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Doação de medula une homem e família do bebê que ele salvou

Michael Menafee foi um doador compatível apesar da diferença étnica - algo que surpreendeu os médicos -, salvou a vida do pequeno Jaxson e criou com ele uma conexão que hoje vai além de sangue e osso.

15 jun 2017 - 16h44
(atualizado às 17h21)
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Estatisticamente falando, eles eram um par improvável. Mas depois que Michael Menafee doou sua medula para o pequeno Jaxson Slade, três anos atrás, os dois criaram uma conexão que hoje vai além de sangue e osso.

Foto: Arquivo Pessoal / BBC News Brasil

Quando Menafee chegou ao aeroporto de St John, na ilha canadense de Newfoundland, em abril, ele não sabia o que esperar. O homem de 32 anos, natural de Chicago (EUA), havia viajado mais de 4 mil km para passar a Páscoa com uma família que ele nunca havia conhecido.

Ao ser recebido por estranhos no aeroporto, porém, ele rapidamente percebeu que já era parte da família Slade.

"Eu me senti muito confortável, foi como se nos conhecêssemos há anos", disse ele à BBC em sua casa na Guatemala, onde ele trabalha para o Corpo da Paz dos Estados Unidos.

Em 2014, Menafee doou parte de sua medula para Jaxson Slade, que foi diagnosticado com leucemia mieloide aguda quando ele tinha apenas 13 meses de idade.

Apesar de o procedimento de doação ser doloroso, Menafee disse que é "viável" e que ele se recuperou em duas semanas.

Sua doação foi feita ao hospital da Universidade de Georgetown, em Washington, e Jaxson recebeu o transplante no Hospital Infantil de Toronto. Doador e receptor sequer sabiam o nome um do outro.

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Menafee só soube que Jaxson havia sobrevivido ao transplante quando a mãe do menino, Melissa Slade, pediu seus contatos ao programa responsável pela doação, DKMS, em 2016. Segundo as regras de doação, os participantes precisam esperar dois anos para revelar suas identidades, e apenas se o doador concordar.

Para Melissa Slade, agradecer a Menafee foi tão importante quanto o próprio transplante no processo de cura do filho.

"Eu sou a mãe dele, mas eu não conseguia lhe dar a vida de fato. Foi Michael quem lhe deu o dom da vida", diz a mãe. "Como você agradece a alguém por isso?"

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Quando Jaxson foi diagnosticado com leucemia, em 2013, os médicos disseram que a única coisa que poderia curá-lo seria um transplante de medula. Mas, na ausência de um doador compatível em sua família, Jaxson precisou recorrer a um desconhecido.

Cerca de metade das pessoas na lista de doação não encontram um doador com compatibilidade, mas Jaxson teve sorte. Menafee havia visto um cartaz sobre doação de medula óssea na Universidade do Estado de Indiana, onde ele cursava sua graduação em Saúde Pública.

Menafee sabia quão importante é ser doador voluntário: sua mãe morreu de leucemia em 2006. Mas a maioria das pessoas que doam uma amostra de sangue não são chamadas para doar a medula, de acordo com o DKMS.

Quando Menafee ficou sabendo que havia um menino de um ano de idade precisando de sua medula no Canadá, ficou entusiasmado. Sua compatibilidade surpreendeu os médicos porque Menafee é negro e Jaxson, branco.

Os médicos medem a compatibilidade de medula óssea de acordo com proteínas chamadas de antígenos leucocitários humanos (HLA, na sigla em inglês). Com tantos marcadores HLA diferentes, pode ser especialmente difícil conseguir compatibilidade entre pessoas de raças diferentes.

"Os pacientes têm mais chances de encontrar compatibilidade com um doador da mesma origem étnica", diz David Means, diretor de logística médica do DKMS.

Essa é uma das razões pelas quais os programas de doação estão sempre buscando diversidade entre os voluntários.

Ao descobrir que Jaxson estava vivo e saudável, Menafee diz ter sentido um alívio enorme. Sua própria mãe morreu devido a complicações resultantes de um transplante de células-tronco e ele temia que sua doação não fosse suficiente para salvar Jaxson.

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Mas no final os dois eram um "par perfeito", disse Means à BBC.

"Eu estava surpreso e grato por descobrir que eu tinha uma compatibilidade 10/10, o que é extremamente raro em raças diferentes", diz Menafee.

Depois de os dois lados terem se comunicado regularmente por e-mail, os Slades convidaram Menafee para visitar a família em Newfoundland na Páscoa.

E fez uma festa em casa para recebê-lo. Menafee foi levado para as cidades litorâneas da região, viu icebergs e experimentou a culinária típica da parte atlântica do Canadá.

"Ele realmente se sentiu parte da família, foi uma conexão imediata", diz Slade.

E Jaxson - que agora já tem quase cinco anos - pôde conhecer o homem que salvou sua vida, mesmo sem entender realmente como. Segurando um ursinho de pelúcia branco, Jaxson deu um abraço apertado em Menafee e sorriu, especialmente quando viu que Menafee carregava uma sacola de Mario Brothers com um presente para ele.

Agora, seu câncer está em remissão e há uma chance muito pequena de voltar, diz Slade.

"Você jamais imaginaria isso ao vê-lo hoje. Ele é uma bola de energia que não para nunca".

Menafee e a família Slade não sabiam da existência um do outro até o ano passado e agora eles se falam toda semana. Quando Menafee deixou Newfoundland depois do feriado, ele prometeu voltar.

"Isso não é um adeus, é um até logo", disse.

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