", segundo outra fonte diplomática na Síria.
Na sexta-feira, os Estados Unidos retiraram o dirigente sírio da lista de autoridades ligadas ao terrorismo. Desde 2017 até dezembro passado, o FBI oferecia uma recompensa de 10 milhões de dólares por qualquer informação que levasse à prisão do líder da antiga filial local da Al-Qaeda, o grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
Na quinta-feira, o Conselho de Segurança da ONU também suspendeu as sanções contra Ahmad al-Chareh, por iniciativa dos Estados Unidos.
Síria precisa de meios militares, e EUA podem ajudar
"O novo governo sírio carece de meios militares para enfrentar o Estado Islâmico. Por exemplo, praticamente não há mais helicópteros. Muitos foram destruídos pelos bombardeios israelenses que ocorreram nas semanas seguintes à queda do regime de Assad em 2024", lembra Thomas Pierret, pesquisador e professor da Universidade Aix-Marseille, especialista em Síria. "Portanto, para tudo que envolve meios aéreos, inteligência, imagens de satélite, uso de drones de vigilância, tudo que pode ajudar a combater um grupo como esse, que opera em regiões desérticas de forma clandestina ou semiclandestina, o apoio militar e de segurança dos Estados Unidos é realmente interessante", explicou o pesquisador em entrevista à RFI.
No entanto, Síria e Estados Unidos não haviam rompido completamente suas relações, especialmente após a queda de Assad, que contava com o apoio histórico da Rússia. "Desde a tomada do poder, há uma cooperação de segurança, até mesmo militar, entre o governo sírio e os Estados Unidos, que agora se torna pública. Mas ela não é oficializada", ressalta Pierret. "A Síria não faz oficialmente parte da coalizão, mas já houve operações conjuntas entre soldados americanos e solicitações das forças de segurança sírias, por exemplo, para eliminar líderes do Estado Islâmico que se escondiam no oeste da Síria", analisa.
(Com agências)