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Eleições na Venezuela: O que são os 'pontos vermelhos' e por que Henri Falcón acusa Maduro de compra de votos

A oposição denunciava há meses o chamado 'carnê da pátria', cartão pelo qual o governo concede ajudas diretas, e a promessa de Maduro de entregar um prêmio aos que votassem no último domingo; presidente foi reeleito, mas oposição não reconhece pleito.

21 mai 2018 - 15h55
(atualizado às 16h36)
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Em seu discurso após a reeleição, Maduro voltou a defender o sistema de 'carnês da pátria'.
Em seu discurso após a reeleição, Maduro voltou a defender o sistema de 'carnês da pátria'.
Foto: Reuters

"Todos com o carnê da pátria em mãos", gritava, na manhã de domingo um homem vestido de vermelho a uma fila de pessoas que esperavam sob um sol intenso.

A cena no bairro popular de Petare, no leste da capital, Caracas, se repetia em boa parte da Venezuela durante as eleições presidenciais.

E é um dos motivos pelos quais o candidato de oposição Henri Falcón disse que não reconhece a reeleição de Nicolás Maduro como presidente.

Falcón argumenta que as tendas vermelhas oficiais montadas perto de locais de votação, os chamados "pontos vermelhos", onde voluntários como o homem da cena descrita acima anotavam os nomes dos eleitores e escaneavam o chamado "carnê da pátria" significam compra de votos pelo governo.

O que é o carnê?

Em janeiro de 2017, Maduro anunciou a criação do carnê da pátria, cartão com um código QR que identifica os cidadãos que recebem algum tipo de ajuda social do governo.

Por meio dele, foram entregues também, nos últimos meses, bônus financeiros de ajuda direta.

No dia 13 de maio, Dia das Mães, diversas mulheres se reuníam na Plaza Bolívar, no centro de Caracas, em fila para que um funcionário com um celular escaneasse o cartão.

O prêmio para as mães era de 1,5 milhão de bolívares, uma ajuda equivalente a menos de US$ 2 considerando o câmbio no mercado paralelo - dá para comprar pouco, mas traz algum alívio num país tomado pela hiperinflação.

Durante a campanha, Maduro prometeu entregar aos eleitores que fossem votar, por meio do cartão, um prêmio cuja quantidade não revelou, mas que supõe-se que chegasse a 10 milhões de bolívares.

"É o prêmio da pátria. O cartão protege você e você protege a pátria votando", disse o presidente.

No domingo, Falcón afirmou que "essa promessa do presidente sem dúvida violou o processo".

Tradição

Na Venezuela tem sido habitual, durante os processos eleitorais, a entrega de presentes e incentivos, especialmente por parte do chavismo. A prática foi denunciada repetidas vezes pela oposição.

De acordo com o candidato oposicionista, o cartão e seu registro nos "pontos vermelhos" é uma forma de "controle político e social". Dias antes, ele havia reclamado com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), por considerar que o "prêmio" de Maduro viola o acordo entre os candidatos presidenciais.

A promessa de ajuda do governo mediante o voto também é um dos motivos pelos quais a oposição convocou os eleitores a não participarem do pleito do domingo, por considerar que o processo não foi justo.

"O presidente da República sugeriu a compra de votos e conscientemente brincou com a fome dos mais pobres", afirmou Falcón.

De acordo com o candidato, havia mais de 12 mil pontos vermelhos nos arredores de centros de votação.

"No centro, onde eu votei, havia um (ponto vermelho) apenas 12 metros à frente" disse Falcón, ex-governador do Estado de Lara, que também falou em 142 mil denúncias registradas de tentativas de compra de voto.

"Não reconhecemos esse processo eleitoral como válido, correto, realizado. Para nós, não houve eleições, é preciso realizar novas eleições na Venezuela."

As tendas, que costumam servir para registrar os eleitores de cada partido, não são novas. Mas as vermelhas, parte da máquina de mobilização eleitoral do chavismo, sempre foram mais numerosas.

"Eles existem há 20 anos, são pequenas tendas para agitar o voto partidário. Por que querem criminalizar as pessoas humildes que participam da máquina de mobilização?", disse Maduro, no discurso que fez após ser declarado o vencedor da eleição com uma diferença de 47 pontos percentuais em relação a Falcón.

Cartão para mais de 16 milhões

Maduro afirmou que pretende ampliar o carnê da pátria, que já está disponível para mais de 16 milhões de pessoas, e que a oposição "quis demonizar", segundo o presidente.

Henri Falcón disse que milhare de pessoas chegaram a denunciar o 'auxílio de voto' do governo
Henri Falcón disse que milhare de pessoas chegaram a denunciar o 'auxílio de voto' do governo
Foto: Reuters

Essa crifra é muito superior aos 5,8 milhões de votos que Maduro obteve no domingo - muitas pessoas não são chavistas, mas possuem o carnê para receber ajudas diretas.

Em um ato de campanha realizado na semana passada em Charallave, a uma hora de Caracas, a BBC falou com Dinalia Ávila, uma mulher de 30 anos, sem trabalho e com duas filhas - uma delas com epilepsia.

Sua única fonte de renda são os bônus do governo. Para ela, um dos motivos para votar em Maduro é o receio de que o dinheiro deixasse de chegar caso a oposição vencesse.

Em seguida, de cima do palco, Maduro gritou: "Quem tem o carnê da pátria?" e milhares, incluindo Ávila, demonstravam euforia agitando o documento no ar. "É dando e dando", disse o presidente, repetindo a frase tradicional no país.

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